A renda pessoal (personal income) avançou 0,4% m/m (US$ 80,1 bilhões) em novembro, 0,1 p.p acima da expectativa do mercado (0,3%, Bloomberg). Os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) assim como os gastos em termos reais (real personal consumption expenditures) vieram levemente abaixo das estimativas dos analistas (0,2% e 0,1%) e se expandiram 0,1% m/m e 0,0% m/m em novembro, respectivamente. Por sua vez, a renda pessoal disponível (disposable personal income) avançou 0,4% m/m, ante avanço de 0,7% m/m em outubro. O arrefecimento de algumas métricas de gastos mostrou alguma hesitação das famílias americanas em aumentarem os desembolsos justamente no período mais propenso para o varejo no ano, mesmo na esteira de um aumento de renda.
Em termos reais, a renda pessoal disponível repetiu o resultado de outubro e avançou de 0,3% m/m em novembro. O consumo de bens registrou recuo expressivo no mês (-0,6% m/m) ante um avanço real de 0,9% m/m em outubro, enquanto o consumo de serviços repetiu o número de outubro, avançando 0,3% m/m em novembro. Esta combinação mostra que finalmente o arrefecimento esperado no consumo de bens (principalmente no segmento de duráveis) começa a ocorrer, sendo acompanhado também de taxas mais moderadas de crescimento do setor de serviços após o esgotamento natural do processo de reabertura pós-pandemia.
O índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) veio em linha com as expectativas e apresentou alta de 0,1% m/m em novembro. No acumulado dos últimos doze meses houve redução dos 6,1% a/a vistos em outubro para 5,5% a/a em novembro. O resultado foi reflexo da desaceleração vista nos preços dos bens (de 0,3% para -0,4%), pincipalmente dos duráveis (que continuaram a apresentar deflação), e da inflação de serviços ter repetido o aumento visto em outubro (0,4%). O grupo de alimentos apresentou elevação de 0,3% m/m em novembro, um leve arrefecimento em relação ao avanço de 0,4% visto em outubro. Por sua vez, o núcleo (que exclui alimentos e energia) avançou 0,2% m/m, vindo de acordo com o consenso de mercado. Em 12 meses, o núcleo do PCE registrou avanço de 4,7% a/a, recuando 0,3 p.p. em relação ao número de outubro. Também seguiram essa tendência de desaceleração vista no mês de novembro os índices de alimentação (11,2% a/a, ante 11,6% a/a) e o de bens e serviços de energia (13,6% a/a, ante 18,4% a/a).
Assim como o índice de preços ao consumidor (CPI) do mês de novembro, os dados do índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) reforçam a mensagem positiva de que, na margem, a inflação americana já começa a dar sinais concretos de desaceleração. Até na métrica de doze meses os recuos vistos em novembro foram bem expressivos, embora a inflação continue bem alta, rodando em patamares que não estão em consonância com a meta do banco central norte-americano (Fed) de 2,0%. Além disso, um sinal favorável veio do fato da demanda das famílias ter apresentado alguma moderação justamente no período do ano no qual historicamente os gastos são mais elevados devido a temporada de compras (shopping season). Por outro lado, a resiliência mostrada pela inflação de serviços, assim como a sua alta inércia, deve continuar a pressionar o índice cheio, forçando o Fed a dar prosseguimento ao processo de subida de juros ao longo dos primeiros meses do próximo ano. Porém, a incerteza ainda permanece acerca de qual será a trajetória de alta de juros até que seja alcançada a taxa terminal de 5,25% (limite superior) prevista pelos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) na reunião de dezembro. As opções são uma alta de 50 bps seguida de uma alta de 25 bps, ou então um caminho mais suave de três altas seguidas de 25 bps.
A poupança pessoal ficou em US$ 461,2 bilhões em novembro na métrica anualizada, uma elevação expressiva frente aos US$ 419,2 bilhões registrados em outubro, de modo que a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível subiu de 2,2% para 2,4% na passagem de outubro para novembro. Esse dado reforça a narrativa da hesitação das famílias americanas em gastarem mais nesse final de ano, com parcela considerável da renda sendo alocada para poupança ao invés de consumo. Com isso, as famílias mantêm um estoque de excesso de poupança (próximo de US$ 1 trilhão) que deve continuar contribuindo positivamente para o consumo nos próximos meses.