O Banco Central (BACEN) anunciou que vai lançar o Real Digital em 2024, após um piloto que deve ser conduzido a partir deste ano. O Real Digital será uma nova infraestrutura para o mercado financeiro brasileiro, com o objetivo de dar acesso a novos modelos, produtos e serviços, mais conectados com a economia digital. A nova moeda digital terá a sua versão de atacado e de varejo. No atacado, seu papel será intermediar transações entre instituições financeiras e com o BACEN. No varejo, as instituições autorizadas poderão tokenizar seus depósitos bancários e disponibilizá-los para a população.
Como o real digital será uma infraestrutura construída em blockchain, que não é interoperável com sistemas tradicionais, também será necessária a tokenização de todos os ativos financeiros. Desta forma, o Real Digital será semelhante ao pix, ampliando sua funcionalidade de prover pagamentos instantâneos para também prover a liquidação instantânea de ativos, como ações e títulos. A blockchain permite a criação de contratos inteligentes, que por sua vez, permitem a interação entre ativos tokenizados mediante o cumprimento das regras definidas no contrato. Em outras palavras, o Real, caso seja tokenizado e passe a existir em blockchain, passará a ser um dinheiro programável.
As principais vantagens de um sistema financeiro programável, com liquidações instantâneas, são a desintermediação e o ganho de eficiência. Com transações programáveis há menor necessidade de intermediários garantirem a concretização de operações financeiras. A consequente redução de custos para remunerar esses intermediários, tende a tornar o mercado de capitais mais acessível, diminuindo a barreira de entrada em captações menores. Além disso, com a nova infraestrutura e transações sendo concluídas na hora, espera-se um aumento na eficiência do capital e melhora da experiência do usuário.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
Essa semana, as duas principais novidades do ecossistema cripto são referentes à Ethereum.
Desenvolvedores da Ethereum definiram o dia 12 de abril como a data alvo para a atualização Shanghai, que marca a transição completa da rede Ethereum para um sistema de prova de participação e permitirá a retirada de Ethers travados em stake. Já no ecossistema de redes de escalabilidade da Ethereum, houve o anúncio do lançamento do token da Arbitrum. Arbitrum é a maior rede de escalabilidade da Ethereum por volume de capital e anunciou que distribuirá, na sexta-feira, os novos tokens ARB para membros da comunidade que atendam a critérios específicos, marcando a transição da Arbitrum para um sistema de governança descentralizado.
No cenário de finanças tradicionais, tivemos a declaração do CEO da BlackRock, Larry Fink, que destacou o progresso financeiro em outros países, como Índia, Brasil e partes da África, que estão adotando pagamentos mais rápidos e eficientes em comparação com os mercados desenvolvidos, incluindo os EUA. Ele mencionou o potencial da tokenização de ativos, que pode levar a eficiência nos mercados de capitais e melhorar o acesso para investidores. A BlackRock está explorando o ecossistema de ativos digitais e se concentrando em aspectos que gerem valor aos clientes. Outras instituições financeiras, como Goldman Sachs e Siemens, também estão interessadas em projetos de tokenização de ativos.
Análise de Mercado
Durante essa semana em que o setor financeiro global enfrentou dificuldades, o bitcoin apresentou um crescimento de 27%, superando a performance de todos os principais ativos do mundo. As falências do Sillicon Valley Bank, do Signature Bank e mais recentemente, a situação delicada do Credit Suisse, deixaram o Fed com a difícil decisão entre continuar o ciclo de aperto monetário para conter a inflação ou voltar a injetar liquidez na economia para salvar o sistema bancário de uma crise sistêmica. Optaram por afrouxar o aperto monetário com um aumento de US$ 300 bilhões em seu balanço, honrando os depósitos dos bancos afetados. A possibilidade de pressões inflacionárias globais adicionais aumentou, deteriorando ainda mais o sentimento do mercado. No entanto, o BTC se destacou em meio a toda essa turbulência, descorrelacionando-se significativamente dos mercados de ações e atuando como um ativo de proteção.
A pressão compradora no BTC tem sido majoritariamente à vista, quando normalmente conta com uma demanda equilibrada entre derivativos e negociações à vista. A maior parte das negociações à vista sugere que a intenção dos compradores está mais voltada para a preservação de capital e acúmulo do que para especulação de tendência, priorizada pelas negociações de futuros.
O principal dia da semana será quarta-feira, que contará com a reunião do FOMC. O anúncio referente à taxa de juros americana, e posterior discurso do Fed, revelarão se a discussão do mercado passará de juros altos e inflação, para uma nova narrativa de afrouxamento monetário e possível atuação dos bancos centrais para evitar uma piora da situação. O mercado está precificando um novo aumento de 25 pontos base. Acreditamos que a previsão do mercado se concretizará e o Fed deverá adotar uma postura de observação antes de efetivamente interromper o ciclo de aumento de juros.
Análise Técnica
A confirmação do rompimento dos US$ 25k serviu como gatilho técnico para compras mais agressivas de bitcoin, que fizeram o BTC até ultrapassar os US$ 28k. Os US$ 28k são um nível de resistência chave antes da reunião crítica do FOMC, e acreditamos que o mercado presenciará uma maior volatilidade nos momentos que antecederão o anúncio do Fed. O mercado está precificando um aumento de 25 bps na taxa de juros, e qualquer desvio nas expectativas pode corroborar para um aumento de volatilidade no mercado.
Caso confirmado o rompimento dos US$ 28k, um reteste da região como suporte seria um ponto de entrada válido em um cenário otimista. Entretanto, caso as atualizações do Fed desagradem os investidores, não descartamos um reteste da atual resistência imediata em US$ 25,3k, ou até mesmo os níveis de US$ 23,2k e US$ 22k, representados pelas Médias Móveis Exponencias (MME) de 50 e 200 períodos, respectivamente.
ECI (Expresso Cripto Index)
Nesta semana, o ECI e seu benchmark, o NCI, alcançaram 19,3% e 29,9% de performance acumulada, respectivamente. A recente alta no mercado cripto após o susto presenciado no sistema bancário e reflexo negativo no cenário macroeconômico na semana passada beneficiou primariamente o bitcoin. Enquanto o ECI é composto por ativos mais incipientes, o NCI é majoritariamente composto por bitcoin, o que corroborou para a grande diferença criada entre os índices.
Apesar do benchmark do ECI ter performado melhor, o ECI ainda teve uma performance de 4pp superior, quando comparado à semana anterior. Dentre os ativos que compõem o ECI, podemos destacar o Ether e a Uniswap. O ETH ganhou 1,02 pp de participação, enquanto o UNI perdeu 1,55 pp de participação no índice.