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Publicado em 26 de Julho às 14:19:48

PCE (jun/24): Gastos crescem acima da renda pessoal e pressionam a taxa de poupança

A renda pessoal (personal income) registrou desaceleração na passagem de maio para junho, saindo de 0,4% m/m para 0,2% m/m, ficando aquém das expectativas de mercado (0,4% m/m, Bloomberg). A renda pessoal disponível (disposable personal income) apresentou movimento idêntico, com a alta de 0,4% m/m dando lugar a um avanço de apenas 0,2% m/m. Embora os impostos pessoais correntes (personal current taxes) tenham apresentado queda da sua taxa de variação (0,4% m/m, ante 0,8% m/m), a renda pessoal cheia e disponível caíram na mesma proporção.

Os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) registraram expansão de 0,3% m/m em junho, em linha com o esperado pelo mercado. Em termos reais, a renda pessoal disponível voltou a apresentar crescimento mais modesto, avançando apenas 0,1% m/m em junho após crescimento de 0,3% m/m em maio. Na mesma direção, a taxa de variação dos gastos com consumo pessoal (real personal consumption expenditures) em termos reais caiu pela metade, saindo de 0,4% m/m em maio para 0,2% m/m em junho, frustrando as expectativas de avanço de 0,3% m/m.

O índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) deixou para trás a estabilidade vista em maio e avançou 0,1% m/m em junho, vindo em linha com as expectativas. No acumulado dos últimos doze meses, a inflação medida pelo PCE sofreu redução de 0,1 p.p., saindo de 2,6% a/a para 2,5% a/a, como previsto. O resultado foi reflexo de os preços dos serviços terem registrado arrefecimento ao sair de um ritmo de expansão de 0,22% m/m em maio para 0,20% m/m em junho, de modo que, na comparação interanual, o ritmo de crescimento saiu de 4,0% a/a para 3,9% a/a, enquanto os preços dos bens continuaram a apresentar deflação tanto na métrica mensal (-0,2% m/m, ante -0,4% m/m) como anual (-0,2% a/a, ante -0,1% a/a) no mesmo período. Essa taxa de variação negativa refletiu a estabilidade de preços observada nos bens duráveis (0,0% m/m) e a deflação vista nos não duráveis (-0,3% m/m). Grande parte desse movimento se deve ao fato de a China continuar a exportar deflação através da venda de bens manufaturados, assim como as taxas de juros mais elevadas nos EUA estarem pesando sobre a demanda dos bens duráveis, cujo consumo é mais dependente do crédito.

Por sua vez, o núcleo de inflação (que exclui alimentos e energia) avançou 0,2% m/m em junho, vindo em linha com o consenso de mercado. Em doze meses, o núcleo do PCE permaneceu em 2,6% a/a, frustrando as expectativas de queda 0,1 p.p., para 2,5% a/a.

A revisão dos números relativos aos meses anteriores fez com que a poupança pessoal entrasse no quinto mês seguido de queda, saindo de US$ 724,7 bilhões para US$ 703,0 bilhões na métrica mensal anualizada, de modo que a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível caiu de 3,5% para 3,4%. A aceleração da inflação (cheia e núcleo), ainda que modesta, na passagem de maio para junho fez com que a desaceleração da alta dos impostos pessoais correntes tivesse o seu impacto positivo sobre a renda pessoal disponível diluído. Além disso, o fato de os gastos terem crescido acima da renda (tanto em termos nominais como reais) fez com que a poupança das famílias continuasse em trajetória declinante. Com isso, o volume mensal de poupança das famílias norte-americanas se afasta cada vez mais da tendência que vigorava antes da eclosão da pandemia de covid-19, o que mostra a maior relutância dos indivíduos em ajustar o seu padrão de gastos mesmo após o fim do excesso de poupança, o que impede um maior arrefecimento da inflação no curto prazo.

Embora o índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) na métrica trimestral anualizada tenha apresentado algum progresso em direção a meta de 2,0% na passagem do 1º para o 2º trimestre do ano, com o índice cheio saindo de 3,4% t/t para 2,6% t/t e com o núcleo apresentando desaceleração de 3,7% t/t para 2,9% t/t, a primeira leitura do PIB do 2º trimestre de 2024 surpreendeu para cima, com a atividade crescendo a um ritmo anualizado de 2,8% t/t ante expectativa de 2,0% t/t, superando, em muito, o crescimento potencial estimado para a economia norte-americana, de 1,8% t/t. Por conta disso, o processo de afrouxamento monetário só deve ocorrer no último trimestre do ano e ficar restrito a apenas um corte de 25 pontos-base na taxa de juros.

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