A divulgação da ata do Copom referente à reunião de janeiro na manhã de ontem reforçou o tom cauteloso do comitê, chamando atenção para fatores de risco para a convergência da inflação, sobretudo a resiliência do mercado de trabalho. O documento veio ligeiramente mais duro do que o antecipado pelo mercado e reforça a intenção dos diretores de manter uma postura cautelosa frente as incertezas do cenário prospectivo.
No que diz respeito ao cenário externo, os riscos emergem das incertezas em torno da demanda global nos próximos meses, que em um cenário de maior resiliência das economias, pode reverter a trajetória dos preços das commodities, pressionando a inflação de bens industriais e energia. Além disso, o comitê destacou que a continuidade das tensões geopolíticas e a resiliência do mercado de trabalho nas principais economias como fatores adicionais de risco inflacionário global que podem adiar o ciclo de afrouxamento monetário dos principais BCs, sobretudo o Fed.
No cenário doméstico, apesar do comitê avaliar que a dinâmica recente da inflação e a desaceleração da economia tenham vindo dentro do esperado, o documento ressaltou alguns pontos de atenção que serão monitorados pelo BC. Em primeiro lugar, chamou-se atenção para a perspectiva de atenuação da desaceleração da economia, em um contexto de mercado de trabalho aquecido, com aceleração dos ganhos de rendimentos em termos reais, que pode impactar a velocidade de convergência da inflação para a meta, através da reversão da trajetória de arrefecimento da inflação de serviços, sobretudo subjacentes. Além disso, foi destacada também a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação, que se mostram um importante fator de preocupação e demandam uma atuação firme da autoridade monetária.
Assim como sinalizado pelo FOMC na última semana, a ata da última reunião do Copom reforça o tom de cautela diante do cenário ainda bastante incerto, marcado por diversos riscos que podem comprometer a convergência da inflação para a meta. Nesse cenário, seguimos avaliando que o BC deve perseverar no atual ritmo de cortes nas próximas 3 reuniões e encerrar o ciclo de afrouxamento monetário com a Selic em 9,5% a.a.