Recentemente a custódia de criptoativos voltou a ser comentada, após a Ledger, a principal fabricante de hardwallets do mercado, lançar um novo produto chamado Ledger Recover. O produto oferece a recuperação da frase de segurança, também conhecida como seed phrase, caso o cliente a perca. Na prática, o Recover divide a chave privada em três partes, custodiando uma parte com o usuário e as demais em entidades terceiras. Com somente duas partes seria possível assinar uma transação, permitindo a recuperação da carteira. A fim de utilizar o serviço, o usuário precisaria submeter a Ledger a uma atualização de software, contratar o produto e fornecer uma identificação pessoal.
Até então, a Ledger propagandeava ser impossível remover a chave privada de sua hardwallet. Justamente a impossibilidade de remover a chave privada do dispositivo físico garantiria a segurança da carteira. No entanto, o Ledger Recover pressupõe a retirada da chave privada do dispositivo, o que gerou grande preocupação e fez com que suposições de que a Ledger não fosse de fato segura se espalhassem rapidamente.
A fim de entender, se de fato, as suposições se justificam, precisamos compreender como a Ledger funciona. O objetivo de uma hardwallet é armazenar a chave privada dentro do dispositivo. Por precisar interagir com a blockchain para assinar transações, invariavelmente o software da Ledger interage com o dispositivo onde está a chave privada. Para aprovar uma transação e utilizar a chave privada, o software exige uma verificação no aparelho físico. Ou seja, de fato a Ledger já tem acesso a sua chave privada, mas requer uma confirmação física para utilizá-la.
A principal preocupação que podemos levantar com as carteiras da Ledger é que elas estão a uma atualização de um software malicioso, ou com uma vulnerabilidade, que possa comprometer o segredo no dispositivo. A segunda preocupação é que não sabemos até que ponto a Ledger tem acesso ao segredo da carteira, e se a possibilidade de o retirar do dispositivo antecede a última atualização. A última preocupação é fruto do código fechado da Ledger, ou seja, um código que não pode ser auditado pelo público. A principal concorrente da Ledger, a Trezor, possui código aberto.
Na nossa percepção, o Recovery é um produto positivo para o usuário geral de cripto, principalmente para democratizar o acesso a hardwallets. O produto auxilia a mitigar o risco de perda do dispositivo e da chave privada, benéfico principalmente para novos usuários de cripto. Além disso, a maioria dos riscos envolvendo a Ledger, apesar de só terem vindo à tona agora, já estavam presentes na carteira. Para contorná-los, os usuários podem optar por utilizar hardwallets de código aberto, ou seja, que podem ser auditadas pelo público geral, permitindo identificar o nível de segurança da carteira e eventuais vulnerabilidades.
Por fim, vale ressaltar que mesmo com as inseguranças levantadas recentemente, na nossa avaliação as hardwallets seguem sendo uma opção segura de custódia. Comparativamente, as exchanges, por exemplo, tem o risco de má alocação dos recursos de clientes, como foi o caso da FTX, ou dado o grande volume que circula em seus ambientes são alvos mais atraentes para hackers.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
Dentre os principais acontecimentos da semana, podemos destacar a aprovação por unanimidade da MiCA, o conjunto de regulações que estabelece as diretrizes para o uso de criptoativos na União Europeia. A aprovação da MiCA coloca a União Europeia como uma das principais localidades a oferecer uma regulação mais clara e amigável ao setor cripto.
Outra importante declaração partiu da Tether, empresa emissora da USDT, atualmente a maior stablecoin por capitalização de mercado. A Tether anunciou que começará a usar até 15% de seus lucros mensais para comprar Bitcoin. Dada a declaração de lucro bilionária, esse volume recorrente de compra, durante um mercado de baixa, pode se mostrar importante para fazer com que o Bitcoin continue aumentando sua dominância no mercado cripto.
Análise de Mercado
Na última semana, o mercado de criptoativos permaneceu com baixos volumes de negociação devido à falta de gatilhos inerentes à cripto. No lado macroeconômico, devemos ficar atentos à indicações de possíveis aumentos das taxas de juros pelo Fed na próxima reunião e a questão do teto da dívida dos EUA. Ambos os assuntos podem servir como motivo para a próxima grande movimentação de preços. Embora não esteja claro como exatamente o teto da dívida impactará o mercado de criptoativos, é importante estar preparado para alta volatilidade nas próximas semanas.
Nesta semana, o mercado monitorará de perto as declarações do FOMC e a divulgação dos dados de Renda e Gastos Pessoais dos Estados Unidos. Esses eventos fornecerão informações sobre o atual posicionamento de mercado do bitcoin, e a partir da sua movimentação, conseguiremos ter uma melhor noção da narrativa que está reinando sobre o BTC, seja ela reserva de valor, ou ativo de risco.
Análise Técnica
Após mais uma semana de consolidação, o BTC permanece em uma região de congestão que se expandiu, agora com um novo suporte imediato em US$26.600 e a antiga resistência imediata em US$30.625. A resiliência da região de congestão nos faz reafirmar a força que ela vem construindo. No final do pregão desta segunda-feira, o ativo registrou um ganho de 0,6%, confirmando um repique no suporte imediato.
A extensão da baixa volatilidade e baixo volume de negociação no mercado está se assemelhando aos períodos de janeiro de 2023 e julho de 2020, ambos os quais precederam grandes movimentos do mercado. Podemos ressaltar também a oferta circulante de Bitcoin e Ethereum, que atingiram as mínimas de 2017 e 2015, respectivamente. Por conta desses fatores, acreditamos em alta volatilidade atingindo o mercado no curto prazo.
O Índice de Força Relativa – IFR 14 – que mede a força da tendência do ativo, permanece nos 42 pontos, o mesmo patamar da semana passada, indicando um mercado de distribuição. Apesar da incerteza macroeconômica, acreditamos em um cenário de correção até o suporte em US$25,25k, considerado como um forte suporte, que por muito tempo foi visto como uma das principais resistência do BTC.
ECI (Expresso Cripto Index)
Nesta semana, o ECI e seu benchmark, o NCI, alcançaram 15,7% e 27,2% de performance acumulada, respectivamente. Devido à pequena variação de preços generalizada do mercado ao longo da semana, houve pouca variação entre os índices.
Dentre os ativos que compõem o ECI, nesta semana podemos destacar a melhor performance da Tron. O token TRX teve um ganho de 1,86% na composição do índice.