O número de transações, carteiras ativas e outros indicadores de atividade on-chain têm crescido recentemente. Dados do relatório State of Crypto, do a16z, reforçam esta percepção. Segundo o relatório, o número de carteiras ativas saltou de 7 milhões para 15 milhões entre nov/21 e mar/23 e o número de transações de cerca de 750 milhões para mais de 1 bilhão no mesmo período. No entanto, o preço das criptos despencou. O bitcoin saiu de US$ 70k, seu valor mais alto alcançado, para abaixo de US$ 20k, no início de 2023. O Ethereum saiu de mais de US$ 4,5k para cerca de US$ 1,2k.
Para nós, os números on-chain não são indicativos de um aumento do número de usuários nas blockchains. Afinal, geralmente o aumento do número de usuários tem relação direta com a alta do preço, conforme ocorre na maioria dos ciclos de desenvolvimento de tecnologias. O ciclo de desenvolvimento de uma tecnologia, também comentado no relatório, geralmente se inicia com o desenvolvimento de uma nova funcionalidade. Na sequência, a funcionalidade ganha popularidade, gerando valor para entusiastas e investidores. Com o ganho financeiro, novos investidores, desenvolvedores e usuários são atraídos. Eventualmente, o entusiasmo cessa, gerando grandes correções nos ativos financeiros atrelados à tecnologia. No entanto, com o contínuo desenvolvimento da funcionalidade, parte do capital humano e financeiro, invariavelmente é retido, gerando um desenvolvimento contínuo da tecnologia, que fomenta a repetição do ciclo.
Atualmente, vivemos mais um momento de correção no mercado cripto, o que nos faz crer que estamos em meio a fase de retenção de capital humano e financeiro e desenvolvimento. Na nossa avaliação, o avanço recente das métricas on-chain é fruto do desenvolvimento da tecnologia, muito mais do que do que o aumento da adoção. Com os problemas de cripto, como escalabilidade, gradativamente sendo solucionados, os usuários recorrentes da tecnologia passam tem maior facilidade para interagir com mais protocolos e blockchains, impactando as métricas on-chain. O movimento é um indicativo de que a tecnologia está se desenvolvendo, podendo beneficiar a adoção e atração de capital no próximo ciclo.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
No início de 2023 tivemos o lançamento do protocolo Ordinals, que acabou atraindo bastante atenção dos usuários e criou uma nova visão e narrativa em cima do Bitcoin. O Ordinals é um protocolo para registrar ativos digitais no Bitcoin, de forma semelhante aos NFTs da Ethereum. Durante o último final de semana, o protocolo registrou mais de 300 milhões de inscrições em um só dia, batendo o recorde de inscrições diário.
Embora o Ordinal tenha recebido menos atenção midiática do que a resiliência da cotação do Bitcoin às preocupações bancárias dos EUA, podemos notar que ele está afetando diretamente o valor intrínseco do Bitcoin ao expandir seus casos de uso e atividade de rede. Recentemente, o número de transações na rede Bitcoin atingiu níveis não vistos desde 2018. Esse dado também pode sugerir que os Ordinals estejam se tornando um componente cada vez mais importante para o Bitcoin, contribuindo para seu crescimento e adoção geral.
A última semana também ficou marcada pela ascensão da PepeCoin, criptomoeda baseada no meme do sapo Pepe, que recentemente ganhou um lugar de destaque junto às suas irmãs meme, Doge e Shiba. A grande peculiaridade da moeda Pepe foi a velocidade com a qual atingiu seus números atuais. Em apenas 18 dias a moeda ultrapassou US$ 500m em capitalização de mercado, entrando na lista das 90 maiores criptomoedas e acumulando mais de US$ 250m em volume negociado apenas no domingo. Apesar da recente valorização, achamos válido reforçar que moedas meme não devem ser observadas como instrumentos de investimento. Não existe nenhum embasamento racional por trás desse tipo de moeda, além do fato de que centenas de moedas com a mesma proposta são criadas todos os dias e falham em entregar qualquer valor.
