A renda pessoal (personal income) avançou 0,2% m/m em dezembro, em linha com a expectativa do mercado (Bloomberg). Os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) assim como os gastos em termos reais (real personal consumption expenditures) apresentaram retração em dezembro, recuando 0,2% m/m e 0,3% m/m, respectivamente. Por sua vez, a renda pessoal disponível (disposable personal income) avançou 0,3% m/m no mesmo período. O arrefecimento de algumas métricas de gastos mostrou alguma hesitação das famílias americanas em aumentarem os desembolsos justamente no período mais propenso para o varejo (com o Natal e os feriados de final de ano), mesmo na esteira de um aumento de renda.
Em termos reais, a renda pessoal disponível repetiu o resultado de novembro e avançou de 0,2% m/m em dezembro. O consumo de bens registrou recuo expressivo no mês (-0,9% m/m), também repetindo o número de novembro, enquanto o consumo de serviços ficou estagnado em dezembro depois de ter avançado 0,2% m/m no mês imediatamente anterior. Este recuo no gasto com bens continua a ser liderado pelo segmento de bens duráveis, que contraíram 1,6% m/m no último mês do ano passado, mostrando que o arrefecimento esperado no consumo de bens (que também se estende para os bens não-duráveis) continua a ocorrer, sendo acompanhado também de taxas mais moderadas de crescimento do setor de serviços após o esgotamento natural do processo de reabertura pós-pandemia.
O índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) veio levemente acima das expectativas (que esperavam estabilidade) e avançou 0,1% m/m em dezembro. No acumulado dos últimos doze meses houve redução dos 5,5% a/a vistos em novembro para 5,0% a/a em dezembro. O resultado foi reflexo da desaceleração vista nos preços dos bens (de -0,4% para -0,7%), pincipalmente dos não-duráveis (que aprofundaram a deflação), e da inflação de serviços ter acelerado um pouco em dezembro (0,5%, ante 0,3%). O grupo de bens e serviços de energia foi um dos destaques do mês, aprofundando a queda na passagem de novembro para dezembro (de -1,5% para -5,1%). Isso fez com que a inflação em doze meses para esse grupo se reduzisse fortemente, de 13,7% para 6,9%. Por sua vez, o núcleo (que exclui alimentos e energia) avançou 0,3% m/m, vindo de acordo com o consenso de mercado. Em doze meses, o núcleo do PCE registrou avanço de 4,4% a/a, recuando 0,3 p.p. em relação ao número de novembro. O grupo de alimentação registrou avançou de 0,2% m/m no período, o que manteve a inflação de alimentos em doze meses estável em 11,2%.
Assim como o índice de preços ao consumidor (CPI) do mês de dezembro, os dados do índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) reforçam a mensagem positiva de que, na margem, a inflação americana já começa a dar sinais concretos de desaceleração. Na métrica de doze meses os recuos vistos em dezembro foram bem expressivos, embora a inflação continue alta, rodando em patamares que não estão em consonância com a meta do banco central norte-americano (Fed) de 2,0%. A demanda das famílias repetiu em dezembro a tendência de moderação já vista no “shopping season” (Black Friday) de novembro, indicando que os indivíduos permaneceram reticentes em aumentar os gastos na mesma proporção do aumento de renda. Por outro lado, a resiliência mostrada pela inflação de serviços, que acelerou em dezembro e ficou estável na métrica em doze meses (5,2%), assim como a sua alta inércia, deve continuar a pressionar o índice cheio, forçando o Fed a dar prosseguimento ao processo de subida de juros ao longo dos primeiros meses do próximo ano. A incerteza acerca de qual será a trajetória de alta de juros até que seja alcançada a taxa terminal de 5,25% (limite superior) prevista pelos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) na reunião de dezembro parece ter se dissipado um pouco, com alguns diretores regionais do Fed já sinalizando explicitamente que o mais prudente a ser feito daqui em diante é seguir com altas de juros mais modestas de 25 pontos-base.
A poupança pessoal saltou de US$ 549,1 bilhões para US$ 637,5 bilhões na métrica anualizada na passagem de novembro para dezembro, de modo que a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível subiu de 2,9% para 3,4% no mesmo período. Esse dado reforça a narrativa da hesitação das famílias americanas em gastarem mais nesse final de ano, com o aumento da renda não sendo transformado em consumo corrente e, ao invés disso, sendo canalizado para poupança. Com isso, o excesso de poupança das famílias, que se encontra próximo de US$ 1,4 trilhão, deve durar mais tempo do que o inicialmente esperado, devendo dar algum fôlego para o consumo, que tem sido o principal pilar de sustentação da atividade econômica ao longo dos trimestres e que representa cerca de dois terços do PIB americano. Esse fato torna mais provável a realização do cenário de “pouso suave” da economia americana que é tão desejado pelo Fed.