Esta foi a semana mais agitada para o mercado de criptoativos em muitos meses. O primeiro marco a ser ressaltado foi o colapso do token Luna e da moeda Terra, que perderam cerca de US$ 35b em capitalização de mercado em apenas 3 dias, constituindo uma das maiores crises financeiras já vistas no mercado cripto. Além disso, pela primeira vez na história do Bitcoin, a moeda encerrou sete semanas consecutivas em queda, acumulando 11% de desvalorização na semana.
A correlação do Bitcoin com o mercado tradicional continua nas máximas históricas. O cenário macroeconômico segue adotando um comportamento de aversão ao risco, ou seja, desfavorável para qualquer reversão de tendência no curto prazo.
Os principais pontos a serem observados nos próximos meses serão a elevação da curva de juros de títulos públicos norte-americanos, a inflação ao redor do globo e o prolongamento do lockdown chinês, fatos que podem desacelerar a economia global e refletir nos preços das criptos.
O fim da novela Terra – Luna?
Introduzimos o caso em nosso último relatório semanal. Em resumo, o funcionamento do sistema ocorre a partir da demanda da stablecoin TerraUSD (UST). Quando a demanda por UST aumenta, ocorre uma queima de Luna, reduzindo assim a oferta e aumentando seu preço. Quando a demanda por UST diminui, ocorre a emissão de Luna, aumentando assim a oferta e reduzindo seu preço.
Após o UST perder a paridade com US$ 1 em token Luna, a confiança no ecossistema como um todo foi quebrada, ocasionando o que ficou conhecido como “espiral da morte”. Esse efeito ocorreu devido a rápida venda de UST, que fez com que sua cotação se afastasse cada vez mais de US$ 1. A desconfiança também impactou o token Luna, tendo em vista que seu valor se pautava na tese de que teria um aumento de demanda ao longo do tempo para a criação de mais UST.
Para criar um UST, o equivalente a US$ 1 em Luna precisava ser queimado. A queda constante no preço de Luna fez com que cada vez mais tokens Luna fossem necessários para criar a equivalência a US$ 1, criando um processo de hiperinflação no token.
A emissão de Luna passou da faixa de bilhões de tokens por minuto e atualmente conta com 6.9 trilhões de tokens em supply circulante, sendo negociada por frações de centavos.
Do Kwon, criador do projeto, se pronunciou apenas duas vezes em seu Twitter pessoal, informando que estavam estudando formas de recuperação para os tokens, visto que as reservas que possuíam em Bitcoin (aproximadamente US$ 2b) não foram suficientes para sustentar o preço do UST.
Luna Foundation Guard (LFG) enviou seus BTC para arbitradores de mercado, como pode ser observado pelo aumento do volume de Bitcoin recebido por corretoras nos dias 9 e 10 de maio. A venda das reservas da LFG provavelmente adicionou pressão vendedora no mercado já tumultuado, o que colaborou para o valor mínimo do BTC no ano, atingido essa semana.
Uma das soluções propostas foi um hard fork na rede Luna. Hard Fork é a criação de uma “bifurcação” na blockchain, criando uma nova rede a partir de um ponto em que não estivesse comprometida. A ideia foi criticada por personalidades relevantes no mercado cripto, incluindo Changpeng Zhao, CEO da Binance, e Vitalik Buterin, co-fundador da Ethereum. O principal problema da rede permanecerá sendo a desconfiança gerada sobre o protocolo e seu fundador, fazendo com que as chances de reativação da rede sejam praticamente inexistentes.
Apesar do UST e da Luna ainda serem negociadas em algumas corretoras, o capital restante no ecossistema é pequeno e puramente especulativo, alocado por pessoas que estão apostando em notícias que poderiam fazer a moeda voltar a se valorizar e traders se aproveitando da alta volatilidade criada pelo baixo volume de capital no projeto.
Nas máximas históricas o ecossistema chegou a concentrar mais de US$ 60b em capitalização de mercado, caracterizando esse colapso financeiro como um dos maiores que já ocorreram.
