O grande objetivo por trás das blockchains é criar um sistema que permita transações entre pessoas sem a necessidade de confiar em um intermediário. Para atingir este objetivo, as transações em blockchain são aprovadas e armazenadas por múltiplos validadores. Na rede do bitcoin, a aprovação de transações ocorre pelo mecanismo de prova de trabalho, ou seja, cada validador gasta capacidade de processamento computacional para verificar a idoneidade de transações. A validação e armazenamento das transações ocorrem em blocos de informação, que quando validados, são ligados ao bloco anterior. A cadeia de blocos forma o histórico da rede.
No sistema prova de trabalho, cada validador, também chamado de minerador, compete para resolver uma equação matemática por bloco. O primeiro a ter êxito ganha o direito de verificar as transações do bloco e recebe uma recompensa, que é composta por moedas entrando em circulação e taxas de transação entre usuários. Por ser uma função aleatória, quanto mais rápido um computador conseguir chutar o resultado, maior a probabilidade de acerto. Para maximizar o número de chutes, e consequentemente acertos e lucro, os mineradores utilizam máquinas potentes e com alto poder de processamento, explicando o alto gasto energético da mineração de bitcoin.
Após um minerador acertar a equação, sua resposta é compartilhada com o restante dos mineradores. Com a confirmação da veracidade da resposta por 50%+1 dos mineradores, o bloco de transações é adicionado ao histórico da rede. Contudo, caso um determinado minerador acerte a equação matemática, mas tente fraudar a rede, os demais não irão aprovar o bloco, fazendo com que o minerador perca a sua recompensa. Portanto, ao agir de má fé e ser desmascarado, um minerador terá gasto energia elétrica, que tem um custo financeiro, e não obterá nenhum retorno.
A arquitetura da rede explica o gasto energético do bitcoin e por quê a sua blockchain ser tão segura. Para fraudar a blockchain seria necessário ter poder computacional equivalente a 50%+1 de todos os mineradores, o que por sua vez, demandaria uma quantidade elevadíssima de energia elétrica. Como atualmente são empregados cerca de 130 TWh na mineração de bitcoin por ano, um consumo superior à toda Argentina, é extremamente improvável alguém ser capaz de fraudar a rede.
Com a ascensão de discussões ambientais, o gasto de energia da mineração do bitcoin vem sendo cada vez mais questionado. Sem entrar em detalhes, apesar das crescentes críticas, cada vez mais somos levados a crer que a mineração do bitcoin é ambientalmente amigável. Acreditamos que a mineração poderá ter um papel relevante na transição energética. Ao longo das nossas próximas newsletters, vamos aprofundar as relações do mercado de energia e mineração.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
Nesta semana, desenvolvedores da Ethereum anunciaram o lançamento da primeira rede de testes para a atualização Shanghai, programada para Mar/23 e que permitirá a retirada de Ethers em stake. O processo de staking é importante pois são os Ethers em stake que garantem a segurança da rede Ethereum. Entretanto, uma vez que envie Ethers para stake, o usuário passa a receber as recompensas da rede, mas ainda não é capaz de reavê-los, ficando com o saldo preso. Hoje, aproximadamente 14% da oferta de Ether está em stake. Com sucesso na implementação da atualização Shangai, esperamos que a quantidade de Ethers em stake aumente ainda mais, dado que a possibilidade de sacar os recursos deve reduzir a reticência de investidores à alocar capital na validação da rede.
No mundo das aplicações descentralizadas, uma discussão tomou conta do mercado quando a real descentralização de grandes protocolos. A Uniswap está conduzindo uma votação para conectar a exchange descentralizada com a blockchain da Binance, BNB Chain. Durante a votação, a grande empresa de venture capital, a16z, usou sua participação em tokens UNI para votar contra a integração. O UNI é o token nativo da Uniswap, que funciona como um token de governança, permitindo que os usuários votem nas principais propostas. O voto da a16z levantou preocupações sobre a descentralização da Uniswap na comunidade cripto.
Por último, mas não menos importante, foram noticiados avanços no âmbito de regulação cripto em diversos países. Reino Unido, Hong Kong, Filipinas e Índia foram alguns dos países que anunciaram avanços nas diretrizes de regulamentação de criptoativos. Reforçamos que a regulação é essencial para que as instituições tenham maior clareza, e consequentemente segurança, para realizar investimentos no setor.
Análise de Mercado
Na última semana o valor total do mercado cripto ultrapassou US$ 1t pela primeira vez em meses. O mercado oscilou perante o último FOMC e à decisão de aumento da taxa de juros dos EUA pelo Federal Reserve, que trouxe a taxa de juros do país para 4,5-4,75%. O comentário de Jerome Powell após o anúncio sinalizou que as taxas de juros podem estar próximas a um “nível suficientemente restritivo”. O potencial término do ciclo de elevação das taxas de juros, podem beneficiar os ativos de risco.
As expectativas para a inflação de Jan/23 podem movimentar os mercados de ativos de risco no curto prazo. Caso a inflação venha acima do esperado, o FED poderá precisar estender o ciclo de contração monetária por mais tempo. Ademais, a aproximação da atualização Shangai pode implicar em aumento da volatilidade do Ethereum e dos seus pares de derivativos de staking líquido, como a Lido, que comentamos na newsletter da semana passada.
Análise Técnica
O BTC fechou em -3,42% na semana, encerrando as 4 semanas consecutivas de ganhos positivos. Após um novo teste da resistência de curto prazo em US$ 28,3k, o BTC entrou na semana com maior pressão vendedora. À medida que o ritmo de alta diminui, provavelmente veremos o BTC continuar a se consolidar na faixa de US$ 21k a US$ 25k, com qualquer mudança nas expectativas macroeconômicas sendo responsável pelo aumento na volatilidade de curto prazo.
As duas regiões de congestão, delimitadas em branco no gráfico, variam em tempo e range de preços. Quanto maior a amplitude temporal e range, mais força possui a região de congestão. Se compararmos a formação atual com a iniciada em Nov/22, concluímos que a região de congestão atual possui menor força e pode ser rompida mais facilmente. Caso o suporte em US$ 22,8k seja rompido, aguardamos o reteste do suporte em US$ 21,4k, que pode servir como base para a formação de um pivot de alta. Caso a formação do pivot de alta não se confirme, acreditamos no próximo suporte em US$ 20,3k, formado em 18/jan.
O Índice de Força Relativa – IFR 14 – que mede a força da tendência, está na linha dos 61 pontos e está saindo da região de sobrecompra e caminhando para a região neutra que fica próximo dos 50 pontos. Em termos comparativos, 20 dias atrás o BTC alcançou 87 pontos no IFR. Essa perda de força no IFR corrobora com nossa visão de correção no curto prazo.
ECI (Expresso Cripto Index)
O mês de janeiro desse ano foi um dos melhores meses para o mercado cripto em toda a história. Com o encerramento do mês, tivemos também o encerramento de 4 semanas consecutivas de alta nos principais criptoativos. O ECI e o NCI contam com uma performance consolidada de 15,2% e 11%, respectivamente.
Por ser a primeira semana do mês, o ECI foi rebalanceado conforme atualização dos volumes pagos em taxas em cada projeto nos últimos 30 dias. Não houve nenhuma mudança na composição do ECI. No entanto, as alocações foram alteradas, com destaque para Uniswap e Ethereum. Com o aumento no volume de taxas, as participações de UNI e ETH na carteira foram aumentadas em 6,11 pp e 4,98 pp, respectivamente. Em contrapartida, as participações em Lido reduziram 4,88 pp. A tabela abaixo ilustra a nova composição e o critério de alocação.