Atualizações sobre o mundo cripto

Publicado em 06 de Julho às 20:08:22

O que aconteceu no mercado cripto? (18-26/06)

O aumento da inflação e redução de liquidez na economia acarretaram grande pressão sobre o mercado de criptoativos. Na semana passada o Bitcoin atingiu o valor mínimo de US$ 17,7k, recuperando o patamar de US$ 20k poucos dias depois. A perda dos US$ 20k foi emblemática pois esse foi o valor mais alto alcançado pelo BTC em 2017. Historicamente o BTC nunca havia sido negociado abaixo do valor máximo atingido em seu ciclo anterior.

O atual ciclo de baixa do Bitcoin completou 230 dias e acumula 73% de desvalorização. Apesar disso, é válido destacar que em ciclos anteriores as quedas foram ainda maiores, como exemplifica o gráfico abaixo.

https://arcane.no/research/bitcoin-is-no-stranger-to-long-and-painful-drawdowns

Após atingir o pico em 2013, o Bitcoin levou mais de 400 dias e 85% de desvalorização até encontrar o fundo do ciclo. Já no ciclo de 2017, o Bitcoin precisou de 364 dias e 84% de desvalorização para encontrar seu valor mais baixo.

Se o Bitcoin repetir os parâmetros desses ciclos, o fundo não deve ser alcançado até o final do quarto trimestre de 2022, atingindo valores próximos a US$ 10k. Ainda assim, embora as comparações históricas sejam interessantes, o mercado cripto de hoje está muito mais correlacionado ao mercado financeiro tradicional, fazendo com que fatores como taxas de juros longas dos EUA, as eleições americanas e as regulamentações de criptomoedas afetem diretamente seu desempenho.

Uma considerável parte da queda recente de preços aconteceu por conta do alto nível de alavancagem de grandes fundos e empresas atuantes no meio cripto. O caso da empresa Celsius, apresentado em nosso último report semanal, serviu como gatilho para que novos casos de insolvência viessem à tona, como por exemplo, a Three Arrows Capital.

Three Arrows Capital

Um dos fundos mais renomados no espaço de criptomoedas, o Three Allows Capital, entrou em colapso durante a queda do mercado desta semana. O fundador da 3AC, Su Zhu, defendia a teoria do ‘superciclo’. De acordo com Su Zhu, o superciclo do mercado cripto seria lento e constante, sempre em ascensão, e afirmava que o Bitcoin poderia alcançar US$ 2.5 milhões por unidade. Os últimos meses provaram que sua tese estava errada, com o Bitcoin experimentando seu pior trimestre de todos os tempos.

O segundo trimestre de 2022 concentrou uma série de infortúnios para a 3AC, sendo o pior deles, o colapso de Terra-Luna. A 3AC perdeu mais de US$ 200 milhões com o ecossistema Terra. Antes que o mercado pudesse ensaiar uma correção após o crash de Luna, foram divulgados os dados recordes da inflação americana, pressionando ainda mais os mercados de ativos de risco. Com a contínua queda nos preços, a 3AC foi pressionada a entrar em default e foi liquidada por um grande credor não divulgado.

A reputação da 3AC havia concedido ao fundo acesso ao santo graal dos empréstimos subgarantidos, tendo conseguido empréstimos com todas as principais empresas do ramo. A má gestão de risco da 3AC escancarou o grande risco sistêmico presente em plataformas de empréstimos em cripto. A BlockFi e a Genesis anunciaram liquidações e mitigações de perdas dos Empréstimos feitos á 3AC. A Deribit anunciou que ainda possuía posições em dificuldades e dívidas líquidas, mas está mantendo-se financeiramente saudável, mesmo que as dívidas não sejam pagas. A FTX e a Bitmex também confirmaram a liquidação da 3AC. Ainda não ficou claro como os credores da 3AC lidarão com as dívidas restantes, levantando o ponto de que efeitos colaterais futuros estejam por vir. Isso pode criar um ambiente arriscado para os mercados já pressionados pelo cenário macroeconômico desfavorável.

