A primeira prévia do PIB dos EUA do 2º trimestre de 2024 veio próxima do teto das projeções dos analistas (3,0% t/t, Bloomberg), avançando 2,8% t/t a uma taxa anualizada e superando, em muito, a mediana de crescimento de 2,0% t/t. Com esse resultado, o PIB agora se encontra 9,4 p.p. acima do patamar pré-pandemia (4ºtri/2019), já tendo recuperado tanto a tendência como o nível anterior. Esse é o oitavo cômputo trimestral positivo depois do quadro de recessão técnica visto nos dois primeiros trimestres de 2022.
Dentre os gastos com consumo pessoal, que apresentou a maior contribuição para o resultado cheio do PIB trimestral (2,3% t/t e impacto de 1,6 p.p.), o consumo de bens reverteu a queda de 2,3% t/t registrada no 1º trimestre do ano e avançou 2,5% t/t, puxado tanto pelos gastos em bens duráveis (4,7% t/t, ante -4,7% t/t) como em bens não duráveis (1,4% t/t, ante -1,1% t/t). Já os gastos com serviços, por outro lado, registraram o segundo trimestre seguido de desaceleração, saindo de 3,3% t/t para 2,2% t/t. Essa diminuição na taxa de variação dos gastos pessoais em serviços deve corroborar para o processo de desinflação do setor que, depois de muitos meses seguidos de inflação resiliente, deu os primeiros sinais de um maior arrefecimento na última leitura de inflação referente ao mês de junho.
No geral, o fato de o crescimento do consumo pessoal ter vindo no teto das projeções (2,3% t/t), mesmo após o fim do excesso de poupança das famílias, é explicado pelo efeito composição dos gastos, que se deslocaram de serviços de volta para bens. Como os preços dos bens industriais vem se beneficiando da China permanecer exportando deflação através da venda de produtos manufaturados, isso permitiu com que os consumidores norte-americanos aumentassem o seu consumo de bens mesmo com uma redução dos vetores que vinham dando suporte para o consumo privado (crédito e poupança).
A formação de estoques privados deixou para trás dois trimestres seguidos de contribuição negativa para o crescimento do PIB, passando a apresentar um impacto positivo de 0,82 p.p. O investimento em ativos fixos desacelerou para 3,6% t/t após uma alta forte de 7,0% t/t no primeiro trimestre do ano, o que impactou o PIB em 0,64 p.p. no período. Esse resultado foi puxado pela forte queda do investimento fixo residencial, que saiu de 16,0% t/t para -1,4% t/t. Esse dado veio em consonância com as vendas de novas moradias terem decepcionado em junho (-0,6% m/m e -7,4% a/a, ante expectativa de 2,6% m/m). Já o investimento fixo não-residencial, por outro lado, acelerou de 4,4% t/t para 5,2% t/t, com esse resultado se devendo ao forte crescimento do investimento em equipamentos (11,6% t/t, ante 1,6% t/t) após quatro contrações nos seis trimestres anteriores.
Os gastos com consumo do governo aceleraram de 1,8% t/t para 3,1% t/t no 2º trimestre de 2024. Essa aceleração foi puxada pelos gastos na esfera federal (3,9% t/t, ante -0,2% t/t), tanto em decorrência dos gastos com defesa nacional (5,2% t/t, ante -0,9% t/t) como dos gastos que não envolvem defesa (2,2% t/t, ante 0,6% t/t). Já os gastos dos governos estaduais e locais caminharam na direção oposta, registrando desaceleração na virada do 1º para o 2º trimestre (2,6% t/t, ante 3,0% t/t).
As importações, que entram como uma subtração no cálculo do PIB, continuaram a registrar forte alta no 2º trimestre, crescendo 6,9% t/t, ante avanço de 6,1% t/t no 1º trimestre. As exportações, também apresentaram aceleração, ainda que mais modesta, saindo de 1,6% t/t para 2,0% t/t. Com isso, a contribuição das exportações para o PIB saiu de 0,17 p.p. para 0,22 p.p., enquanto o impacto das importações saiu de -0,82 p.p. para -0,93 p.p. no mesmo período. Em decorrência disso, as exportações líquidas pioraram na margem, aprofundando a contribuição negativa de -0,65 p.p. para -0,72 p.p.
Essa primeira leitura do PIB do 2º trimestre de 2024 deixa sinais mistos para o banco central norte-americano (Fed). Se por um lado houve desaceleração tanto da taxa anualizada da inflação cheia (de 3,4% t/t para 2,6% t/t) como do núcleo (de 3,7% t/t para 2,9% t/t) medidos pelo PCE (métrica favorita do Fed) para patamares mais próximos da meta de inflação de 2,0%, por outro, a atividade mais forte, puxada pelo consumo (tanto pessoal como do governo) e pelos investimentos, levou o crescimento do PIB a voltar a exceder o potencial (2,8% t/t vs. 1,8% t/t), o que por sua vez deve interromper a tendência de fechamento do hiato do produto, que vai continuar aberto e em terreno positivo. Esse ponto deve impedir a antecipação e a expansão do ciclo de afrouxamento monetário, que deve ter o seu início apenas no último trimestre do ano e ficar restrito a apenas um corte de 25 pontos-base na Fed Funds rate.