A renda pessoal (personal income) avançou 0,5% m/m (US$ 107,2 bilhões) em março, ficando um pouco melhor que o consenso de mercado de expansão de 0,4% m/m. Além disso, a renda pessoal disponível (disposable personal income) apresentou alta de mesma magnitude ao avançar US$ 89,7 bilhões. Por fim, os gastos com consumo pessoal (personal consumption expenditures) avançaram 1,1% m/m (US$ 185,0 bilhões), surpreendendo positivamente o mercado que aguardava expansão mais tímida de 0,7% m/m.
Em termos reais, a renda pessoal disponível recuou 0,4% m/m em março, enquanto isso os gastos com consumo pessoal avançaram 0,2% m/m. Este resultado refletiu a combinação da contração de 0,5% m/m no consumo de bens ter sido compensada pelo aumento de 0,6% m/m nos gastos com serviços.
O índice de preços de gastos com consumo (PCE price index) apresentou leve aceleração de 0,4 p.p. em relação ao mês anterior ao avançar 0,9% m/m em março. Por sua vez, o núcleo (excluí alimentos e energia) avançou 0,3% m/m no mesmo período, ficando em linha com o consenso de mercado. Em 12 meses, o índice headline acumulou alta de 6,6%, ao acelerar 0,3 p.p. em relação à leitura anterior. Os destaques vão para a alta de 33,9% nos preços da energia e 9,2% nos preços de alimentos. Já o núcleo acumulou alta de 5,2%, resultado melhor que o consenso de mercado de 5,3%.
O comunicado ressalta que as estimativas de renda e despesas para março refletem a combinação dos aumentos nos salários nos setores público e privado, da renda agrícola (aumento dos preços de commodities agrícolas), renda pessoal sobre ativos (receitas de juros) e do aumento de benefícios sociais governamentais (Medicare e Medicaid).
O aumento de US$ 185,0 bilhões nos gastos com consumo pessoal em valores correntes refletiu os crescimentos de US$ 114,6 bilhões nos gastos com serviços e de US$ 70,4 bilhões nos gastos com bens. No que diz respeito aos gastos com serviços, as altas foram bastante disseminadas, com destaque para o gasto com outros serviços (inclui viagens internacionais); e hotelaria e lazer. Já os gastos com bens foram liderados pela alta do consumo de bens não duráveis, com destaque para gasolina, que foi parcialmente compensada por uma redução no consumo de bens duráveis, principalmente veículos e partes.
O forte avanço dos gastos com consumo pessoal surpreendeu positivamente o mercado, sinalizando que as famílias americanas entraram no segundo trimestre de 2022 bem-posicionadas para impulsionar a economia que contraiu 1,4% t/t no primeiro trimestre do ano. O resultado no mês aponta para uma mudança no perfil de consumo diante do fim da pandemia mais direcionado para o gasto com serviços. Este movimento deve ser acelerado pela inflação, que ao corroer o poder de compra das famílias, limitará os gastos com o consumo de bens em detrimento ao consumo de serviços. Os dados apontam que mesmo diante do elevado nível inflacionário, o maior em quase quatro décadas, a demanda americana se mostra resiliente. Avaliamos que esse fenômeno é decorrente da combinação de um mercado de trabalho bastante apertado, que vem pressionando os salários, e da significativa melhora da saúde financeira das famílias durante a pandemia. Nesse contexto de inflação elevada, agravada pela guerra na Europa, e de uma forte demanda interna, acreditamos que o Fed anunciará na próxima semana um aumento de 50 b.p. na taxa básica de juros americana.
As despesas pessoais avançaram US$ 188,9 bilhões em março. A poupança pessoal recuou em relação ao mês de fevereiro (US$ 1,25 trilhão) ao alcançar o patamar de 1,15 trilhão, de modo que, a taxa de poupança pessoal como proporção da renda disponível saiu de 6,8% para 6,2% no mesmo período.