O PIB americano recuou a uma taxa anualizada 0,9%, no segundo trimestre de 2022, ficando abaixo do consenso de mercado que aguardava uma leve expansão de 0,4% no período. Com este resultado, a economia americana recuou pelo segundo trimestre consecutivo, que segundo o consenso dos economistas, configura uma recessão técnica. O número por sua vez, representa uma leve melhora em relação ao trimestre imediatamente anterior em que foi observado uma contração de 1,6% do produto americano. O resultado no mês reflete as leituras abaixo do esperado do tanto do consumo pessoal quanto dos investimentos, impactados pelo elevado nível inflacionário que renovou as máximas em 40 anos durante o segundo trimestre de 2022. O destaque vai para o recuo na formação de estoques privados, que contribuiu com cerca de -2,0 p.p. no crescimento do trimestre.
O recuo no segundo trimestre refletiu, principalmente, os resultados negativos no investimento privado doméstico; nos gastos dos governos federal e local; e no consumo de bens, com destaque para a o consumo de bens não duráveis. Por outro lado, os gastos com serviços e as exportações avançaram no segundo trimestre. Por sua vez, as importações, que entram como uma subtração no cálculo do PIB, desaceleraram no segundo trimestre, beneficiando a balança comercial americana no período, que foi um dos principais destaques negativos no primeiro trimestre.
Com o resultado, o PIB americano se encontra 2,5 p.p. acima do nível pré pandemia (4º tri de 2019).
O recuo dos investimentos na formação de estoque privado foi puxado, principalmente pela contração do comércio varejista, impactada pelas quedas das vendas de veículos e das vendas do comércio de mercadorias gerais. Já o recuo no investimento fixo (-3,9%) foi puxado pela queda do investimento fixo residencial (-14%), que impactou o PIB em cerca de -0,7 p.p. no período. Por sua vez, o recuo nos gastos dos governos federal (-3,2%) e local (-1,2%) refletiram a diminuição das despesas não relacionadas com defesa (-10,5%) terem sido parcialmente compensadas por um aumento nos gastos com defesa (2,5%). Por fim, o aumento das importações refletiu o aumento da demanda por viagens internacionais.
As exportações avançaram 18,0% no período, após contrair 4,8% no trimestre anterior, contribuindo com cerca de 1,9 p.p. para a variação do PIB anualizado. Este resultado refletiu, principalmente o melhor desempenho das exportações de bens industriais e de serviços ligados a viagens internacionais, em linha com o arrefecimento da pandemia. Por sua vez, os gastos com consumo pessoal avançaram 1,0%, ante expansão de 1,8% no trimestre anterior, contribuindo em 0,7 p.p. para a variação do PIB anualizado no segundo trimestre. Este resultado refletiu os gastos com o consumo de bens (-4,4%) terem parcialmente compensado o avanço de 4,1% no consumo de serviços. Os dados apontam que o elevado nível inflacionário, que deteriora o poder de compra das famílias, vem alterando o perfil de consumo do americano, beneficiando o consumo de serviços em detrimento ao consumo de bens que recuou pelo segundo trimestre consecutivo.
Também foi observado expansão nos investimentos em ativos fixos (7,3%), responsáveis por 1,3 p.p. da variação do produto americano. Este resultado refletiu a expansão de 9,2% no investimento fixo não residencial, que foi puxado pela alta de 15,3% nos investimentos em equipamentos. Por sua vez, o investimento fixo residencial avançou 2,1%, ficando estável em relação ao número do trimestre anterior (2,2%).
A leitura do PIB americano para o segundo trimestre de 2022 aponta para uma contração da demanda interna, mesmo diante de um mercado de trabalho que segue dando sinais de forte descasamento entre oferta e demanda por mão de obra. Nossa avaliação é que o elevado nível inflacionário e a piora das condições financeiras, que refletem o ciclo de aperto monetário mais rápido desde 1980 e do resultado negativo das bolsas americanas em 2022, vêm pesando sobre a decisão de consumo e investimento doméstico. Este resultado corrobora com a nossa avaliação que a economia americana deva entrar em recessão para combater o elevado nível de preços, que pode ser agravada por choques negativos decorrentes da crise na Europa e pela política de tolerância zero Covid na China.
O índice de preços de gastos com consumo (Headline PCE) avançou 7,1%, ficando estável em relação ao trimestre imediatamente anterior. Este resultado decorreu da combinação das altas de 10,2% nos preços dos bens e de 5,4% nos preços dos serviços. Por sua vez, o núcleo que exclui preços de alimentação e energia avançou 4,4%, ante 5,2% no primeiro trimestre de 2022.
A renda pessoal em valores correntes aumentou US$ 353,8 bilhões no segundo trimestre, ante um avanço de US$ 247,2 bilhões no período anterior. Este resultado decorreu dos aumentos observados nas remunerações (salários e vencimentos privados) e da renda de aluguel. Já a renda pessoal disponível avançou US$291,4 bilhões no mesmo período após contração de $58,8 bilhões observado no primeiro trimestre. Em termos reais, a renda pessoal disponível recuou 0,5% no período.
A taxa de poupança como percentual renda pessoal disponível recuou para 5,2%, ante 5,6% observados no trimestre imediatamente anterior.