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Publicado em 28 de Março às 14:53:33

PCE (fev/25): Cautela das famílias em transformar alta da renda em consumo permanece

A renda pessoal (personal income) continuou a apresentar forte alta em fevereiro (0,8% m/m), superando em muito as expectativas (0,4% m/m, Bloomberg). A renda pessoal disponível (disposable personal income) apresentou movimento similar, com a alta de 0,7% m/m dando lugar a um avanço de 0,9% m/m. Movimento oposto ocorreu com os impostos pessoais correntes (personal current taxes), que saíram de 0,7% m/m para 0,1% m/m, desaceleração essa que foi responsável por fazer com que a renda pessoal disponível crescesse a uma taxa maior que a da renda pessoal.

Os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) registraram expansão de 0,4% m/m em fevereiro, 0,1 p.p. abaixo do esperado (0,5% m/m, Bloomberg). Em termos reais, a renda pessoal disponível apresentou expansão de 0,5% m/m. Já a taxa de variação dos gastos com consumo pessoal em termos reais (real personal consumption expenditures) voltou ao terreno positivo, saindo de -0,6% m/m para 0,1% m/m na passagem de janeiro para fevereiro, apesar de ter ficado aquém do esperado pelos analistas (0,3% m/m).

Em relação ao índice de preços de gastos com consumo (PCE price index), o índice cheio apresentou avanço de 0,33% m/m, acima da nossa projeção de 0,26% m/m, ao passo que a métrica em doze meses quase não registrou alteração na passagem de janeiro para fevereiro, saindo de 2,52% a/a para 2,54% a/a, marginalmente acima da nossa projeção de 2,50% a/a e em linha com o esperado pelo mercado. Já o núcleo, que desconsidera energia e alimentos, avançou 0,37% m/m, uma alta acima da prevista por nós (0,22% m/m) e pelo mercado (0,3% m/m, Bloomberg). No acumulado em doze meses, a alta de 2,79% a/a também superou a nossa projeção (2,63% a/a) e a do mercado (2,7% a/a).

O resultado foi reflexo de a inflação de serviços ter acelerado de 0,26% m/m para 0,37% m/m na passagem de janeiro para fevereiro. Por outro lado, os preços dos bens arrefeceram de uma alta de 0,50% m/m para uma de apenas 0,23% m/m no mesmo período, puxado principalmente pelo segmento de não duráveis (0,13% m/m, ante 0,59% m/m), uma vez que os bens duráveis registraram inflação ainda maior (0,41% m/m, ante 0,32% m/m).

A poupança pessoal repetiu a tendência de alta pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, saindo de US$ 946,5 bilhões para US$ 1.019,8 bilhões na métrica mensal anualizada, de modo que a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível saiu de 4,3% para 4,6%. O fato de a renda ter crescido a uma taxa bem maior do que os gastos foi o que continuou a alimentar a alta na taxa de poupança das famílias em fevereiro. Esse movimento sugere que os indivíduos devem continuar hesitantes em transformar o aumento de renda em consumo, ao menos enquanto a incerteza econômica gerada pela política tarifária do governo Trump continuar elevada.

A terceira e última leitura do PIB dos Estados Unidos do 4º trimestre de 2024 adicionou 0,1 p.p. ao número da leitura anterior (2,3% t/t), confirmando o crescimento de 2,4% t/t que era esperado pelo mercado (Bloomberg). Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) foi confirmado em uma taxa anualizada de 2,4% t/t, ao passo que o núcleo do PCE foi revisado de 2,7% t/t para 2,6% t/t.

Embora o resultado final do PIB do 4º trimestre do ano passado tenha apontado para um crescimento econômico marginalmente maior e uma inflação menor pela métrica do núcleo do PCE, a forte alta da renda pessoal junto com a surpresa altista da inflação corrente e a desancoragem adicional das expectativas impedem que o banco central norte americano (Fed) retome o ciclo de afrouxamento monetário no curto prazo. Além disso, a formação recente de poupança precaucional por parte das famílias pode virar consumo futuro quando a incerteza acerca da política tarifária do novo governo se dissipar, o que pode se traduzir em um impulso de demanda adicional no futuro sobre a atividade econômica que venha a pressionar a inflação, reacendendo a necessidade de o Fed voltar a aumentar a taxa de juros mais à frente.

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