A primeira prévia do PIB americano do terceiro trimestre de 2022 veio acima da mediana das projeções dos analistas de 2,4% e avançou 2,6% a uma taxa anualizada. Com este resultado, a economia americana deixa o quadro de recessão técnica. O número representa uma grande melhora em relação ao trimestre imediatamente anterior, no qual foi observado uma contração de 0,6% do produto americano. As maiores contribuições positivas para esse resultado vieram das exportações de bens e serviços seguidas do consumo pessoal de serviços, com 1,6 p.p. e 1,2 p.p. respectivamente. O destaque negativo foi para o recuo no investimento privado que, embora menos negativo do que no segundo trimestre, ainda contribuiu com -1,6 p.p. para o crescimento do terceiro trimestre.
As importações, que entram como uma subtração no cálculo do PIB, continuaram na sua tendência de desaceleração no terceiro trimestre, beneficiando ainda mais a balança comercial americana no período. Nesse sentido, as exportações líquidas de bens e serviços melhoraram substancialmente, contribuindo com 2,8 p.p. para o resultado do terceiro trimestre.
Com esse resultado, o PIB americano se encontra 4,2 p.p. acima do nível pré pandemia (4º tri de 2019).
A formação de estoques privados continuou a contribuir negativamente para o resultado do PIB do trimestre, subtraindo 0,7 p.p. Já o recuo no investimento fixo (-4,9%, que impactou o PIB em cerca de -0,9 p.p. no período) foi puxado pela forte queda do investimento fixo residencial (-26,4%) que vem sofrendo com as altas taxas de juros que incidem sobre as hipotecas e que, pela primeira vez em 20 anos, situam-se acima de 7,0%. Após registrar queda nos dois primeiros trimestres do ano, os gastos dos governos federal e local avançaram 3,7% e 1,7%, respectivamente. A escalada da guerra na Ucrânia e o aumento das tensões acerca da questão de Taiwan causaram um forte aumento nos gastos relacionados com defesa nacional, que avançaram 4,7%. Já as despesas não relacionadas com defesa se recuperaram após registrarem contração de 9,2% no segundo trimestre, avançando 2,3%.
Por sua vez, os gastos com consumo pessoal avançaram 1,4%, ante expansão de 2,0% no trimestre anterior, contribuindo em 1,0 p.p. para a variação do PIB anualizado no terceiro trimestre. A menor queda no consumo de bens, passando de contração de -2,6% para -1,2% foi compensada pelo arrefecimento do avanço no setor de serviços, que desacelerou de 4,6% para 2,8%. Os dados apontam que o elevado nível inflacionário, que deteriora o poder de compra das famílias e vem alterou o perfil de consumo do americano, continua causando um desvio de demanda do consumo de bens para o de serviços. Mesmo assim, o consumo deve continuar contribuindo positivamente para o PIB nos próximos trimestres em vista do excesso de poupança das famílias americanas ainda se encontrar em patamar próximo de 2 trilhões de dólares.
Ainda que o mercado de trabalho que siga dando sinais de forte descasamento entre oferta e demanda por mão de obra, há sinais de arrefecimento da demanda interna sinalizados, principalmente, pelo recuo das importações. Nossa avaliação é que o elevado nível inflacionário e a piora das condições financeiras, que refletem o ciclo de aperto monetário mais rápido desde 1980 e do resultado negativo das bolsas americanas em 2022, vêm pesando sobre a decisão de consumo e investimento doméstico. Esse resultado torna difícil a realização do cenário de “pouso suave” da economia americana que é tão desejado pelo Federal Reserve (BC americano). Alem disso, ventos externos negativos podem contribuir para agravar ainda mais essa conjuntura, com choques negativos decorrentes da crise na Europa e pela política de “Covid-zero” na China.
O índice de preços de gastos com consumo (Headline PCE) avançou 4,2%, um recuo considerável em relação aos 7,3% registrados no trimestre imediatamente anterior. Este resultado decorreu da combinação das altas de 2,8% nos preços dos bens e de 4,9% nos preços dos serviços. Por sua vez, o núcleo que exclui preços de alimentação e energia avançou 4,5%, recuando marginalmente dos 4,7% vistos no segundo trimestre do ano.
A renda pessoal em valores correntes aumentou US$ 291,3 bilhões no terceiro trimestre, ante um avanço de US$ 305,7 bilhões no período anterior. Este resultado decorreu dos aumentos observados nas remunerações (salários e vencimentos privados) e da renda de aluguel. Já a renda pessoal disponível avançou US$206,8 bilhões no mesmo período após um aumento um pouco maior de US$253,3 bilhões observado no segundo trimestre. Em termos reais, a renda pessoal disponível avançou 1,7% no terceiro trimestre em termos anualizados.
A taxa de poupança como percentual renda pessoal disponível recuou para 3,3%, ante 3,4% observados no trimestre imediatamente anterior.