Os ciclos de mercado são fenômenos recorrentes e fundamentais para a precificação de ativos financeiros. No contexto das criptomoedas, não é diferente. Howard Marks, um dos investidores de maior sucesso mundialmente, costuma enfatizar a importância de observar os ciclos como um indicador chave da tomada de decisão. Um dos principais ciclos que podemos observar pela sua repetição ao longo do tempo é o de crédito.
No ciclo de crédito, um período de excesso de alavancagem e aumento das taxas de juros leva a um aumento na inadimplência e a uma desaceleração do crédito. No entanto, quando o crédito desacelera e taxas de juros caem, a inadimplência cai, incentivando uma nova alta das concessões. Esse ciclo se repete indefinidamente, impactando diversos setores.
A identificação do estágio atual do ciclo de mercado pode ser relativamente simples, ao analisar múltiplos de ações, taxas de juros, confiança dos investidores e alavancagem do mercado em relação aos seus respectivos históricos. No caso dos ativos de tecnologia, a análise desses fatores não nos deixa otimistas, pois apesar das taxas de juros já estarem altas, os múltiplos das ações ainda são elevados e a confiança dos investidores continua alta.
Por outro lado, os criptoativos parecem estar mais próximos ao fundo do ciclo. Como geralmente não remuneram o capital, esses ativos também tendem a ser beneficiados por potenciais baixas nas taxas de juros. Entretanto, diferentemente do mercado acionário, a confiança dos investidores em cripto segue baixa e a indústria já se desalavancou significativamente, principalmente devido à quebra de importantes empresas. Algumas delas foram a FTX, Celsius e 3AC, que vinham utilizando dinheiro de clientes para fazer investimentos no setor.
Outro fator positivo é o halving, evento que ocorre a cada 4 anos com o Bitcoin, reduzindo pela metade a recompensa de mineração. O próximo halving ocorrerá em abril do ano que vem. Esses eventos têm sido gatilhos para os últimos ciclos de alta em criptomoedas, como ocorreu em 2017 e 2021.
Considerando a perspectiva dos ciclos de mercado, acreditamos que as criptomoedas estão em um momento favorável, ou seja, próximas ao fundo do ciclo. Isso cria uma oportunidade para aplicar uma das dicas mais básicas para os investidores, mas também uma das mais difíceis de executar: comprar na baixa. Mais à frente quando nos aproximamos do topo do ciclo, a preocupação se voltará para a próxima regra: vender na alta.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
Na sexta-feira da semana passada, a Grayscale enviou uma carta à SEC defendendo a aprovação simultânea de todos os ETFs de Bitcoin à vista pendentes, incluindo as próprias aplicações anteriormente rejeitadas, para evitar vantagens competitivas injustas. A empresa afirma que a aprovação individual das propostas de ETF concederia uma vantagem injusta ao primeiro aprovado. A carta da Grayscale vem após a rejeição da SEC à tentativa de converter o Grayscale Bitcoin Trust (GBTC) em um ETF em 2021, levando a empresa a processar a SEC. A ação judicial deve ser concluída nos próximos meses e afetará o desconto atual do GBTC em relação ao BTC à vista. O desconto, que chegou a 48,5% no início deste ano em janeiro, foi reduzido para 28% com os novos pedidos de ETF gerando especulações de que isso resultará, em breve, na aprovação do ETF do GBTC, encerrando o período de desconto do trust frente ao BTC.
