A tensão geopolítica, ambiente macro desafiador no primeiro trimestre impactou os criptoativos e os mercados financeiros globais. Com a inflação nos EUA atingindo o maior patamar em 40 anos, aumentou a expectativa de elevação das taxas de juros e redução da liquidez no mundo. O cenário favorece ativos mais conservadores em detrimento aos mais arriscados, como ações e cripto.

Apesar do contexto macro desafiador, o Bitcoin terminou o trimestre subindo cerca de 2% em dólar. O conflito entre Ucrânia e Rússia contribuiu para a alta. Por serem descentralizadas, os governos têm pouca capacidade de restringir a negociação de criptomoedas. O ambiente geopolítico pode ter favorecido as criptomoedas dado que podem ter sido utilizadas por indivíduos para proteger o patrimônio e pela Rússia para contornar sanções do ocidente.

Na semana, os principais destaques positivos do mercado cripto foram: (i) continuidade do lançamento de novos produtos no mercado tradicional; (ii) forte fluxo de saída de bitcoins de Exchanges; (iii) grande volume comprador da Luna Foundation. Do lado negativo, o avanço da proposta que pode reduzir a privacidade de operações com cripto na Europa e o cenário macro podem gerar novas ondas de aversão a risco em cripto.

Regulação nas carteiras de criptomoedas

O Parlamento da União Europeia votou favoravelmente à aprovação de uma proposta para que Exchanges sejam obrigadas a coletar dados de clientes que transacionam com carteiras independentes, como a Metamask, Ledger e Trezor. Na prática, para toda transação destinada a uma carteira independente a Exchange terá que coletar, guardar e verificar a informação sobre o destinatário. Além disso, toda vez que um usuário recebe 1k euros ou mais de uma carteira independente a Exchange terá de reportar a operação a autoridades.

Para ser aprovado o projeto precisa ser aprovado em reuniões conjuntas entre o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e o Conselho Europeu. O voto favorável à proposta foi mal-recebido pelo mercado, pois a proposta reduz a privacidade do uso de criptomoedas.

Cripto no mercado tradicional

• CME Group lançou micro opções de Bitcoin e Ether, cujo valor nocional é 1/10 de Bitcoin ou Ethereum. O produto possibilita a entrada de pequenos investidores no mercado de opções de cripto.
• WisdomTree, provedora americana de ETFs lançou três novos ETPs de Solana (SOLW), Cardano (ADAW) e Polkadot (DOTW).
• Desde janeiro os ETFs Canadenses de criptomoedas tiveram um aumento de ativos sob gestão (AUM) de 6.594 Bitcoins, atingindo um AUM de 69k Bitcoins. O volume equivale a 0,39% da oferta circulante. O contínuo aumento do AUM de ETFs de cripto sinalizam a maior adoção por investidores tradicionais.
• A MicroStrategy captou uma dívida de US$ 205m para comprar ainda mais Bitcoins. A empresa já acumula mais de 90k Bitcoins.

Coinbase no Brasil?

Especula-se que a Coinbase pretende comprar a Mercado Bitcoin (MB), principal Exchange de cripto no Brasil. Segundo o Cointelegraph, a Coinbase iria anunciar a aquisição até o final de abril.

A compra da MB é um passo importante para a Coinbase entrar no Brasil. O MB tem diversas linhas de negócio, como o Meubank, MB Digital Assets, dentre outros. Além disso, o MB é a Exchange de cripto com maior alinhamento com o Banco Central, participando de discussões regulatórias.

Com a entrada cada vez maior de Exchanges estrangeiras no Brasil a consolidação do segmento deve ser cada vez mais recorrente. O OK Group fez um investimento de R$ 110m na Foxbit.

Posição de Bitcoin nas corretoras

Cerca de 96,2k Bitcoins têm sido retirados das Exchanges de cripto por mês. A retirada de volumes de Exchanges sinaliza que os detentores das criptos não querem vendê-las. As Exchanges apesar de possibilitarem a negociação são um ambiente menos seguro para guardar as criptomoedas. Para terem maior segurança quando não querem negociar suas criptomoedas, os investidores costumam transferi-las para carteiras privadas.

Posição de Bitcoin na Luna Foundation Guard

A Luna Foundation Guard (LFG), criadora da blockchain Terra, acumulou cerca de 27.785 Bitcoins, uma quantia de aproximadamente US$ 1,3b. As compras vêm sendo realizadas para dar lastro ao UST, uma criptomoeda que replica o valor do dólar. A LFG comunicou que quer ser um dos maiores investidores individuais de cripto e comprar cerca de 10 bilhões de dólares. O contínuo volume de compras da LFG aumenta a demanda por BTC, contribuindo para a alta de preços.

Relação put/call ratio do Ethereum muda pela primeira vez em 6 meses

Pela primeira vez desde out/21, a relação de put/call ratio de opções do Ethereum está excedendo a relação de put/call ratio das opções Bitcoin. Quanto maior o ratio put/call, maior a demanda por proteção dada uma expectativa de queda do preço no curto prazo.

O aumento da relação put/call do ETH em relação a do Bitcoin (BTC) sinaliza um sentimento mais otimista para o Bitcoin em comparação a Ethereum. Acreditamos que o maior otimismo com o Bitcoin venha do contexto macro, que pode aumentar a demanda por ativos mais conservadores dentro do universo cripto.

Já o maior receio em relação a Ethereum pode estar atribuída ao “The Merge”, uma atualização que dará mais escala para a Ethereum e que o mercado tem atribui expectativas elevadas. Por já ter sido adiada no passado e ter riscos de execução, a “The Merge” pode trazer volatilidade a Ethereum.