Economia

Publicado em 05 de Outubro às 19:01:04

A trajetória futura das Treasuries americanas

Após o rendimento das “Treasuries”, títulos de 10 anos do Tesouro norte-americano, saltar de cerca de 0,5% em 2020 para 3,3% em meados de maio de 2023, o movimento de alta se acentuou ainda mais desde então, atingindo 4,8% agora no início de outubro. A acentuação desse movimento passou a ganhar cada vez mais atenção dos investidores, de modo que prever o nível dessas taxas no futuro se tornou algo extremamente importante para inferir qual rumo tomará a maior economia do mundo.

Embora existam alegações a favor de rendimentos tanto mais altos como mais baixos no futuro, no momento os primeiros parecem estar superando os últimos em número e na força do argumento.

Dentre os pontos que advogam a favor da continuidade do movimento de alta, ainda que menos intenso, do rendimento das Treasuries estão: crescimento econômico resiliente, inflação ainda persistente e com riscos de apresentar repique, emissão de um grande volume de títulos para fazer frente ao elevado déficit do governo e para recompor o caixa do Tesouro e a forte diminuição na demanda de títulos do governo americano por parte de países como a China e o Japão. Por outro lado, podem contribuir para a diminuição no rendimento das Treasuries: a queda no preço desses títulos ter atingido um patamar no qual eles voltam a ser atrativos para os investidores, voltando a haver uma maior demanda por eles, e a divulgação de alguns indicadores apontando para uma maior probabilidade de recessão nos EUA mais à frente.

Vale destacar que em ambos os casos, de subida ou de queda nos rendimentos (“yields”) das Treasuries, o cenário seria ruim para o investimento no mercado de ações. Isto porque no caso de continuidade da trajetória de alta, a alocação de recursos em títulos de renda fixa ficaria ainda mais vantajosa em relação a renda variável. Já no caso de inflexão, com um movimento de queda nos rendimentos tendo início, oportunidades de ganhos consideráveis na marcação a mercado emergiriam, ainda deixando o investimento em ações pouco atrativo em termos relativos.

Visto isso, o maior risco no horizonte seria a ocorrência de um cenário de estagflação. Num eventual cenário dessa natureza, uma recessão econômica nos EUA não poderia ser acompanhada por quedas de juros significativas por parte do Banco Central norte-americano (Federal Reserve), uma vez que a autarquia não poderia renunciar ao controle inflacionário em prol de fornecer sustentação para a atividade econômica. Um dos efeitos colaterais seria a impossibilidade de queda dos rendimentos das Treasuries, o que impediria a valorização desses títulos na marcação a mercado e, ao mesmo tempo, levaria a perdas no mercado de ações. Esse seria o pior cenário possível para os ativos financeiros. A boa notícia é que historicamente grandes períodos de desinflação nos EUA costumam vir logo na sequência de períodos de recessão.

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