A situação macroeconômica permanece gerando incertezas no mercado, com destaque para a reunião do FED que deve ocorrer na primeira semana de maio. A expectativa na alta de juros segue ditando a narrativa que justifica a fuga de liquidez dos ativos de risco que, por sua vez, inclui o mercado cripto.
A semana ficou marcada pela queda significativa no preço do Bitcoin, que atingiu US$37.600, valor mais baixo para o mês. A faixa dos US$38k tem se mostrado um suporte resistente com a constante dificuldade de estabilização acima de US$40k. O cenário de medo também faz com que a liquidez de altcoins retorne para as criptos mais consolidadas, como bitcoin e ethereum.
A partir da análise de dados da rede, constatamos que o saldo de bitcoins em corretoras está próximo das mínimas históricas, resultando em um baixo volume e volatilidade. Historicamente momentos de baixo volume e volatilidade, antecedem grandes movimentações de preço.
O primeiro fechamento mensal do segundo trimestre demonstra que o mercado cripto continua em grande paridade com o mercado tradicional, com destaque para a correlação dos criptoativos com as ações de tecnologia.
Fear & Greed Index
No geral, o mercado de criptoativos está pessimista, como mostra o índice de medo e ganância. Estamos entrando na quarta semana consecutiva na qual o índice aponta “medo” ou “medo extremo”, nos aproximando do maior intervalo de tempo em que mantemos esse estado em 2022.
Seguindo a máxima de mercado “compre ao som de canhões, venda ao som de violinos”, o índice costuma apontar bons momentos de exposição ao ativo quando indica medo. Da mesma forma, o índice aponta bons momentos de realização de lucros quando sinaliza euforia. O estado de medo também gerou uma fuga de liquidez das altcoins para o Bitcoin, em função de ser o ativo mais consolidado e com menos volatilidade no mercado cripto. Como resultado da fuga de liquidez para o Bitcoin, sua dominância subiu aproximadamente 2%, chegando a 43% do total da capitalização de todo o mercado.
Maior redução mensal de Bitcoin em ETPs de criptoativos
Em abril houve uma redução de mais de 14k BTC no número total de bitcoins sob gestão em ETPs, atingindo dois dígitos percentuais de queda nos ETPs norte americanos e europeus.
Na contramão do resto do mundo, os fundos brasileiros apresentaram crescimento semelhante a março, mostrando que o mercado nacional segue aumentando a adoção de criptoativos. Fato que também é evidenciado pelo HASH11, primeiro ETF de criptoativos aberto ao público brasileiro e que rapidamente se tornou o segundo maior fundo em número de cotistas da B3.
Múltiplo de Mayer
Outro indicador comumente utilizado para diagnóstico de sobrecompra ou sobrevenda do Bitcoin é o Múltiplo de Mayer (MM) que consiste na divisão do preço de tela da criptomoeda pela média de preço dos últimos 200 dias.
Historicamente, quando o MM atinge valores inferiores a 0.8 o Bitcoin aponta que está próximo de um fundo.
O mês de maio iniciou com o MM cravado em 0.8 e, dependendo da reação do mercado à declaração do aumento de juros pelo FED, possivelmente atingiremos valores ainda mais interessantes para aumento de exposição ao bitcoin.
Hashrate atinge novo recorde
A hashrate representa a quantidade de tentativas de validações de transações na rede, ou seja, quanto mais validadores (também conhecidos como mineradores, no caso do bitcoin) a rede possuir, maior a hashrate. Ao conseguir realizar a validação do bloco, o minerador é remunerado com parte das taxas do bloco, assim como com uma nova quantidade de bitcoins gerada.
Como forma de balanceamento, a própria blockchain ajusta sua dificuldade de validação para assim conseguir manter um equilíbrio entre número de validadores e blocos gerados. O aumento de dificuldade da rede não freou o crescimento da hashrate. Portanto, podemos esperar um novo aumento de dificuldade na próxima semana.
Houve um aumento de 7% no volume de transações em bitcoin, que estão gerando aproximadamente US$450k em taxas diárias. As receitas da mineração do Bitcoin são modestas quando comparadas às da rede da Ethereum, que atingiu seu recorde em taxas diárias durante o final de semana, chegando a US$231m.
Mercado Institucional no mundo cripto
- Buenos Aires, capital da Argentina, anunciou que passará a aceitar pagamentos de impostos em bitcoin. Entretanto, esses pagamentos serão transformados instantaneamente em pesos Argentinos e não armazenados no tesouro do Estado.
- A Assembleia Nacional do Panamá aprovou uma lei que aprova o uso público e privado de ativos digitais para pagamentos, a proposta passará a valer caso haja sanção do presidente.
- A Assembleia do Estado de Nova York passou uma lei para impor uma moratória de dois anos sobre novas mineradoras que utilizem de energia não-renovável (emissoras de carbono). Essa medida ainda não foi totalmente aprovada, mas caso ocorra, pode diminuir a atratividade do Estado para investimentos do mercado cripto.
- Governo Finlandês quer doar cerca de 1,98k bitcoin para a Ucrânia, esses bitcoins foram anteriormente pegos em ações criminosas.
- A Fidelity, empresa americana que oferece serviços financeiros possibilitará o investimento em bitcoin no plano previdenciário 401k. Isso, pode aumentar a demanda da criptomoeda, uma vez que cerca de 23k companhias usam a Fidelity como administradora de seus fundos de aposentadoria.
- O banco Goldman Sachs oferecerá o serviço de empréstimos com colateral em bitcoin, ou seja, o investidor terá um empréstimo em dólares utilizando a criptomoeda como garantia.
