Nós acreditamos que a tecnologia blockchain e criptoativos têm o potencial de revolucionar várias áreas, como redes sociais, comunidades online, jogos e até mesmo o conceito de metaverso. No entanto, uma análise mais profunda nos faz crer que a aplicação dessas tecnologias ainda está desconexa da sua essência.
O cerne da tecnologia blockchain reside na capacidade de moderar relações de confiança, eliminando a necessidade de intermediários. Isso é fundamental para garantir a segurança dos usuários em várias plataformas, como redes sociais. A relação entre usuários e plataformas atualmente é feita contratualmente, sem uma proteção profunda. No entanto, a implementação de contratos inteligentes pode mudar esse cenário, limitando o acesso às informações dos usuários e fornecendo transparência sobre o uso de seus dados.
Ademais, as redes sociais não querem, e não podem, cruzar os cadastros de usuários umas com as outras. Parte da inviabilidade de cruzar as bases de dados vem dos termos e condições distintos entre plataformas, mas também do risco de uma rede social roubar o usuário e dados de outra. Por outro lado, se essa relação puder ser regulada via um contrato inteligente, o risco não existirá mais.
Dada a viabilidade de criarmos um banco de dados único entre redes sociais, conseguiremos monetizar não só uma base de dados, mas várias. O melhor disso é que provavelmente as bases de dados do Facebook, Youtube e Linkedin valem muito mais juntas do que separadas. Isso permitiria também que terceiros passassem a veicular publicidade para este público.
Apesar da grande disrupção que esses conceitos podem gerar, acreditamos que os papeis de players de mídia não devem mudar tão drasticamente. Em contrapartida, sua arquitetura, que hoje é fechada, deve abrir. Ou seja, imaginamos um mundo no qual as grandes plataformas continuam tendo usuários, mas suas informações poderão ser monetizadas por terceiros. Influenciadores e novos provedores de serviços de mídia provavelmente passarão a ter mais relevância e acesso aos dados dos usuários, enquanto as grandes empresas de tecnologia terão menos controle.
A mudança para essa nova arquitetura ocorrerá de forma gradual. Esperamos ver um número crescente de aplicações que desintermedeiem os cadastros de usuários com as plataformas. Por exemplo, aplicações que permitem que os usuários coletem NFTs de criadores de conteúdo e os utilizem para obter benefícios. O canal de veiculação do conteúdo segue sendo a rede social, mas o cadastro e engajamento do usuário passaria a poder ser exportado para outra aplicação. Um exemplo de aplicação que faz isso no Brasil é o “gotas.social”, que nós já estamos usando em nossas lives.
Na nossa avaliação, metaverso também esteve descorrelacionado com o real senso do uso de blockchain. Provavelmente veremos o metaverso nascer via um jogo que ganhe popularidade em blockchain, provavelmente um jogo role-play. A blockchain será o data-base que guardará a posse dos ativos do jogo, facilitando a sua negociação em mercado secundário ou a interconectividade com outros jogos, ou com novas versões de um mesmo jogo.
No geral, a análise indica que o mercado não errou nas teses sobre blockchain e cripto, mas sim na forma e velocidade de sua implementação e aplicação real. A adoção dessas tecnologias será gradual e provavelmente enfrentará obstáculos ao longo do caminho.
A melhor maneira de aproveitar essa tendência é se tornar um early-adopter. Estabeleça vínculos com as soluções existentes, utilize-as e compreenda suas vantagens. Um jogo em blockchain pode não ter vantagens em termos de jogabilidade, mas certamente oferecerá benefícios na comercialização de itens do jogo. Da mesma forma, uma rede social descentralizada precisará oferecer vantagens no seu engajamento como usuário, oferecendo maiores contrapartidas pela sua atenção e tendo uma melhor oferta de produtos.