Análise de dados

O atual caos do mercado cripto é refletido no Índice de medo e ganância, que agora sinalizou “medo extremo” por dois meses seguidos, o que nunca aconteceu antes na história do índice. Em resumo, o índice traduz o sentimento do mercado através de uma escala simples, que varia de 0 a 100. Quanto menor o valor apresentado pelo índice, mais preocupado o mercado está. Quanto maior o valor apresentado, mais otimista o mercado está.

https://www.lookintobitcoin.com/charts/bitcoin-fear-and-greed-index/

A rentabilidade da mineração do Bitcoin estava em valores recordes em Nov/21, o que levou a grandes investimentos voltados à essa atividade. Entretanto, a queda subsequente do preço do Bitcoin com o grande aumento da hashrate (poder de mineração) da rede, reduziram a lucratividade para níveis de 2020.

https://arcane.no/research/the-profitability-of-bitcoin-mining-is-plummeting

A redução no fluxo de caixa significa que os mineradores devem passar a vender cada vez mais seus Bitcoins para pagar os custos de financiamento. Nos primeiros quatro meses de 2022, os mineradores públicos venderam 30% de sua produção de bitcoin. A queda na lucratividade forçou esses mineradores a aumentar sua taxa de venda para mais de 100% de sua produção em maio. As condições pioraram em junho, o que significa que provavelmente estão vendendo ainda mais.

https://arcane.no/research/miners-have-started-to-dump-their-bitcoin-holdings

Os mineradores estão entre as carteiras com maior número de Bitcoins do mercado. A necessidade de venda desses BTCs para custear a atividade de mineração pode contribuir para empurrar o preço do Bitcoin ainda mais para baixo.

Por outro lado, já foi evidenciada uma queda acentuada no hashrate do BTC. A queda pode ser resultado do desligamento de máquinas por mineradores localizados em regiões com preços de eletricidade mais altos e máquinas menos eficientes.

https://www.lookintobitcoin.com/charts/bitcoin-hashrate-chart/

A hashrate do Bitcoin influencia diretamente no nível de dificuldade da mineração. Dessa forma a dificuldade é ajustada automaticamente com base na quantidade de poder computacional na rede (hashrate). Quanto maior o hashrate, maior a dificuldade e vice-versa. A redução na dificuldade de mineração tornará a entrada de novos mineradores atrativa, criando assim uma dinâmica para que a hashrate do BTC mantenha-se “estável”.

Web3

Em ambientes de mercado favorável, as empresas costumam acelerar a agenda de aquisições para acelerar o crescimento. Em contrapartida, nos períodos de mercado de baixa, as empresas muitas vezes são mais cautelosas, pagando valuations mais comedidos e se limitando a aquisições que mais rapidamente agreguem valor. Mesmo com o ambiente de mercado mais adverso, na última semana ocorreram duas aquisições relevantes no ecossistema NFT: (i) aquisição da Genie pela Uniswap Labs e; (ii) aquisição da KnownOrigin pelo eBay.

Uniswap

  • A Uniswap é a principal exchange descentralizada (DEX) do mercado cripto. No entanto, no ano passado, uma quantidade considerável de liquidez, migrou de DeFi para NFTs. A aquisição da Genie permitirá que a Uniswap ganhe uma posição importante em NFTs e se torne um centro comercial único da web3.
  • “NFTs serão integrados em nossos produtos, começando pelo app da web, o qual passará a permitir a comercialização de NFTs nos principais mercados. A Uniswap será uma plataforma para usuários e desenvolvedores de Web3”

Ebay

  • Iniciado em 2018, o KnownOrigin é um dos mercados NFT mais antigos em operação.
  • “Fundamos a KnownOrigin para capacitar criadores e colecionadores, dando-lhes a capacidade de exibir, vender e coletar itens digitais autenticados exclusivos”, disse o cofundador da KnownOrigin
  • “À medida que o interesse em NFTs continua a crescer, acreditamos que agora é o momento perfeito para fazer parceria com uma empresa que tem o alcance e a experiência do eBay.”

Grandes empresas de cripto e tradicionais estão buscando incrementar os seus negócios através de aquisições no ecossistema NFT. O interesse em prover serviços relacionados a NFT são uma amostra do crescimento do interesse no segmento e podem sinalizar um crescimento de fusões e aquisições (M&A).

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