Outra notícia relevante da semana passada ocorreu durante o final de semana, quando a Curve Finance, uma das principais plataforma de finanças descentralizadas (DeFi) do mercado, foi alvo de um ataque hacker. Os alvos do ataque foram algumas piscinas de liquidez do protocolo que utilizavam a linguagem de programação ‘Vyper’, em versões desatualizadas da linguagem. A Curve esclareceu que os contratos de sua stablecoin, crvUSD, não foram afetados. Atualmente, a Curve opera mais de 200 piscinas de liquidez diferentes, porém, apenas aquelas que utilizam as versões desatualizadas de Vyper foram afetadas. O prejuízo é estimado em cerca de US$ 50 milhões e causou um desequilíbrio no mercado DeFi, pois inúmeros protocolos utilizam as piscinas de liquidez da Curve. Desde o ataque, o valor total bloqueado no protocolo Curve Finance caiu 43%, e seu token nativo CRV sofreu uma queda de 18%, refletindo as dificuldades enfrentadas por muitos tokens no mercado de baixa.
Análise de Mercado
Na quarta-feira, o Federal Reserve aumentou as taxas de juros em 25 pontos-base, conforme esperado pelo mercado. O PIB dos EUA superou as expectativas, enquanto os pedidos de desemprego ficaram abaixo do esperado, sinalizando que a economia segue resiliente. Contudo, os dados de inflação estão dando sinais de queda. Nesta semana, os mercados estarão atentos aos números de empregos não agrícolas, que darão uma boa indicação da força da economia dos EUA.
Atualmente, o mercado não precifica novos aumentos de taxas de juros dos EUA em 2023 e prevê o primeiro corte em mai/24. A proximidade com o horizonte de corte de juros pode voltar a trazer volatilidade para os mercados de ativos de risco. Ademais, com a resiliência da economia, é possível que tenhamos novas surpresas no que se refere a inflação e política monetária, eventualmente com a continuidade dos aumentos ou manutenção de uma taxa de juros elevada por mais tempo do que o esperado hoje. Caso o ciclo de aperto monetário se estenda, ativos de risco, como criptoativos, podem ter a sua cotação prejudicada.
Análise Técnica
O Bitcoin teve uma semana tranquila após uma queda de preço na segunda-feira, atingindo uma mínima mensal de quase US$ 29.000. Os investidores conseguiram estabilizar a situação nos dias seguintes, mantendo o ativo acima desse nível durante a maior parte da semana. A decisão do Federal Reserve de aumentar as taxas de juros na quarta-feira não trouxe grande volatilidade para o Bitcoin, que permaneceu abaixo de US$ 30.000.
No gráfico de 4 horas, um padrão de cunha descendente tem se formado desde o início de julho. No entanto, o preço parece estar rompendo para cima. Se o rompimento for válido, é provável que o mercado entre em uma nova fase de alta e suba ainda mais. Porém, há ainda uma chance de que o rompimento seja falso, o que seria desastroso. Rompimentos falsos geralmente levam a grandes quedas e, neste caso, poderiam resultar em uma rápida queda em direção ao suporte de US$27.500 no curto prazo. Apesar disso, com o indicador RSI mostrando valores acima de 50%, o momentum está a favor dos compradores, e uma movimentação de alta parece mais provável.
Outros destaques desta semana incluíram UNI, MKR e XDC, com ganhos semanais de 4,48%, 15,04% e 12,34%, respectivamente. O hype em torno do recém-anunciado protocolo “UniswapX” da Uniswap impulsionou a alta do token UNI, atingindo uma máxima de três meses no domingo. O programa de recompra de tokens da MakerDAO continuou a impulsionar a demanda pelo token MKR. A conhecida meme-coin, Doge, se valorizou em meio as especulações de que a reformulação de Elon Musk no Twitter para “X” pode envolver o uso de DOGE, após o bilionário colocar o logo da criptomoeda no perfil oficial da plataforma.
ECI (Expresso Cripto Index)
Nesta semana, o ECI e seu benchmark, o NCI, alcançaram 21,5% e 35,7% de performance acumulada, respectivamente.
A atual composição do índice pode ser observada na tabela abaixo. Vale ressaltar que esse é um índice passivo, composto pelos 10 protocolos que mais geraram taxas de rede nos últimos 30 dias, com rebalanceamento na primeira terça-feira de cada mês.