A primeira prévia do PIB americano do quarto trimestre de 2022 veio acima da mediana das projeções dos analistas de 2,6% t/t e avançou 2,9% t/t a uma taxa anualizada. Com esse resultado, o PIB americano se encontra 5,1 p.p. acima do nível pré-pandemia (4º tri de 2019). Esse já é o segundo cômputo trimestral positivo depois do quadro de recessão técnica visto nos dois primeiros trimestres de 2022. O número representa uma leve desaceleração em relação ao trimestre imediatamente anterior, no qual foi observado um crescimento de 3,2% da economia americana. A maior contribuição positiva para esse resultado veio dos gastos com consumo pessoal que, embora tenham se expandido em ritmo menor do que no terceiro trimestre (2,1%, ante 2,3%), ainda contribuíram com 1,42 p.p. O destaque negativo foi para as exportações líquidas de bens e serviços que, apesar de ainda ter apresentado contribuição positiva de 0,56 p.p., viu uma piora tanto das exportações como das importações.
Dentre os gastos com consumo pessoal, o aumento no consumo de bens, passando de contração de -0,4% para expansão de 1,1%, foi compensado pelo arrefecimento do avanço no setor de serviços, que desacelerou de 3,7% para 2,6%. Esse retorno do crescimento no consumo de bens foi devido a movimentos similares tanto nos bens duráveis (0,5%, ante -0,8%) como nos bens não-duráveis (1,5%, ante -0,1%). Com isso, o consumo deve continuar contribuindo positivamente para o PIB nos próximos trimestres em vista do excesso de poupança das famílias americanas ainda se encontrar em patamar de cerca de 1 trilhão de dólares.
A formação de estoques privados deixou de contribuir negativamente para o resultado do PIB no quarto trimestre, adicionando 1,46 p.p. O investimento fixo voltou a recuar fortemente (-6,7%, que impactou o PIB em -1,2 p.p. no período), puxado pela continuidade da queda do investimento fixo residencial (-26,7%), que vem sofrendo com as altas taxas de juros que incidem sobre as hipotecas.
Após registrar queda nos dois primeiros trimestres e se recuperarem no terceiro trimestre do ano, os gastos dos governos federal e local continuaram sólidos, avançando 6,2% e 2,3%, respectivamente. A aprovação de um novo pacote de ajuda financeira e militar para a Ucrânia, que ajudou a impulsionar os gastos do governo federal, fez também com que os gastos relacionados com defesa nacional avançassem 2,4%. Já as despesas não relacionadas com defesa continuaram em trajetória de franca recuperação, saltando de 2,5% no terceiro trimestre para um avanço de 11,2% no quarto trimestre.
As importações, que entram como uma subtração no cálculo do PIB, continuaram com crescimento negativo no trimestre (-4,6%), beneficiando a balança comercial americana no período, mas em magnitude menor do que no trimestre imediatamente anterior no qual o recuo foi de 7,3%. Já as exportações contraíram 1,3% no último trimestre de 2022, após um crescimento de 14,6% no terceiro trimestre. Com essa inversão, a contribuição das exportações para o PIB saiu de 1,65 p.p. para -0,15 p.p. na passagem do terceiro para o quarto trimestre. Em decorrência disso, as exportações líquidas pioraram substancialmente, mas ainda assim continuaram a apresentar contribuição positiva de 0,56 p.p.
Ainda que o mercado de trabalho que siga dando sinais de algum descasamento entre oferta e demanda por mão de obra, há sinais de arrefecimento da demanda interna sinalizados pelo recuo das importações e pela moderação no consumo de serviços, este último em desaceleração desde o segundo trimestre. Nos setores de tecnologia e serviços financeiros as demissões já começaram, com esses desligamentos recentes podendo até vir a ajudar o banco central norte-americano (Fed) a levar a inflação para meta de 2,0% mais rapidamente em decorrência do arrefecimento das pressões salariais. Nossa avaliação é que apesar do nível inflacionário ainda elevado e da piora das condições financeiras, a economia americana tem se mostrado resiliente a esse cenário interno mais adverso. O excesso de poupança das famílias deve durar mais tempo do que o inicialmente esperado, devendo dar algum fôlego para o consumo, que tem sido o principal pilar de sustentação da atividade ao longo dos trimestres e representa cerca de dois terços do PIB americano. Esse resultado positivo do quarto trimestre torna mais provável a realização do cenário de “pouso suave” da economia americana que é tão desejado pelo Fed. Além disso, na seara externa, as surpresas positivas de inflação e atividade vindas da Europa e a saída da China da sua política de “Covid-zero” podem dar maior sustentação para as exportações líquidas.