Essa análise é muito mais abrangente do que para comunidades ou metaverso. Vale fazer o exercício para muitas das grandes apostas do mercado, pois muitas deixarão de ter qualquer sentido, ou não gerarão ganhos em se utilizar de blockchain. Vale ressaltar que inovação não tem valor se não é demandada, ou seja, se não possuir product-market-fit. Acreditamos que cripto possui product-market-fit, mas que o mercado ainda falha em identificá-lo.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
Na sexta-feira, a SEC tomou a decisão de não recorrer da decisão do tribunal que anulou a rejeição de seu caso contra a Grayscale, que pleiteia a conversão do Trust Grayscale Bitcoin (GBTC), seu fundo de investimento em BTC, em um ETF à vista. O fato de a SEC não recorrer, aumentou consideravelmente as expectativas de aprovação dos ETFs à vista de BTC nos EUA. Além disso, a redução do desconto pelo qual as cotas do GBTC estão sendo negociadas em relação aos ativos da trust, que saiu de 48% no início do ano para 16,5% nesta segunda-feira, também tem sido visto como um indicativo de otimismo no mercado em relação a aprovação dos ETFs à vista de BTC. A constante redução do desconto sugere que os investidores estão antecipando a transição dos fundos da Grayscale de um trust fechado para um ETF. Analistas de ETFs internacionais e ex-executivos da BlackRock atribuem uma chance de 90% de aprovação dos ETFs de BTC à vista dentro dos próximos 3 meses.
Nesta segunda-feira, entretanto, a plataforma de notícias de criptomoedas Cointelegraph, transmitiu a notícia de que a SEC havia aprovado o ETF de BTC à vista da BlackRock. A notícia se espalhou rapidamente e o valor do BTC disparou mais de 10%, sem qualquer confirmação oficial da SEC ou da BlackRock. Em questão de minutos a notícia se provou falsa, tendo sido suficiente para gerar mais de US$ 100m em liquidações de contratos futuros.
Análise de Mercado
Os produtos institucionais de investimento em criptoativos registraram entradas pela terceira semana consecutiva, embora os volumes de negociação permaneçam 27% abaixo da média de 2023. O BTC registrou entradas de US$ 16m na semana passada, elevando o total de entradas no ano para US$ 260m. As apostas na queda do BTC tiveram entradas de US$ 1,7m na semana. O Ethereum, apesar do recente lançamento de um ETF de futuros, presenciou pouco apetite por parte dos investidores, com saídas de US$ 7,5m na semana passada, corrigindo grande parte das entradas da semana anterior.
No que diz respeito ao cenário macroeconômico, a principal preocupação segue sendo se o Fed conseguirá combater a inflação com o nível atual de juros, após a continuidade de dados econômicos fortes nos Estados Unidos. Embora os dados de inflação de setembro tenham correspondido às expectativas, o PPI para o mesmo mês superou as previsões em 0,5%. O PPI é comumente visto como o principal indicador para a inflação. Simultaneamente, a escalada do conflito no Médio Oriente representa um risco de aumento dos preços do petróleo. O ouro teve uma valorização de 5% na semana, sugerindo uma maior preocupação com o cenário pelos investidores, que como consequência, podem estar buscando ativos mais seguros.
Análise Técnica
O preço do BTC atingiu US$ 30k após um aumento de 10% durante as primeiras horas da segunda-feira, seguindo a notícia de que a SEC dos EUA havia aprovado o ETF de BTC da BlackRock. No entanto, a explosão foi de curta duração após a confirmação de que a notícia era falsa. A reação pode ser um presságio do tipo de tumulto que poderia ocorrer quando a SEC realmente der sinal verde para os pedidos de ETF à vista. O falso rumor impulsionou o preço do Bitcoin para a faixa de US$ 28k, com o Índice de Força Relativa (RSI) mantendo-se acima do nível 50.
A grande vela causada pela especulação falsa se assemelha a uma vela de exaustão, que pode sinalizar uma mudança na tendência de curto prazo e mais quedas de preço. O BTC provavelmente vai devolver toda a valorização da segunda-feira, tendo como primeiro alvo os US$ 26k. Qualquer cenário mais otimista demandaria menor incerteza macroeconômica, ou a real aprovação dos ETFs à vista.