Análise de Mercado
No início da semana passada, o First Republic Bank relatou uma queda em sua base de depósitos no primeiro trimestre de 2023. Os saques dos clientes do First Republic somaram mais de US$ 100bi, o que resultou em uma grande queda nas ações do banco e acabou trazendo à tona novamente o receio de uma possível crise bancária sistêmica. Nesta segunda-feira, o evento se concretizou com o anúncio de que o JP Morgan compraria o First Republic. O Bitcoin mostrou resiliência contínua em meio a preocupações contínuas no setor bancário dos EUA e mais uma vez reforçou a narrativa de moeda anti-sistema, acumulando valorização de cerca de 7% nos dias após o início dos rumores, porém devolvendo parte dessa valorização após o anúncio do JP Morgan.
O principal evento dessa semana acontecerá na quarta-feira, quando o Federal Reserve anunciará sua próxima decisão sobre a taxa de juros americana. O mercado aguarda mais um aumento de 25 bps na taxa de juros. Dado que este já é o resultado mais provável, acreditamos que os efeitos no mercado cripto sejam neutros. Apesar do Bitcoin ter mostrado um desempenho mais forte do que a maioria dos ativos de risco em resposta às preocupações bancárias dos EUA, sua correlação com ativos de maior risco, como ações de tecnologia, permanece relativamente alta.
Acreditamos que seja mais importante observarmos o discurso do Fed após a reunião de quarta-feira para compreendermos a linha de pensamento tomada para a reunião de junho. Indicativos de que em junho possamos ter uma pausa nos consecutivos aumentos pode ser positivo para ativos de risco, em contrapartida, indicativos de um novo aumento de 25 bps em junho poderá afetar negativamente o apetite de investidores por investimentos de risco, assim como criptoativos.
Análise Técnica
Durante a semana passada o Bitcoin voltou a brigar com a resistência dos US$ 30k, mas falhou em rompê-la. Sem o volume comprador necessário para para superar a resistência imediata, o BTC perdeu força e retornou para o patamar dos US$ 28k, acumulando uma desvalorização de mais de 6%.
Assim como na análise da semana passada, o IFR – Índice de Força Relativa – está abaixo dos 50 pontos, indicando tecnicamente que o ativo pode se estabilizar na faixa de preços atual. Entretanto, as condições macroeconômicas incertas, somadas à pouca liquidez no mercado cripto, fazem com que o cenário possa se deteriorar mais. Nesse caso, o Bitcoin pode voltar a ser negociado na faixa de preços a qual era negociado no início de 2023, entre US$ 25,2k e US$ 21,5k. O suporte em US$ 21,5k também é fortalecido pela média de 200 períodos.
Próximos Suportes (US$): 27.700 / 26.600 / 25.200
Próximas resistências (US$): 30.000 / 31.100 / 32.200
ECI (Expresso Cripto Index)
O Expresso Cripto Índice é um índice passivo que tem como objetivo seguir os 10 criptoativos que mais geraram taxa nos últimos 30 dias. O rebalanceamento do índice é feito na primeira semana de cada mês, seguindo os critérios mencionados. O ECI acumulou 15,5% de valorização, contra 30,8% do NCI, seu benchmark. Ressaltamos que a diferença aberta entre os índices a partir de mar/23 se deu justamente pelo fortalecimento da narrativa do Bitcoin como moeda anti-sitema financeiro tradicional, após o temor de uma crise bancária sistêmica nos EUA. O NCI, por sua vez, é majoritariamente composto por Bitcoin, fazendo com que em casos como esse, tenha uma performance melhor sobre índices compostos por ativos mais incipientes, como o ECI.
Neste rebalanceamento de maio, a principal alteração na composição do ECI ficou por conta da saída do token CAKE, do protocolo PancakeSwap, e a entrada do token ARB, da rede Arbitrum. A Ethereum gerou mais de 240 milhões de dólares em taxas nos últimos 30 dias, garantindo mais 6,83% de participação do Ether no índice, quando comparado à semana anterior.
