A cultura da internet se popularizou em função da tecnologia permitir uma alta velocidade de propagação das informações. Quando uma informação, geralmente contendo humor, se torna popular na internet podemos dizer que se tornou um meme.

Por ter nascido digital, o mercado cripto passou também a ser tema de memes, não só através de piadas, mas também com a criação de criptoativos, que ficaram conhecidos como meme coins.  

Apesar da intenção original da criação de meme coins ter sido fazer uma piada dentro de uma comunidade, elas rapidamente atingiram valores de mercado que superaram os bilhões de dólares. A grande valorização aconteceu após celebridades passarem a reproduzir a piada, divulgando as meme coins para seus milhões de seguidores.

Mesmo sem nenhuma aplicação prática, as pessoas passaram a comprá-las dada expectativa de que a divulgação em massa criasse demanda pela moeda e fizesse seu preço aumentar. Atualmente existem centenas de meme coins, mas os principais exemplares são a Dogecoin e a Shiba Inu, que somam mais de US$ 10b em valor de mercado.

A única funcionalidade para as meme coins é sua utilização como moeda, pois podem ser utilizadas como meio de troca ou para guardar valor ao longo do tempo. Para moedas tradicionais, como o dólar ou o real, o principal atributo que lhes confere valor é seu emissor, geralmente representado pelos governos e bancos centrais.

Assim, quanto maior a confiança no emissor e sua política monetária, mais forte tende a ser uma moeda. Colocando em contexto, a política monetária das criptomoedas é definida na sua criação, e no caso das meme coins, sua política monetária, com altas taxas de inflação e oferta ilimitada, nos faz crer que estão fadadas a perder valor.    

Rinha de Cachorros Digitais

Dogecoin: 1º Meme Coin

A Dogecoin é considerada a primeira meme coin e foi inspirada pelo popular meme “Doge”, protagonizado por um cachorro da raça Shiba Inu com frases engraçadas. Embora tenha sido inicialmente projetada como uma forma de zombar da especulação nos mercados de criptomoedas, uma comunidade própria rapidamente se desenvolveu em torno dela. No início, a Doge passou a ser utilizada como forma de explicar a funcionalidade da blockchain, permitindo que novos investidores experimentassem a tecnologia sem se preocupar em utilizá-la erradamente e acabar perdendo ativos valiosos. Como resultado, a Doge passou a ter uma tese única, pautada em ser uma moeda democrática e divertida.

O nome Doge é derivado da palavra “dog”, cão em inglês, com um erro ortográfico proposital, justamente para enfatizar a piada por trás do meme. Com o passar do tempo, Doge começou a ganhar tanta popularidade que fez com que seu preço começasse a ser impulsionado para cima. A valorização criou FOMO ou “fear of missing out”, conceito que remete ao medo dos investidores de não ganharem com a alta de um ativo enquanto outros aproveitaram.

A alta volatilidade e a popularidade de Doge fizeram com que ganhasse ainda mais popularidade nas redes sociais, chegando ao ponto de ter Elon Musk, CEO da Tesla e Space X, falando frequentemente sobre a Dogecoin em seu Twitter, e se autoproclamando o “Pai da Doge”. O frenesi gerado por este marketing inusitado fez com que o valor de mercado da Doge ultrapassasse US$ 80b durante a alta do mercado cripto em 2021. Mesmo no atual mercado de baixa, o valor de mercado da Doge segue superior a US$ 7b, tornando-a uma das 10 maiores criptomoedas em valor de mercado.

O grande sucesso do caso da Doge fez com a piada se espalhasse, fazendo com que outras moedas meme inspiradas em cachorros fossem criadas, entre elas a Shiba Inu (SHIB). A SHIB foi desenvolvida por um programador anônimo, que a batizou como “matadora da Dogecoin”. Assim como sua rival, SHIB foi criada apenas pela piada, sem diferenciais competitivos ou casos de uso, mas não demorou para ter uma grande comunidade dedicada formada, protagonizada tanto por pessoas que compraram a piada de uma guerra entre as moedas de cachorros, quanto por especuladores que presenciaram a valorização de Doge e imaginaram que ela poderia se repetir com SHIB. Atualmente SHIB tem um valor de mercado superior a US$ 5b e ocupa a décima quinta colocação no ranking de criptomoedas por valor de mercado.

O Que Mais Aconteceu na Semana?

Diferentemente das meme coins, quem parece não estar de brincadeira com cripto é o Google. Nesta semana, a Alphabet, proprietária do Google, anunciou uma parceria com a Coinbase, segunda maior exchange de criptoativos do mundo.

A gigante das buscas na internet vai passar a permitir que seus serviços de armazenamento de dados em nuvem, Google Cloud, sejam pagos em criptomoedas. O suporte às negociações em cripto será prestado pela Coinbase. O anúncio da parceria refletiu positivamente no valor das ações da Coinbase, que chegou a valorizar quase 5% nas horas seguintes à divulgação.

As novidades do Google com o universo cripto continuaram no dia seguinte, quando anunciaram que também integrarão ao Google Search a possibilidade de pesquisa de endereços de blockchain. Dessa forma, será possível acessar os endereços de blockchain de maneira ainda mais simples, diretamente do buscador, colaborando ainda mais com a transparência que a tecnologia blockchain oferece.

Análise de Mercado

Como antecipamos nas últimas duas edições do Expresso Cripto, a alta correlação de cripto com o mercado tradicional fez com que a divulgação dos dados de inflação norte-americana causasse o aumento da volatilidade nos criptoativos. A inflação foi de 8,2%, ficando acima dos 8,1% aguardados pelo mercado. A inflação acima das expectativas infere que o Fed terá que aumentar os juros para patamares mais contracionistas, prejudicando a precificação de ativos de risco. O BTC variou quase 9% poucas horas após a divulgação dos números, atingindo o valor mínimo de US$ 18,2k, mas recuperando o patamar de US$ 19k horas depois.

O próximo evento macroeconômico que pode movimentar os mercados de ativos de risco é a temporada de apresentação de balanços das empresas americanas, que começa nesta semana. O resultado das principais empresas da bolsa de valores americana será um indicativo sobre as atuais condições de mercado, podendo sinalizar uma desaceleração da economia americana como consequência do ciclo de aperto monetário.

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