Ontem foi divulgada a ata da reunião do comitê de política monetária da semana passada, reunião essa em que foi decidida a manutenção da taxa básica de juros da economia, Selic, em 15,00%.
O objetivo da ata é trazer informação sobre o que foi debatido na reunião do comitê, semelhante ao comunicado, mas de forma mais detalhada. De vez em quando, a ata contém alguma informação nova ou diferente, como um tom mais ou menos duro (hawk ou dove, respectivamente) ou algum trecho importante omitido no comunicado.
Dessa forma, a tarefa típica dos players de mercado é vasculhar o documento com atenção, buscando alguma pista de algo que possa balizar a condução futura da política monetária.
Em nossa avaliação, a ata seguiu um tom muito parecido com o do comunicado e das reuniões anteriores, mas com uma leve inclinação dove. Manteve a postura dura em relação a dinâmica recente da inflação, ressaltando que ela se encontra acima do teto da meta de inflação. Além disso, reiterou que não hesitará em retomar o ciclo de alta caso veja como sendo necessário. O tom duro, que comprou credibilidade do mercado, e já contido nos comunicados anteriores, seguiu presente na ata.
Na outra direção, sentimos um tom um pouco dove em relação a atividade econômica. A autoridade monetária parece ter tido mais confiança de que sua avaliação sobre as condições de demanda (medida pelo hiato do produto, uma variável não observável) parecem bem calibradas, e esta sinaliza enfraquecimento. Postularam que “os sinais vindos da demanda e da atividade são compatíveis com a política monetária”. Mais ainda, reiterou que “em momentos de inflexão do ciclo econômico, é natural observar sinais mistos de indicadores”. Além disso, incluiu que a inflação corrente seguiu surpreendendo para baixo, apesar de continuar acima da meta.
Todas essas afirmações estão corretas. Mas, em nossa avaliação, amenizam o tom duro que vinha até então. A surpresa baixista na inflação corrente é consequência da política monetária ou enfraquecimento da moeda americana? A atividade deveria ceder frente a uma política monetária restritiva, mas não há tantos dados ainda para se dizer se o ritmo de arrefecimento é o esperado frente ao elevado aperto monetário. O mercado de trabalho, que segue forte e resiliente, não corrobora uma demanda tão moderada assim. Não vemos isso com tanta clareza quanto o BC.