As medidas de adoção do bitcoin por países, ou o encaminhamento para tal acontecimento, é de extrema valia para o mercado, pois, no longo prazo, tende a aumentar a demanda pela moeda, além de mostrar a crescente adoção do mercado de criptoativos por governos e institucionais.
Senado aprova regulamentação do mercado cripto
O Senado aprovou no dia 26/abr o Projeto de Lei 3.825/2019 do senador Flavio Arns (Podemos-PR), com o objetivo de regulação das operações realizadas no mercado cripto. O projeto passará por uma revisão no plenário da câmara para depois ser encaminhado para a sanção presidencial.
Entre os principais pontos do projeto estão: (i) torna ilegal a atuação de empresas estrangeiras sem autorização; (ii) retira a responsabilidade de supervisão do mercado cripto da CVM; (iii) redução da pena de pirâmide financeira de 4 a 8 anos para 2 a 6 anos, e; (iv) isenção de impostos (Pis/Pasep, Cofins, IPI e imposto de importação para importação) para maquinário que atuem em criptomoedas, as beneficiárias serão empresas que tenham 100% de suas atividades por meio de fontes renováveis, além de neutralizarem 100% da emissão de gases do efeito estufa.
Bored Ape Yatch Club e seu metaverso
A empresa por trás do Bored Ape Yatch Club (BAYC), Yuga Labs, lançou sua nova coleção de NFTs. Batizada de The Otherdeeds, a coleção conta com 100k NFTs de terrenos que, posteriormente, servirão como palco para o início do The Otherside, o metaverso da coleção.
A Yuga Labs levantou cerca de US$285m em poucas horas, concretizando o sucesso financeiro do projeto. Por outro lado, a antecipação e euforia pelos novos NFTs resultaram em um congestionamento da rede Ethereum, o que levou as taxas a chegarem em uma de suas altas históricas, com simples transações estando na casa dos US$3k.
Decorrente desse alto volume de transações e de taxas altas, a Ethereum também realizou a maior queima de tokens já visto. De acordo com o site ethburned.info, o número de Ethers queimados chegou em 51,8k, bem acima da média diária de 4,3k. O excesso de queima é bom para o valor de tela do Ether, pois gera uma tendencia deflacionária no ativo, e beneficia tanto quem tem o ativo em carteira quanto o validador da rede, que ganha com as taxas. O lado negativo fica por parte dos usuários da rede, que se depararam com valores impraticáveis, tornando a rede inoperável por grande parte do público.
Após o ocorrido, a Yuga Labs informou que reembolsará aqueles que, porventura, pagaram as altas taxas da rede e mesmo assim obtiveram falha na transação. Após o ocorrido, a ApeCoin anunciou suporte à rede da Polygon, outra blockchain, que pretende servir como solução de escalabilidade para a rede da Ethereum. Os membros da organização da ApeCoin disseram não haver discussão interna sobre o desenvolvimento de uma rede própria.
A grande euforia que o The Otherside gerou, mesmo em períodos de mercado menos atrativo, mostra que os investidores continuam otimistas com o desenvolvimento de projetos no metaverso e NFT, indicando que ainda podem surgir boas oportunidades de investimento nessa classe de ativo.
NFTs na rede Solana
Novos projetos de NFTs em outras redes além da Ethereum estão chamando atenção. Dessa vez, o acontecido foi com a Solana e a coleção Okay Bears. No dia 26/abr, esse projeto foi responsável pela maior negociação na plataforma OpenSea no dia desbancando todos os outros projetos, em volume transacionado.
A concepção da ideia da coleção do Okay Bears é semelhante à dos Bored Ape, com os detentores podendo utilizá-lo como fotos de perfil, além de oferecer benefícios aos seus proprietários. A venda dos NFTs começou pelo preço aproximado de 150 dólares, ou 1,5 SOL e atingiu um valor mínimo superior a 150 SOL, representando uma valorização de mais de 100x em menos de uma semana.
Um retorno de 10.000% pode ser tentador ao investidor, entretanto, é necessário lembrar que é um investimento de altíssimo risco, onde muitos dos projetos falham, mas somente os vencedores são aclamados: “o cemitério dos perdedores é silencioso”.
Novo ataque na rede Solana
Além do lançamento da coleção The Otherdeeds, dia 30/abr também ficou marcado pela interrupção do funcionamento da rede da Solana. A rede ficou congestionada pelo abuso do programa Candy Machine, que era usado para a criação de NFTs. Segundo a Solana Foundation, desenvolvedora da blockchain Solana, antes de ficar offline, a rede estava tendo que lidar com um pico de 4 milhões de transações por segundo (TPS), valor superior aos teóricos 65 mil TPS que a Solana aguenta.
Esse tipo de ataque é chamado de DDoS, um ataque que visa inundar um website ou serviço de rede com transações mal-intencionadas, assim gerando um congestionamento a ponto de travar a utilização da rede.
A Solana ficou offline por cerca de 7 horas e foi resetada após consenso entre os validadores de retomar a rede a partir do bloco anterior ao início dos ataques.
Esse foi o sétimo ataque sofrido pela Solana em 2022, o que traz à tona os problemas inerentes a uma rede com taxas de transação muito baixas. Em resposta, o Metaplex (protocolo padrão utilizado para emissão de NFTs na Solana e que está por trás do Candy Machine) afirmou que implementaria uma taxa de 0.01 SOL para carteiras que tentarem efetuar transações inválidas, prevenindo futuros ataques de robôs.