Os criptoativos passaram por mais uma semana de baixas oscilações de preços mesmo diante de decisões importantes, como a do Federal Reserve (Fed) na semana passada quando a autoridade elevou a taxa de juros em 0,25% e teve um discurso bastante hawkish sobre como deverá ser o processo de normalização monetária nos EUA neste ano.
O BTC continuou sendo negociado na faixa de preços entre US$37-42, e entendemos que à medida com que os preços permanecem dentro dessa faixa estreita de preços, maiores são as chances de um movimento direcional de maior volatilidade ocorrer, para cima ou para baixo.
A última semana seguiu muito promissora para a tese de longo prazo das criptomoedas. Dentre os fatores positivos podemos destacar: (i) votação contrária a proposta de banir criptomoedas que utilizam o PoW (Proof of Work) na Europa; (ii) novos investimentos em empresas do universo cripto e surgimento de novos unicórnios; (iii) lançamento de mais um ETF de criptomoedas no Brasil, e; (iv) continuidade da demanda por cripto na Europa, impulsionada por crise geopolítica. Do lado negativo, a continuidade da elevação da curva de juros americana e expectativa de redução da liquidez global podem acabar pesando na cotação das criptos.
O Bitcoin valorizou 540% nos últimos 2 anos em meio a um cenário de alta liquidez e juros baixos. A reversão desse movimento pode gerar uma tendência contrária. Enquanto desde nov/21 o yield (juros) do título de dívida americano de 10 anos subiu de 1,35% para 2,32%, o Bitcoin caiu de US$ 65k para US$ 42k.
Volatilidade está por vir
O mercado de derivativos de criptomoedas está com uma volatilidade implícita e prêmios de futuros baixos. Historicamente essa característica precede movimentos de alta volatilidade. A volatilidade implícita de opções com vencimento em 1 mês está entre 80-70%. Em abr/21, os prêmios das opções também estavam nesses patamares e foram sucedidos por uma queda de 40% do Bitcoin em maio.
A baixa volatilidade implícita não necessariamente indica uma direção para o movimento. Em jul/21, os prêmios de opções também estavam nos patamares atuais e o movimento subsequente foi uma alta de 60% entre jul e set/21.
Diminuição do medo do mercado
Com a alta do Bitcoin de cerca de 9,25% na última semana (vs. 9,86% do restante do mercado), o índice Fear & Greed atingiu 30 pontos, versus 21 pontos na semana anterior.
O índice calcula o otimismo ou apreensão dos investidores em relação ao preço do Bitcoin com base na volatilidade, volume, atividade em redes sociais, dentre outras métricas. Apesar de ter se recuperado de um patamar considerado de “medo extremo” para “medo”, o índice continua mostrando apreensão do mercado.
Geralmente o índice Fear & Greed apresenta uma correlação inversa com o preço do Bitcoin. O Bitcoin costuma subir em momentos em que o mercado está apreensivo e cair em momentos de otimismo. Em nov/21, quando o Bitcoin estava próximo a sua máxima histórica, o índice estava em 71 pontos. Em mai/21, quando o Bitcoin estava próximo a sua mínima anual, o índice estava em 11 pontos.
Regulação, de novo…
No dia 14/mar, a Comissão dos Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu votou contra a proposta que bania criptomoedas que utilizam o sistema PoW (Proof of Work). O PoW é um modelo de validação de transações de criptomoedas intensivo em energia elétrica. Por gastar energia elétrica, o PoW é acusado de ser prejudicial ao meio ambiente. Existem outros modelos de mineração, como o PoS (Proof of Stake).
O Bitcoin e o Ethereum utilizam o PoW para validar as transações e o banimento desse sistema na Europa poderia ter um forte impacto negativo sobre a cotação dessas criptos. A rejeição do projeto enfraquece a narrativa de que uma regulação proibitiva em relação às criptos deverá ser adotada ao redor do mundo. A expectativa de uma regulação proibitiva, assim como a adotada pela China, foi uma das principais explicações para a queda das criptomoedas nos últimos meses.
Continuidade de avanços no mercado institucional!
Os aportes em empresas relacionadas ao mercado cripto continuam avançando. A ConsenSys, empresa que desenvolve protocolos dentro da blockchain da Ethereum captou US$ 450m ao valuation de US$ 7b. A Optimism, solução de segunda camada para a Ethereum, atingiu US$ 1,6b de valuation após captar US$ 150m. Por fim, a startup de criptomoedas Gauntlet atingiu US$ 1b de valuation.
No Brasil também temos avanços no mercado. A Hashdex está lançando um ETF com foco em WEB 3.0, cujo coordenador líder é a Genial. Além disso, a Binance sinaliza a intenção de aumentar a sua atuação no país com a compra da corretora Sim Paul, que atua no Brasil com licença da CMV e Banco Central. A compra pode ser uma antecipação a aprovação do projeto de lei (PL) 2303/15. A corretora facilitará a adequação da Binance caso projeto seja aprovado.
