Economia

Publicado em 09 de Setembro às 19:05:51

A convergência das expectativas Focus e a divergência de cenários

A divulgação da pesquisa Focus dessa segunda-feira (09/09) mostrou uma forte alta da taxa Selic, que saiu de 10,50% para 11,25% no fim de 2024, na esteira do mercado ter precificado a necessidade de um miniciclo de alta de juros.

A Selic média do final do ano já se situava acima de 10,50%, mas só agora houve o deslocamento da Selic mediana para um nível acima desse patamar. Este ponto serve como indicador de que um maior consenso por parte dos agentes de mercado de que o banco central brasileiro promoverá aumentos de juros ainda esse ano demorou a se formar.

Desde quando optou por retirar o “guidance” na reunião de maio, o banco central deixou o mercado precificar livremente os próximos passos da política monetária. Contudo, o que está sendo precificado agora pelos investidores em termos da trajetória para a taxa básica de juros não é internamente consistente com os modelos da própria instituição.

Sendo assim, se o banco central der início a um ciclo de alta de juros já na próxima reunião de setembro, antes de revisar para cima algumas das principais variáveis do seu modelo de pequeno porte como o hiato do produto e o juro real neutro, que atualmente são estimados em 0,0% e 4,75%, ele estaria fazendo isso mais por motivos de buscar reforçar a sua credibilidade do que por motivos de combate à inflação, uma vez que a inflação alcançada no fim do horizonte relevante (1º trimestre de 2026) seria praticamente a mesma (3,1% e 3,2%) tanto sob o cenário base (Focus, que contempla alta de juros nas próximas reuniões e depois cortes em meados de 2025) como sob o cenário alternativo (no qual a Selic é mantida constante em 10,50% ao longo de todo o horizonte relevante).

Visto isso, sob a ótica da parametrização atual do modelo do banco central e supondo que esta esteja correta, achamos que o Copom deveria optar pela estratégia contida no cenário alternativo e manter a Selic estável em 10,50% ao longo de todo o horizonte relevante.

Contudo, o problema com essa estratégia na nossa visão é que ela parte do uso de variáveis não-observáveis que julgamos assumirem valores excessivamente otimistas na modelagem do banco central. A nossa estimativa para a taxa neutra de juros é de 5,7%, bem acima da empregada no modelo da autoridade monetária. Já para o hiato do produto, os nossos modelos indicam um hiato positivo (isto é, PIB acima do potencial) de 1,4%, ao mesmo tempo em que o banco central trabalha com um hiato zerado.

A divergência nessas duas variáveis cruciais, além de enxergarmos um forte impulso de demanda e um mercado de trabalho que deve ficar cada vez mais apertado, nos leva a uma projeção de inflação no teto da meta (4,5%) nesse ano e no próximo, o que justificaria, sob essa ótica, o início de um novo ciclo de aperto monetário.

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