O cenário atual nos Estados Unidos traz relativas preocupações em relação às taxas de juros, que atingiram o patamar mais alto desde 2008. Isso é particularmente relevante, já que foi nesse período que ocorreu a crise financeira global que desencadeou uma série de eventos econômicos adversos. Além disso, essas taxas estão agora acima daquelas que geraram a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e Silvergate Bank, em março desse ano. O país enfrenta crescentes críticas econômicas, principalmente pelo constante déficit fiscal e aumento da relação dívida/PIB nos últimos anos. Recentemente, o debate acerca da dívida pública vem gerando discussões orçamentárias no Congresso americano que, inclusive, poderiam ter gerado um default político no último ano. Em meio a este cenário, os EUA terão de rolar um terço de sua dívida ao longo de 2024, podendo continuar pressionando a precificação de seus títulos públicos no mercado secundário.
Mesmo que não seja nosso cenário base, tampouco o mais provável, a mera possibilidade de um default, ou novo risco de quebra de instituições financeiras nos EUA, justificam ao investidor buscar um ativo de proteção. Em momentos de maior risco, os investidores tendem a buscar ativos considerados “risk-free” ou de “risco zero”, como títulos públicos e ouro, por exemplo. Se a maior economia do mundo, os Estados Unidos, não puder mais ser considerada um “porto seguro”, é provável que os ativos considerados como reserva de valor se apreciem.
O Bitcoin surgiu como um ativo que possibilitava transações diretas entre duas partes, eliminando a necessidade de intermediários do sistema financeiro tradicional. Essa capacidade desintermediou os modelos de negócios bancários convencionais e desafiou a supervisão governamental sobre transações financeiras. Nossa avaliação sugere que a criptomoeda pode se destacar como uma das principais reservas de valor a se destacar no cenário de degradação econômica. Em linha com a nossa tese, quando o SVB e o Silvergate quebraram o BTC subiu 40% em uma semana.
Além disso, acreditamos que existe uma assimetria estrutural nas reservas de valor tradicionais. A paridade entre o ouro e o mercado de ações está em níveis historicamente baixos. Esse cenário se soma a um ambiente positivo para o BTC, com a possível aprovação de ETFs que poderiam impulsionar o fluxo de investimentos, além do evento de halving programado para o próximo ano, que reduzirá ainda mais a oferta da cripto, e historicamente representa uma narrativa altista para o ativo.
Em nossa avaliação, o BTC funciona como uma “PUT” (opção de venda) contra o sistema financeiro convencional. Como bem observado por Jamie Dimon, na semana passada, o mundo não está preparado para lidar com taxas de juros a 7% e, provavelmente, os portfólios de investimento também não. Portanto, ter uma opção de proteção como o BTC, mesmo que pequena, pode ser altamente conveniente em um cenário econômico cada vez mais incerto.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
A primeira semana de outubro iniciou marcada pela inauguração dos primeiros ETFs de futuros de Ethereum. As empresas ProShares, VanEck, Bitwise, Valkyrie, Kelly e Volshares lançaram coletivamente um total de nove ETFs na Chicago Board Options Exchange (CBOE) na manhã de segunda-feira. O lançamento dos ETFs de futuros de Ethereum ocorrem enquanto a SEC considera sua abordagem a um potencial ETF de BTC à vista, potencialmente sinalizando uma abertura maior para produtos de criptomoedas à vista em breve.
Apesar do otimismo gerado pela aprovação de negociação dos ETFs, devemos reconhecer que o momento de mercado permanece não sendo o mais apropriado. Durante as primeiras horas de negociação os ETFs recém-lançados haviam negociado pouco menos de US$ 2 milhões. Em comparação, o primeiro ETF de futuros de BTC, lançado no ápice do bull market, negociou quase US$ 1 bilhão em seu primeiro dia. Acreditamos que a presença do veículo de investimento será relevante para o ativo no longo prazo, entretanto, só mostrará sua relevância em uma situação de mercado mais favorável.
Análise de Mercado
A Câmara dos Estados Unidos aprovou um projeto de financiamento temporário para manter o governo funcionando nos próximos 45 dias, evitando uma paralisação. O Senado também aprovou um projeto de gastos de última hora no sábado à noite, que foi assinado pelo Presidente Joe Biden. Mas isso apenas significa que o Congresso terá mais 6 semanas para chegar a um acordo sobre o orçamento final. Vale ressaltar que a decisão apressada quanto a aprovação dos ETFs de futuros de Ethereum, em partes foi motivada por conta do receio de paralisação do Congresso.
Já no cenário macroeconômico, devemos ficar atentos aos diversos dados de PMI e de emprego que serão divulgados nessa semana, encerrando com os dados de payroll na sexta-feira. Além disso, teremos diversas falas ao longo da semana de membros do FOMC e do ECB, com destaque para Powell, que discursou na segunda-feira, e Christine Lagarde, que discursará na quarta-feira.
Análise Técnica
Na última semana, o preço do BTC subiu após encontrar suporte nas médias móveis de 50 e 100 períodos, próximas aos US$ 27k. No entanto, parte do otimismo do mercado é derivado da recente aprovação dos ETFs de futuros de Ethereum, que foram recebidos como mais um passo de proximidade à aprovação dos ETFs à vista.
Na segunda-feira o BTC começou a perder o impulso de alta, não conseguindo superar a resistência em US$ 28,6k, a principal resistência antes dos US$ 30k. Dado a perda do momento otimista e início de correção, acreditamos que o BTC possa voltar a ser negociado próximo da zona amarela.