A renda pessoal (personal income) registrou aceleração na passagem de agosto para setembro, saindo de 0,2% m/m para 0,3% m/m, vindo em linha com as expectativas. A renda pessoal disponível (disposable personal income) apresentou movimento similar, com a alta de 0,2% m/m dando lugar a um avanço de 0,3% m/m. Já os impostos pessoais correntes (personal current taxes) apresentaram uma moderação marginal na passagem de agosto para setembro, desacelerando de 0,6% m/m para 0,5% m/m, o que, junto com a renda pessoal, ajuda a explicar o comportamento análogo da renda pessoal disponível.
Os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) registraram expansão de 0,5% m/m em setembro, 0,1 p.p. acima do esperado pelo mercado (0,4% m/m, Bloomberg). Em termos reais, a renda pessoal disponível repetiu a alta dos três meses anteriores e avançou 0,1% m/m em setembro. Já a taxa de variação dos gastos com consumo pessoal (real personal consumption expenditures) em termos reais se elevou de 0,2% m/m em agosto para 0,4% m/m em setembro, superando a mediana das projeções dos analistas (0,3% m/m).
Em relação ao índice de preços de gastos com consumo (PCE price index), o índice cheio apresentou avanço de 0,18% m/m, levemente acima da nossa projeção de 0,17% m/m, ao passo que a métrica em doze meses recuou para 2,1% a/a, em linha com o esperado pelo mercado e com a nossa projeção de 2,06% a/a. Já o núcleo, que desconsidera energia e alimentos, avançou 0,25% m/m, uma alta acima da prevista por nós (0,19% m/m), mas em consonância com o esperado pelo mercado (0,3% m/m). No acumulado em doze meses, a alta de 2,65% a/a superou a estimativa dos analistas (2,6% a/a) e a nossa projeção de 2,55% a/a.
O resultado foi reflexo de os preços dos serviços terem saído de um ritmo de expansão de 0,2% m/m para 0,3% m/m na passagem de agosto para setembro. A despeito disso, na comparação interanual, a taxa voltou a desacelerar, saindo de 3,8% a/a para 3,7% a/a. Na mesma direção, a deflação no segmento de bens esfriou na métrica mensal (-0,1% m/m, ante -0,2% m/m) e se intensificou na métrica anual (-1,2% a/a, ante -0,9% a/a). Esse movimento se deveu ao fato de a taxa de variação dos preços observada no segmento de bens duráveis ter saído de -0,2% m/m para 0,3% m/m. Por outro lado, os bens não duráveis passaram a apresentar uma deflação mais intensa em ambas as métricas (-0,4% m/m, ante -0,1% m/m) e (-0,8% a/a, ante -0,2% a/a).
A poupança pessoal entrou no quinto mês seguido de desaceleração, saindo de US$ 1.048,9 bilhões para US$ 1.000,1 bilhões na métrica mensal anualizada, de modo que a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível caiu de 4,8% para 4,6%. O fato de os gastos terem crescido a uma taxa maior do que a renda, tanto em termos nominais como reais, fez com que a poupança mensal das famílias recuasse na passagem de agosto para setembro. Apesar do volume mensal de poupança das famílias norte americanas estar vindo num patamar abaixo do que vigorava antes da eclosão da pandemia de covid-19, e a maior relutância apresentada pelos indivíduos em ajustar o seu padrão de gastos mesmo após o fim do excesso de poupança, essa dinâmica não é sustentável no médio e no longo prazo, de modo que algum ajuste ainda carece de ocorrer.
A primeira leitura do PIB dos Estados Unidos do 3º trimestre de 2024 mostrou um crescimento anualizado de 2,8% t/t, um pouco abaixo da mediana das estimativas (3,0% t/t). Ainda assim, a alta ficou bem acima do crescimento potencial estimado para a economia norte americana, de 1,8% t/t. A aceleração do crescimento do consumo das famílias (de 2,8% t/t para 3,7% t/t) fez com que essa abertura do PIB permanecesse como a principal responsável por impulsionar a atividade econômica no terceiro trimestre. Por outro lado, o índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) arrefeceu na passagem do segundo para o terceiro trimestre. Na métrica trimestral anualizada, a inflação medida pelo PCE se aproximou da meta de 2,0%, com o índice cheio saindo de 2,5% t/t para 1,5% t/t e o núcleo desacelerando de 2,8% t/t para 2,2% t/t.
Por conta desses dados mistos, e de outros dados ainda fortes do mercado de trabalho e da inflação acelerando na ponta, achamos que o mais prudente seria o Fed reduzir o ritmo de afrouxamento monetário para cortes de uma menor magnitude, de apenas 25 pontos base e, possivelmente, em reuniões do Fed não sequenciais, sob pena de ser forçado a interromper o ciclo de cortes mais à frente, e até voltar a aumentar a taxa de juros.