Após um período de “lua de mel” entre o governo e o mercado financeiro, durante o qual os preços dos ativos financeiros no Brasil (câmbio, ações e juros) mostraram uma tendência de valorização, o ambiente começou a se deteriorar no final do mês de julho. De lá para cá, a taxa de câmbio já desvalorizou cerca de 5%, a BOVESPA teve doze pregões consecutivos de queda e os juros, principalmente os mais longos, entraram em elevação, apesar da decisão do Copom de reduzir a taxa SELIC em – 0,5 p.p. na reunião de agosto.
Pelo menos três fatores estão por trás desta mudança de comportamento dos preços dos ativos financeiros. O primeiro fator importante é a avaliação de que está se tornando impossível atingir as metas de superavit primário propostas no arcabouço fiscal. Dada a dificuldade do governo de aprovar os aumentos de impostos necessários para cumprir as metas e os sinais de frustração do desempenho da receita tributária, está cada vez mais claro que as metas não deverão ser cumpridas, o que torna evolução da relação dívida/PIB mais negativa.
Um segundo fator é a resiliência da economia americana, o que tem dificultado a queda da inflação na maior economia do mundo. Com isto, aumentou a probabilidade de que o Federal Reserve, banco central americano, eleve a taxa básica de juros da economia em uma de suas próximas reuniões ainda este ano. Este fator, combinado ao aumento de juros no Japão e redução de liquidez devido à venda de título pelo Tesouro dos USA, gerou aumento das taxas de juros dos títulos longos do país e pressão sobre a taxa de câmbio no Brasil. Um fator agravado pelo fato de que o Brasil entrou em um período de queda dos juros, o que indica uma redução do diferencial de juros entre os dois países e torna os títulos brasileiros menos atraentes para os investidores estrangeiros.
Finalmente, a economia chinesa tem dado sinais de desaceleração da atividade mais intensa que o esperado. E se intensificaram. Tivemos deflação de – 0,3% do CPI e – 4,4% PPI entre junho de 2022 e junho de 2023, redução do crédito corporativo, diminuição das exportações e das importações, uma das maiores imobiliárias do país não conseguiu honrar seus compromissos financeiros, a taxa de desemprego dos jovens continua acima de 20% da força de trabalho, enfim, os dados começam a sugerir uma economia muito próxima de recessão, o que reduz os preços das commodities e gera pressão sobre a taxa de câmbio no Brasil. Sem dúvida, o cenário está mais desafiador.