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Publicado em 31 de Agosto às 15:20:35

PCE (JUL/23): Maiores gastos com consumo pessoal levam ao fim excesso de poupança das famílias

A renda pessoal (personal income) avançou 0,2% m/m em julho, vindo levemente abaixo das expectativas de mercado (0,3%, Bloomberg). Os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) cresceram um pouco acima das estimativas (0,7% m/m) em julho, avançando 0,8% m/m. Por sua vez, a renda pessoal disponível (disposable personal income) permaneceu estável (0,0% m/m) no mesmo período. Dessa vez, a renda pessoal disponível cresceu menos do que a renda pessoal devido ao fato dos impostos pessoais correntes (personal current taxes) terem crescido consideráveis 1,3% m/m em julho.

Em termos reais, a renda pessoal disponível contraiu 0,2% m/m em julho, enquanto os gastos com consumo pessoal (real personal consumption expenditures) se expandiram 0,6% m/m, 0,1 p.p. acima do esperado. Os gastos reais com bens aceleraram de 0,7% m/m em junho para 0,9% m/m em julho na esteira do aprofundamento da deflação que atingiu o segmento, que saiu de -0,1% m/m para -0,3% m/m no mesmo período. O aumento do gasto com bens se deveu tanto pelo maior dispêndio com bens duráveis, que registraram expansão de 1,4% m/m em julho após 1,1% m/m em junho, como com bens não-duráveis, com a alta de 0,5% m/m dando lugar a um avanço de 0,7% m/m no mesmo período. Já os gastos reais em serviços continuaram a se expandir, saindo de 0,3% m/m para 0,4% m/m na passagem de junho para julho a despeito de uma aceleração da taxa de inflação de serviços (0,4% m/m, ante 0,3% m/m).

O índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) veio ao encontro das expectativas avançando apenas 0,2% m/m em julho. No acumulado dos últimos doze meses, os 3,0% registrados em junho deram lugar a uma alta de 3,3% em julho, também em linha com as estimativas. O resultado foi reflexo da aceleração vista nos preços dos serviços tanto na métrica mensal (de 0,3% m/m para 0,4% m/m) como na anual (de 4,9% a/a para 5,2% a/a), permanecendo num patamar elevado e ainda muito acima da meta de 2,0%. Já os bens e serviços de energia embora tenham registrado menor taxa de variação mensal, que saiu de 0,6% para 0,1%, atenuaram a deflação na métrica anual, que saiu de -18,9% em junho para -14,6% em julho. Por sua vez, o núcleo (que exclui alimentos e energia) avançou 0,2% m/m, também em linha com o consenso de mercado. Em doze meses, o núcleo do PCE apresentou uma leve alta de 0,1 p.p, saindo de 4,1% para 4,2% na passagem de junho para julho, mas vindo em linha com o esperado. Já o segmento de alimentação, a despeito de ter deixado para trás a deflação de 0,1% m/m em junho e avançado 0,2% m/m em julho, registrou queda da inflação em doze meses, de 4,6% para 3,5%.

Na segunda prévia do PIB do segundo trimestre, o número ficou 0,5 p.p. abaixo da projeção dos analistas (2,6% t/t), crescendo a taxa anualizada de 2,1% t/t. Os gastos com consumo pessoal foram revisados levemente para cima, de uma taxa anualizada de 1,6% t/t para 1,7% t/t. Por sua vez, o índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) apresentou alta anualizada de 2,5% t/t após avançar 4,1% t/t no primeiro trimestre, enquanto o núcleo do índice avançou 3,7% t/t anualizado ante expectativa de 3,8% t/t. Esses fatores em conjunto contribuíram para a manutenção da narrativa da ocorrência de um “pouso suave” da economia norte-americana.

A poupança pessoal registrou em julho o segundo mês consecutivo de queda, saindo de US$ 852,1 bilhões para US$ 705,6 bilhões na métrica mensal anualizada, de modo que a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível saiu de 4,3% e retornou para o patamar de novembro do ano passado, de 3,5%. Como os gastos com consumo cresceram bem acima da renda pessoal e com a alta considerável dos impostos passando a pressionar ainda mais a renda pessoal disponível, o estoque de excesso de poupança das famílias se reduziu consideravelmente no mês, em cerca de US$ 115 bilhões, saindo de US$ 67,1 bilhões positivos em junho para US$ 48,6 bilhões negativos em julho.

O fim do estoque de poupança acumulado pelas famílias nos anos de pandemia deve forçar um contingente considerável de pessoas a retornarem para a força de trabalho em busca de emprego nos próximos meses, o que promoveria uma recuperação da taxa de participação para os níveis pré-pandemia e, consequentemente pressionaria a taxa de desemprego, principalmente num contexto no qual o número de postos de trabalho em aberto (JOLTS), uma métrica de demanda por mão de obra, já vem surpreendendo negativamente. Esse fenômeno, caso ocorra de forma muito acentuada, poderia colocar em risco o cenário base atual da ocorrência de um “pouso suave”. Por outro lado, caso se dê de forma mais moderada, esse movimento pode contribuir para satisfazer uma das condições impostas pelo presidente do banco central norte-americano (Fed), Jerome Powell, para não promover mais nenhum aumento da fed funds rate, que é justamente um maior equilíbrio entre as condições de oferta e demanda no mercado de trabalho. Adicionalmente, o fim do excesso de poupança também pode ajudar a conter o consumo das famílias, que vem apresentando forte ímpeto desde a reabertura da economia e sendo o principal fator de sustentação a demanda agregada. Esse fato pode configurar um outro passo no sentido de satisfazer a segunda condição imposta por Powell para manter os juros estáveis no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano, que é o crescimento do PIB cair abaixo da tendência de longo-prazo (1,8% t/t anualizado).

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