A tarifa de transmissão de energia elétrica no Brasil é extremamente alta, o que durante muito tempo inviabilizou a mineração de bitcoin no país. Por ser muito intensiva em consumo energético, a mineração de bitcoin é uma atividade muito cara no país. No entanto, se fosse possível minerar bitcoin pagando somente a tarifa de geração de energia elétrica, a atividade passaria a ser viável no país. A tarifa de geração é muito menor do que a de transmissão, e a incidência apenas dela baratearia muito o custo de operação das mineradoras.
Se comparada a última década e a outros países, atualmente a tarifa de geração de energia no Brasil está barata. Os principais fatores para o baixo preço são o crescimento da matriz energética acima da demanda que havia sido projetada, o aprendizado do operador nacional do sistema da matriz energética e dos reservatórios hídricos, e o desenvolvimento tecnológico para melhoria da eficiência de fontes renováveis. Esse cenário gerou um excedente energético que reduziu os preços.
O excedente de geração de energia no Brasil tende a gerar uma perda econômica significativa para as geradoras. Elas terão capacidade de produzir energia, mas potencialmente não haverá demanda para comprá-la. Assim como introduzimos na última newsletter, a mineração de bitcoin tem potencial de monetizar excedentes energéticos.
As geradoras podem monetizar o excedente de energia se conectando a mineradoras de bitcoin. Os bitcoins minerados, por serem digitais, podem ser vendidos em qualquer lugar do mundo pagando somente a taxa de rede, que é muito inferior a qualquer tarifa ou custo de transmissão. Apesar de ainda não termos nenhum caso concreto no Brasil, a tese de mineração de bitcoin no Brasil nos parece fazer cada vez mais sentido, e acreditamos que poderá ser uma tendência para o futuro.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
A Coinbase, uma das principais Exchanges do mundo, anunciou que irá desenvolver a Base, uma blockchain de segunda camada da Ethereum. Uma blockchain de segunda camada tem como objetivo deixar as transações mais baratas e rápidas, auxiliando a adoção e construção de aplicativos descentralizados em cima da blokchain. A Base deverá se integrar aos produtos Coinbase, podendo ser a primeira interação de parte dos 100 milhões de clientes da Coinbase com blockchain.
Em se tratando especificamente do ecossistema Ethereum, a Lido Finance registrou 150 mil novos Ethers sendo colocados em stake em um único dia, o maior volume já registrado neste período. A Lido emite certificados de Ethers deixados em stake, dando liquidez a Ethers que estejam travados para realizar a validação das atividades da rede.
Estamos otimistas com a Lido por conta da próxima atualização da Ethereum, batizada de Shangai. Prevista para acontecer em março, a Shangai será a responsável por permitir a retirada dos Ethers travados em stake, algo que não é possível atualmente. Até o momento, manter os Ethers em stake fornece a rentabilidade da rede, entretanto, por não ser possível resgatar o capital alocado, a maior parte dos investidores acaba com receio de alocar Ethers para a validação na blockchain. O sucesso da Shangai deverá reduzir esse receio e permitir que mais capital seja direcionado para a validação da Ethereum, beneficiando tanto a rede, como protocolos de staking líquido, como a Lido.
Por último, presenciamos outro episódio inoportuno na Solana, uma das principais concorrentes da Ethereum. A Solana sofreu novamente com um período de inatividade, fazendo com que as transações não fossem processadas por dezenas horas. Após um longo período, os engenheiros da rede consideraram o problema resolvido. Este fato ocorre após vários períodos de inatividade ao longo da história da Solana, problema recorrente causado pela arquitetura da rede.
Análise de Mercado
O mercado acreditava que o fim do ciclo de aperto monetário estava próximo devido às sinalizações do Fed, mas dados recentes de atividade econômica mostraram-se mais fortes do que o esperado e os últimos dados de PCE indicaram uma inflação acima da expectativa do mercado. Além disso, a ata da última reunião do FOMC mostrou que a decisão por um aumento de 25bps não foi unânime entre os membros do Fed, com alguns deles acreditando na necessidade de um aumento mais expressivo. Como consequência da reprecificação da curva de juros americana, os ativos de risco sofreram, puxando também os principais criptoativos.
Acreditamos que a incerteza macroeconômica continuará afetando os ativos digitais, e destacamos que uma possível retomada de maiores aumentos das taxas de juros americanas poderá causar grandes impactos nos mercados de ativos de risco. Os dados de PMI serão os principais a serem observados nesta semana. Dados fortes de PMI corroborarão com a narrativa de que o Fed precisará continuar aumentando a taxa de juros por mais tempo e em maior magnitude para conter a inflação do país.
Análise Técnica
O Bitcoin acumulou cerca de 6% de desvalorização nos últimos 7 dias. Na semana passada houve uma tentativa frustrada de rompimento da resistência imediata do ativo em US$ 24,5k, fazendo com que o Bitcoin voltasse a ser negociado dentro da região de congestão delimitada pela resistência imediata e o suporte imediato em US$ 21,5k.
Podemos ressaltar também o cruzamento da MME (Média Móvel Exponencial) de 50 e 200 períodos, movimento que teoriza um movimento altista. Por conta disso, acreditamos ser interessante observar qualquer retração para a MME50, atualmente na faixa de US$ 22,3k, que pode servir como suporte para um eventual reteste da resistência imediata.
Entretanto, como discutido anteriormente, a degradação das condições macroeconômicas nos faz acreditar que novas altas são improváveis no curto prazo. A narrativa macro deve ser forte o suficiente para quebrar qualquer padrão gráfico altista do Bitcoin e a observação dos novos dados de inflação americana são imprescindíveis para análise dos próximos movimentos do mercado cripto.
ECI (Expresso Cripto Index)
Nesta semana o ECI continuou com uma performance acumulada superior ao NCI. Desde o ínicio, o ECI acumula alta de 21,1%, em comparação a 12,3% do NCI. A boa performance foi resultado da valorização de altcoins, mais presentes no ECI.
A principal variação na composição do índice foi entre Lido e Uniswap. A boa performance do token LDO, puxada pela narrativa da próxima atualização da Ethereum, rendeu ao ativo um ganho de participação de 3,63pp no ECI. O token UNI teve a pior performance da semana, acumulando mais de 12% de desvalorização, o que gerou uma perda de 2,31pp na participação do índice. Os demais ativos não tiveram variações significativas na composição.