A semana foi marcada pela recuperação dos mercados tradicionais de ativo de risco, enquanto o Bitcoin permaneceu em tendência de queda, com valor mais alto da semana em US$ 30,7k e valor mínimo em US$ 28k, representando uma variação semanal de quase 9%. O Bitcoin apresentou 8 semanas de queda consecutivas pela primeira vez na história e estenderá esse recorde caso não recupere US$ 30.300 até domingo.
Apesar da redução na correlação do mercado cripto com o mercado de ativos tradicionais, a incerteza quanto à direção a ser tomada pelo Bitcoin fez com que os outros criptoativos sofressem ainda mais. Podemos destacar Solana e Avalanche, duas plataformas de contratos inteligentes que acumularam, respectivamente, 14% e 19% de queda na semana.
O Ethereum passou por um problema inesperado em uma rede paralela à rede principal, fazendo com que voltasse a ser negociado abaixo de US$ 1750, uma queda de mais de 9% na semana.
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Problema na rede Ethereum?
Quando comparado ao Bitcoin, o Ethereum apresentou um desempenho pior ao longo da semana, chegando a acumular 10% de queda apenas na quinta-feira, quando passou a ser negociado abaixo de US$ 1750, menor valor desde Jul/21. A relação ETH/BTC chegou em 0,060, a menor desde Out/21.
Um dos motivos que justificam essa queda foi uma falha na Beacon Chain, uma rede paralela cujo objetivo é implementar algumas das funcionalidades propostas pela atualização do Ethereum 2.0.
A falha que ocorreu é um evento conhecido como reorganização de blocos (reorg). Nesse caso, a preocupação foi maior pois a reorg demorou 7 blocos até ser resolvida, como pode ser observado pelo Beacon Scan. Uma reorg de 7 blocos pode indicar um ataque malicioso à rede, aumentando ainda mais o receio referente a esse acontecimento.
Após momentos de investigação, foi identificado que o problema não envolvia ataque algum e, na verdade, ocorreu devido a uma falha de atualização dos clientes da Ethereum por parte de alguns validadores. Os clientes são softwares que permitem aos validadores interagirem com a blockchain.
Nesse caso, os validadores discordaram quanto a ordem do bloco mais recente. As blockchains ordenam os blocos de transações de forma cronológica. Quando os validadores passam a discordar sobre a ordem dos blocos, pode ocorrer uma bifurcação (fork) momentânea na rede.
De forma simplificada, é como se os responsáveis por validar as transações da rede estivessem com versões diferentes do “software da Ethereum”, criando esse desentendimento entre validadores.
O fato desse reorg ter acontecido antes do The Merge, torna o problema menos preocupante, dando tempo para que resolvam as complicações para que não ocorra após o The Merge. O The Merge é a principal etapa da implementação do ETH 2.0 e está previsto ocorrer ainda neste ano. Em síntese, o The Merge será o processo de fusão entre a Beacon Chain e a rede principal da Ethereum.
Apesar de a princípio não ser uma falha grave, é importante monitorarmos outros eventuais problemas daqui para a frente, pois podem atrapalhar a implementação do ETH 2.0. A reação negativa do mercado pode ter sido amplificada visto que estamos em um mercado de baixa, no qual os investidores passam a ficar mais reticentes com seus investimentos.
Caso ainda tenha dúvidas, ou queira entender melhor sobre o que se trata a Ethereum 2.0 e os termos utilizados, elaboramos um relatório para explicar de forma simples, sobre o que se trata essa atualização. Você pode acessar o relatório aqui.
Dados OnChain
A capitalização total do mercado cripto saiu de aproximadamente US$ 1,8t no início do mês para os atuais US$ 1,16t, queda de 36% que reforça a narrativa de baixo risco adotada pelo mercado.
Parte do capital que não deixou o mercado, passou a fluir com mais intensidade para o Bitcoin, que atingiu mais de 46% de market share, maior valor registrado desde out/21. A dominância do Bitcoin costuma aumentar em períodos de baixa de mercado, os investidores migram seu capital de criptomoedas mais arriscadas para o BTC que permanece sendo considerado a criptomoeda mais resiliente.
O índice de medo e ganância concluiu a semana apresentando apenas valores que indicam medo extremo, com a máxima em 14 e mínima em 10. Esse índice representa o sentimento de mercado através de uma escala de 0 a 100, sendo 0 medo extremo e 100, ganância extrema.
A taxa de opções de venda frente as opções de compra aumentaram de 50% para 70%, indicando que o mercado segue buscando proteção contra possíveis quedas subsequentes.
A rede do Bitcoin presenciou um aumento de 100% nas taxas de rede durante o colapso do ecossistema de terra (LUNA). Entretanto, excluindo este episódio as taxas já estão em patamares equivalentes aos de Jul/20 desde a metade do ano passado.
O mesmo também pode ser observado no ecossistema da Ethereum que, apesar de possuir mais frentes de usabilidade, também está com taxas pagas nas mínimas. Os pontos de exceção foram (i) o evento de criação dos NFTs do metaverso dos Bored Ape e (ii) o colapso do ecossistema de Terra (LUNA).
Renascimento de Terra (LUNA)
Os responsáveis pela blockchain Terra informaram em seu perfil oficial do twitter que a nova blockchain tem previsão de entrar em vigor na madrugada de sábado, 28/mai.
A nova blockchain Terra é parte do plano de renascimento do ecossistema, proposto por Do Kwon, criador de Terra (LUNA). O plano foi idealizado após o colapso do Token LUNA e da stablecoin TerraUSD (UST).
Caso tenha perdido a cobertura sobre os acontecimentos de Terra (LUNA), elaboramos um relatório que resume os pontos principais de toda história do ecossistema, você pode acessá-lo aqui.
Web3
O projeto NFT Goblintown.wtf (Cidade dos Goblins) tumultuou o mercado de NFTs essa semana. Goblintown surgiu como mais uma coleção de 10k fotos de perfil, na qual cada NFT é estampado com a ilustração de um goblin. O fato curioso é que Goblintown começou a chamar atenção por conta dos fundamentos diferentes de qualquer outra coleção NFT. Em resumo, não possui fundamento algum. Fora as ilustrações de gosto ‘questionável’.
Os 10k goblins foram disponibilizados de graça, bastando que o usuário pagasse a taxa da blockchain para criação do NFT (formato conhecido como free mint). Após poucos dias, o projeto viralizou na comunidade NFT e chegou a atingir um valor mínimo de comercialização superior a 2 ETH cada (cerca de US$ 3600).
Goblintown não promete absolutamente nada, mas também não tentam esconder isso. No site do projeto, temos em destaque as quatro principais informações sobre o projeto: “Sem roadmap. Sem discord. Sem utilidade. CC0.” Ou seja, é um projeto que não possui planos futuros, não possui uma rede social central, afirma não ter utilidade alguma, mas permite que os detentores de goblins explorem comercialmente as artes dos NFTs.
Como uma das primeiras manifestações da comunidade de detentores de goblins, foi realizado um Twiter Spaces, formato normalmente utilizados para desenvolvedores dos projetos informarem suas intenções futuras. No caso dos goblins, os palestrantes passaram aproximadamente 3 horas fazendo “barulhos de goblin”. Não bastasse a bizarrice, surpreende o fato de terem alcançado mais de 700 ouvintes simultâneos.
O fato de algo tão fora do comum (até mesmo para quem acompanha o mercado NFT), conseguir movimentar grandes quantidades de capital, levanta o questionamento sobre a suposta fuga de liquidez do mercado cripto como um todo. Nos dá margem para pressupor que ainda há espaço para mais quedas.