O PL 2303/15 já foi aprovado em comissão do senado. Se não houver nenhum recurso, o projeto seguirá para a análise da Câmara dos Deputados. Um dos principais marcos do PL é fazer com que o poder executivo nomeie um órgão fiscalizador do mercado de cripto e seus agentes, aumentando a fiscalização sobre as atividades das Exchanges.
A Binance também vem focando no Oriente Médio, tendo obtido licença para operar em Dubai e Bahrein.
EUA e Europa comprando, Ásia vendendo
Novos indicadores da glassnode que avaliam a oferta de demanda de BTC por região no mundo mostram que de 2020 a 2022, investidores americanos e europeus foram os que se mostraram mais dispostos a comprar bitcoins, enquanto houve pressão oposta durante o horário comercial nos mercados asiáticos. Mais recentemente, a Europa tem se mostrado protagonista na demanda por BTCs.
É provável que a maior demanda na Europa seja influenciada pela situação de conflito entre Rússia e Ucrânia. Por serem descentralizadas, os governos exercem baixa influência sobre a circulação e negociação de criptomoedas. A descentralização impede que reservas possam ser confiscadas e protegem o patrimônio das pessoas da inflação em moedas fiduciárias. Em momentos de incerteza e estresse do mercado, as criptomoedas podem ser boas alternativas para resguardar o patrimônio.
Nova tendência em NFT?
O lançamento do token APE na semana passada causou uma grande agitação entre os entusiastas do mundo de NFT. O APE foi distribuído para os donos de NFTs da coleção Bored Apes. Poderão ser resgatados 10k tokens para cada NFTs possuída. Também receberão tokens a companhia criadora do Bored Apes, Yuga Labs, seus fundadores, parceiros do projeto e uma instituição de caridade. O fornecimento total de APE tem uma oferta total de 1 bilhão de tokens.
O APE será o token de governança da ApeCoin DAO. Uma DAO é uma organização descentralizada, onde as decisões são tomadas através da votação dos detentores dos tokens. O valor econômico do token será criado a partir de sua utilização como meio de pagamento dentro de produtos e serviços desenvolvidos pela Yuga Labs. Um desses produtos inclui um jogo construído em blockchain que deverá ser lançado ainda em 2022 em parceria com a desenvolvedora de jogos nWay.
A criação da APE enfatiza a importância de se investir em projetos sólidos dentro do ambiente de NFTs. Por ser um mercado em constante mudança, a utilidade e valor dos NFTs tende a ser na medida em que novas funcionalidade são incorporadas. Os NFTs da coleção do Bored Apes podem ser utilizados como ingressos para festas exclusivas, como personagens dentro de jogos construídos em blockchain e agora para resgatar tokens APE.
As coleções da Yuga Labs assumiram as dez vagas entre os NFTs mais caros vendidos na semana. A venda mais cara nos últimos sete dias foi para o BAYC #3250, que trocou de proprietário por 250 ETH, ou cerca de US$ 720.430.
Ethereum segue sendo inflacionária
Desde que a atualização do EIP-1559 foi introduzida na rede da Ethereum em agosto de 2021, a taxa de queima do Ether (criptomoeda nativa da rede da Ethereum) caiu para seu nível mais baixo. Essa atualização feita no protocolo permite que Ether seja queimado (tirado de circulação) a cada transação, abrindo espaço a moeda ser deflacionária. Por se tornar cada vez mais escassa, uma moeda deflacionária tende a ganhar valor ao longo do tempo.
Desde que foi criada, a rede da Ethereum tem uma taxa de inflação definida, ou seja, gradualmente mais Ether é colocado em circulação. Com o EIP-1559 o Ether passou a poder ser deflacionário, dependendo da quantidade de moedas que forem queimadas.
Na prática ainda hoje o Ether segue sendo uma cripto inflacionária, pois mais Ether é colocado em circulação do que queimado. A recente redução na taxa de queima acentua ainda mais a pressão inflacionária do Ether, podendo ser negativa para a cotação.
Apesar da queda na taxa de queima aumentar a inflação no curto prazo, espera-se que a Ethereum 2.0 reduza a emissão de Ether. Com a redução da emissão, potencialmente veremos uma pressão deflacionária duradoura no Ether. Dentre outras mudanças, a Ethereum 2.0 alterará o sistema de validação da rede para PoS e promete torná-la mais rápida ao processar transações.
A Ethereum 2.0 está prevista para ser implementada no terceiro trimestre deste ano. No evento chamado “The Merge”, uma rede paralela a da Ethereum, conhecida como Beacon Chain, se fundirá com a rede original.