A semana ficou marcada pelo anúncio da inflação nos EUA, o índice atingiu as máximas dos últimos 40 anos. O índice de inflação superando as expectativas de mercado foi uma das causas para a grande queda do S&P500 e Nasdaq. Em meio a surpresa da alta inflação, o Bitcoin apresentou um rápido crescimento em sua correlação com o mercado tradicional, acompanhando a queda, acumulando cerca de 30% de desvalorização ao longo da semana.
A queda generalizada do mercado cripto desencadeou uma série de liquidações de grandes participantes do mercado que estavam atuando com grande alavancagem de seu capital. O primeiro grande afetado foi a Celsius, até então a terceira maior plataforma de empréstimo de criptomoedas, que congelou os fundos de seus clientes. O fundo de venture capital, Three Arrows Capital, também teve suas garantias liquidadas por empresas de empréstimos ao não ser capaz de cobrir suas chamadas de margem.
A crise de liquidez vivenciada pelo mercado cripto, somada ao inédito cenário de um ciclo de altas taxas de juros e, a atual alta correlação com o mercado tradicional, traz à tona a possibilidade de um contínuo sofrimento com o cenário macroeconômico desfavorável.
Análise de Dados
A correlação do Bitcoin com o mercado tradicional voltou a crescer, interrompendo a tendência de baixa que estava em curso desde as máximas, em Mai/22. O aumento das taxas de juros dos EUA serão o principal fator a ser considerado dada essa alta correlação.
O NUPL (Perdas e Lucros líquidos não-realizados) mostra o grau de ganhos implícitos do mercado. O indicador é calculado através da divisão do retorno acumulado do mercado (capitalização total do mercado, subtraída do valor realizado) pela capitalização total do mercado. Dessa forma, quando o NUPL está acima de 0, há mais investidores com lucro do que prejuízo. Quando o NUPL está abaixo de 0, os investidores com prejuízo são maioria, indicativo que costuma sinalizar capitulação (saída de investidores do mercado). Nesta semana atingimos um NUPL inferior a 0.
O Múltiplo de Puell analisa o lado da oferta de Bitcoin. Ele é calculado dividindo o valor diário de emissão de novos BTC (em dólares), pela média móvel dos últimos 365 dias de emissão. A métrica de Puell também pode ser utilizada para identificar fases de capitulação do mercado cripto. Historicamente, a fase de capitulação de mercado inicia com um múltiplo inferior a 0.5, valor também atingido nesta semana.
O Market Value to Realized Value (MVRV) é a relação entre o valor de mercado do Bitcoin e seu valor realizado. Em outras palavras, é a divisão da capitalização total do BTC pelo custo de aquisição médio do BTC. Dessa forma, o MVRV tem sido útil para indicar sinais de sobrevalorização ou subvalorização do Bitcoin. Esta semana o indicador atingiu o nível de subvalorização pela primeira vez desde o crash causado pelo COVID, em 2020.
Outra métrica interessante de ser avaliada é a crescente participação de mercado das stablecoins, que praticamente dobrou desde o início de 2022. O aumento da participação das stablecoins sinaliza o sentimento pessimista dos investidores, que vem migrando seu capital para ativos considerados mais seguros.
Muitas métricas estão indicando o início da fase de capitulação do mercado. Mesmo que possa se estender, geralmente a capitulação pressupõe proximidade ao fundo do ciclo de baixa do mercado. Portanto, o momento atual pode ser uma boa janela de oportunidade para a exposição ao mercado de criptoativos, principalmente por termos atingido patamares de preços não vistos desde 2018. Porém, com um mercado muito mais desenvolvido.
Vale ressaltar que mesmo com sinais indicando potenciais bons pontos de compra, é recomendado cautela devido às variáveis inéditas presenciadas pelo mercado. A principal variável inédita é a característica adversa do cenário macroeconômico.
Gigantes insolventes?
No início da semana, a plataforma de empréstimos de criptoativos Celsius, anunciou que congelaria a função de saque de fundos dos clientes. A Celsius é a terceira maior plataforma do segmento e tinha mais de US$ 8 bilhões emprestados a clientes e US$ 12 bilhões em ativos sob gestão até maio deste ano, segundo a empresa.
A plataforma permite que usuários depositem criptoativos em troca de um ganho percentual sobre os ativos depositados. Na outra ponta, a plataforma fornece empréstimos desses criptoativos, exigindo um colateral maior do que foi emprestado. Caso o valor dos criptoativos em colateral reduzissem, a plataforma liquidaria a garantia do cliente para não sofrer com possibilidade de insolvência.
A Celsius começou a tomar mais riscos quando protocolos de DeFi começaram a se tornar mais atraentes. Em busca de rendimentos cada vez maiores, a plataforma começou a se alavancar com o capital dos clientes em protocolos de segurança duvidosa. Entretanto, aportar capital de clientes em protocolos DeFi envolve um risco muito superior a apenas emprestar ativos com colateral como contraparte.
Os primeiros efeitos de queda do mercado levaram à derrocada de Terra Luna, protocolo que Celsius também detinha capital investido. Após Terra Luna, o mercado aumentou sua aversão a risco. A queda acentuada no preço dos criptoativos durante o final de semana foi o acontecimento necessário para iniciar uma série de liquidações, atingindo principalmente representantes de mercado que estavam alavancados, assim como a Celsius.
A Celsius contratou advogados de reestruturação para conselhos sobre possíveis soluções para os problemas financeiros. A situação repercutiu também para outras plataformas de empréstimo, que se viram frente a saques em massa devido ao medo de que também pudessem estar insolventes.
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