Stablecoins e Regulação
Stablecoins são o meio do caminho entre as moedas fiduciárias e os criptoativos. Elas têm o objetivo de serem menos voláteis que outros criptoativos e costumam estar pareadas ao valor de outro ativo, sendo o dólar o mais comum deles. Os principais tipos de stablecoins são (i) as colateralizadas por moeda fiduciária; (ii) as colateralizadas por outros criptoativos; (iii) as colateralizadas por commodities e; (iv) as algorítmicas.
A repercussão do caso Terra-Luna foi tamanha que chamou a atenção de Janet Yellen, Secretária do Tesouro dos EUA. “Precisamos de uma estrutura abrangente para que não haja lacunas na regulamentação”, disse ela, se referindo às stablecoins.
Sobre o efeito gerado pela Terra, Yellen completou dizendo “Tivemos uma demonstração real dos riscos”.
As stablecoins são os ativos que permitem a integração dos mercados tradicionais com o mercado de finanças descentralizadas. Se apresentam como o principal meio para a adoção de criptomoedas em mercados de crédito e empréstimos, enquanto reúnem características antes inerentes somente às moedas fiduciárias. Dados esses motivos, o caso Terra-Luna pode ter sido o principal catalisador para uma aceleração na regulação do mercado de criptomoedas como um todo.
Dados On-Chain
O mercado perdeu em torno de US$ 300b em capitalização de mercado ao longo da semana, chegando a US$ 1,16t, mínima do ano.
A dominância do BTC frente ao mercado total de criptoativos está aumentando gradativamente e chegou a 45%, maior valor registrado no ano. O aumento na concentração de Bitcoin sinaliza a fuga de capital de altcoins para ele, fator essencial para a caracterização de um mercado de baixa.
A média móvel de 200 semanas costuma ser utilizada como um dos principais indicadores técnicos para determinar fundos no gráfico do BTC. Como o nome diz, o indicador aponta o valor médio em que o BTC foi negociado nas últimas 200 semanas. Em cada ciclo de mercado, historicamente, o preço do Bitcoin apresentou fundos nessa média. Atualmente o indicador está em US$ 22k, o que representaria uma queda de mais 25% no preço atual do BTC.
Mercado institucional no mundo cripto
- Ministério Federal das Finanças da Alemanha afirmou em nova diretriz que não haverá imposto sobre vendas de BTC e Ether que estejam a mais de 12 meses em carteira;
- A maior empresa detentora de BTCs, MicroStrategy, possui mais de 129k BTC (aproximadamente US$ 4b) com um preço médio em US$ 30,7k e, pela primeira vez esteve com sua posição em cripto no prejuízo, o que levantou questionamentos sobre uma possível chamada de margem caso o preço do BTC continue caindo;
- Cathie Wood, responsável pelos fundos de investimento ARK, adquiriu aproximadamente US$ 3m em ações da Coinbase durante a semana;
- A Coinbase reportou um resultado aquém do esperado e, juntamente com o mercado de criptoativos, acumula quedas expressivas no ano. Desde o IPO a Coinbase desvalorizou mais de 80%
- Sam B.F, dono da corretora de criptoativos FTX, comprou o equivalente a 7,6% da Robinhood. Após o anúncio, as ações acumularam uma alta de 28%.
WEB3
- A Yuga Labs, dona da coleção Bored Ape, soltou uma prévia de seu metaverso. Um jogo com gráficos que lembram Fortnite e em estilo Sandbox, no qual você é livre pra criar e fazer o que bem entender. A comunidade recebeu o anúncio de forma positiva, o que resultou em uma valorização da ApeCoin e das coleções de NFT da empresa;
- A coleção de NFT “Azuki”, considerada uma das Top5 do mercado, sofreu uma grande desvalorização após a revelação de que um dos seus co-fundadores estava envolvido em outros 2 projetos que “roubaram seus clientes”. Os Azuki já chegaram a ser comercializados por mais de US$ 80k cada;
- A rede da Solana vem ganhando muito espaço no mercado de NFTs, que é dominado praticamente sozinho pela rede da Ethereum. Okay Bears é a coleção responsável por essa mudança de paradigma na Solana, alcançaram a marca de segunda maior coleção em número de pessoas que utilizam as artes como foto de perfil nas redes sociais.