O Friend.tech, a mais nova aplicação do setor de SocialFi, ganhou destaque no cenário cripto ao permitir a compra de “ações” de criadores de conteúdo do Twitter, proporcionando acesso a chats privados com os criadores de conteúdo em questão. O conceito de SocialFi junta mídias sociais e finanças descentralizadas, recompensando diretamente os usuários pelo conteúdo criado e interações na plataforma. A ascensão do Friend.tech exemplifica essa tendência, mas o modelo ainda abre margem para críticas relevantes sobre sua sustentabilidade econômica.
O aplicativo funciona a partir de uma mecânica de criação e queima de frações de um perfil do Twitter, conforme forem sendo negociadas. Por transação é cobrada uma taxa de 10%. O comprador passa a ter acesso a um chat exclusivo com o influenciador. Já o influenciador, recebe o valor pago pelas sua frações e um rebate de 50% das taxas de transação. A problemática do Friend.tech é o modelo de monetização para o influenciador, algo que é relevante mesmo em modelos centralizados. Como o influenciador recebe grande parte do pagamento de uma vez por um conteúdo que ele deverá produzir ao longo do tempo, há pouco incentivo para que ele siga produzindo o conteúdo, principalmente à medida que a data do pagamento se distancia.
O mesmo racional é aplicado em assinatura e clubes, por exemplo. Como o valor é entregue ao longo do tempo, o assinante prefere pagar mensalmente, mitigando o risco de deixar de receber o benefício. Uma eventual solução seria tratar a fração do influenciador como um título, que ainda gerasse a obrigação de pagamentos recorrentes. O título geraria escassez, motivando as compras. O formato é muito parecido com o de sociedade de clubes poliesportivos e de entretenimento.
Na nossa visão, o grande potencial do SocialFi está na possibilidade de viabilizar uma comunidade baseada em um token, com acesso a um conteúdo exclusivo independentemente da plataforma, e remunerando diretamente o produtor do conteúdo. Neste caso, usaríamos um dos melhores atributos que a blockchain tem a oferecer, o registro único, compartilhando-o com múltiplas redes sociais. Esse caso de uso específico ainda não obteve sucesso, com os projetos atuais ainda estando muito focados em criar comunidades dentro de redes sociais específicas.
No que se refere ao Friend.tech, recomendamos cautela. O tokenomics nos parece fazer pouco sentido e à medida que o protocolo perder a euforia de lançamento, é provavél que o investidor fique de mãos abanando, sem dinheiro e sem conteúdo.
O Que Mais Aconteceu na Semana?
O mercado cripto enfrentou grandes turbulências na última semana, com o preço do Bitcoin caindo para o nível mais baixo desde junho de 2022, chegando abaixo de US$ 26k na sexta-feira. A queda de 11% em relação à semana anterior é o pior desempenho desde o crash de novembro passado, após o caos ocasionado pela quebra da FTX. O excesso de alavancagem apostando na alta do mercado e a volatilidade das opções em mínimas históricas foram os combustíveis para o movimento de queda. A faísca que deu início ao movimento foi causada pela notícia de que a SpaceX e a Tesla teriam zerado todo o seu portfólio de BTC.
O Ethereum, que também despencou, teve uma forte recuperação nos minutos seguintes, após o rumor de que a SEC estaria prestes a aprovar os ETFs de futuros de Ether nos EUA. O principal evento no que se refere a ETFs agora é o caso da Grayscale contra a SEC, que aparentemente está chegando a uma conclusão. O resultado deve impactar as próximas respostas de pedidos de ETFs de BTC à vista, previstas para o início de setembro.
Análise de Mercado
A queda de sexta-feira marcou a maior liquidação diária desde o crash da Luna em junho de 2022, totalizando US$ 1bi em liquidações. O cenário foi agravado pelo aumento das preocupações macroeconômicas, incluindo receios sobre a economia chinesa e o aumento dos rendimentos dos títulos longos americanos, o que pode piorar a situação dos mercados de ativos de risco.
A perspectiva para ativos de risco, em geral, piorou devido ao aumento das taxas de juros de títulos longos, aumento dos custos de energia, preocupações com a economia da China e o compromisso dos principais bancos centrais em manter as taxas de juros elevadas por mais tempo para conter a inflação. Novas diretrizes podem surgir na próxima sexta-feira, durante o simpósio de Jackson Hole, no qual Jerome Powell discursará.
Análise Técnica
A recente queda fez com que o preço do BTC rompesse uma área de suporte importante, que engloba as médias móveis de 100 e 200 dias, indicando um sentimento geral de baixa no mercado. Posteriormente, a criptomoeda caiu e chegou à zona de suporte em US$25k.
No entanto, o nível de US$25k tem servido há muito tempo como um suporte psicológico, reforçando ainda mais sua importância para o momento atual. Portanto, caso o nível de US$ 25k seja testado, em conjunto com um aumento na atividade compradora, os investidores poderiam antecipar uma reversão de tendência para alta. Por outro lado, caso o preço não se sustente acima dos US$ 25k, o BTC pode desencadear outro efeito cascata, levando-o em direção aos US$20k.
ECI (Expresso Cripto Index)
Nesta semana, o ECI e seu benchmark, o NCI, alcançaram 8,1% e 21,4% de performance acumulada, respectivamente. O impacto negativo no mercado cripto foi drástico em ambos os índices, entretanto, a boa recuperação do Ether frente ao Bitcoin, colaborou para que o ECI reduzisse a diferença em 2 p.p., quando comparado com a semana passada.
A atual composição do índice pode ser observada na tabela abaixo. Vale ressaltar que esse é um índice passivo, composto pelos 10 protocolos que mais geraram taxas de rede nos últimos 30 dias, com rebalanceamento na primeira terça-feira de cada mês.