A semana foi desafiadora para o mercado de criptoativos. A alta volatilidade experienciada pelo mercado novamente é justificada pelo cenário macroeconômico. Com a piora da crise energética da Europa o euro voltou a ser cotado abaixo do dólar, e o índice de força do dólar (DXY) alcançou o maior patamar dos últimos 20 anos.
O principal evento responsável por movimentar o mercado foi a declaração de Jerome Powell, durante o simpósio de Jackson Hole. O Banco Central americano (FED) manteve um discurso hawkish frente à situação da inflação do país. Em outras palavras, o FED deu a entender que não descarta novos aumentos na taxa de juros para combater a crescente inflação, o que fez com que os criptoativos reagissem em conformidade com o mercado tradicional, fazendo com que o Bitcoin desvalorizasse 7.4% no dia, perdendo o suporte de US$ 20k e atingindo US$ 19,6k, o menor valor das últimas 6 semanas.
De maneira geral, não houve alteração significativa no cenário macroeconômico para justificar novos aumentos de preços dos ativos de risco. É possível que o Bitcoin esteja formando o fundo do atual ciclo de baixa, porém os fatores exógenos ao mercado se mostram persistentes e podem representar novas quedas no curto prazo.
O sentimento negativo de mercado é evidenciado pelo índice de medo e ganância, que retornou para os níveis de medo extremo.
O Bitcoin está caminhando para um fechamento de mês com mais de 13% de desvalorização, uma performance bem pior que a Ethereum, que acumula cerca de 6% de desvalorização no mesmo período.
Durante a última semana, as taxas de transação de rede do Bitcoin caíram mais 21%, atingindo a menor média semanal desde Abr/2020.
A redução nas taxas de transação foi causada pelo expressivo aumento da hashrate da blockchain do Bitcoin. Por conta do aumento da hashrate, a rede está com uma previsão de aumento no nível de dificuldade de mineração em mais de 9%. Esse será o maior aumento de dificuldade sofrido pela rede desde Jan/22.
Mesmo que o ajuste de dificuldade normalize a velocidade de criação de novos Bitcoins, devemos ressaltar que a atividade geral na blockchain do Bitcoin continua baixa. Essa métrica pode ser observada a partir do indicador de oferta de Bitcoins que não se movimentam a mais de um ano. Esse indicador mostra um novo recorde de 65.7% do total de Bitcoins em circulação sem movimentação.
Durante o mês de agosto, a representatividade de mercado do Bitcoin caiu de 41.2% para 39.1%, enquanto a do Ethereum subiu de 18.6% para 19.4%. O ganho de representatividade do Ethereum frente ao Bitcoin é explicado pela antecipação ao evento de Merge, marcado para acontecer em 15/Set, e que mudará completamente o modelo econômico da rede Ethereum.
Em vez de mineradores responsáveis pela segurança da rede, ela passará a contar com validadores apostando (colocando em stake) ETH na rede. Realizar o stake de ETH antes do sucesso da atualização de Merge envolve o risco da possível falha da atualização. Apesar de improvável, o risco existe, o que fez com que a maior parte dos ETH permanecessem fora do contrato de stake.
Mesmo com uma baixa proporção de ETH em stake, frente à oferta total de ETH, podemos notar que a quantidade de ETH em stake mais do que dobrou no último ano, saindo de cerca de 6 milhões para mais de 13 milhões de tokens ETH.
O evento de Merge fez com que muitos investidores tomassem posições em tokens derivativos do ETH em stake (assim como o stETH, da Lido Finance e o cbETH, da Coinbase). No entanto, mesmo que não haja certeza de que a diferença de preço entre os tokens derivativos e o ETH seja arbitrada, pode-se esperar que ela diminua, visto que o retorno da atividade de staking deve se manter consistente.
O mercado de derivativos sofreu uma queda na base de futuros, fazendo com que alguns mercados futuros de exchanges passassem a operar com desconto frente ao mercado à vista. Após o Jackson Hole, posições short se acumularam, fazendo com que a base média diária de futuros atingisse território negativo. A última vez que valores negativos foram alcançados foi em Mar/2020, durante o crash causado pela pandemia.
Essa movimentação de alocação em posições de proteção contra a queda dos preços também serve como indicador do forte sentimento negativo que paira sobre o mercado. Dessa forma, dado o que costumamos mencionar sobre se posicionar de maneira oposta ao consenso de mercado, esse momento se torna interessante para que se mantenham os aportes periódicos em sua carteira de criptoativos. A assimetria de risco nos atuais preços de mercado se faz mais propensa à uma posição apostando na alta de preços dos criptoativos dentro de um horizonte de longo prazo.