Ontem (26/10) foi um dia de intensa agenda econômica nas principais praças financeiras globais (Estados Unidos e Zona do Euro) com a divulgação do PIB norte-americano do terceiro trimestre e a decisão acerca das principais taxas de juros de referência por parte do Banco Central Europeu (BCE). O Brasil também fez parte dessa agenda de dados, com a divulgação do IPCA-15 referente ao mês de outubro.
Em relação ao IPCA-15 o quadro geral foi promissor porque, apesar de ter apresentado aceleração, a alta dos serviços foi basicamente puxada pelo item de passagens aéreas, reconhecidamente um dos mais voláteis. A inflação subjacente (que é um melhor indicador de para onde a inflação está indo) continuou a arrefecer, o que é um bom sinal. Contudo, o fato de o processo de desinflação dos serviços ter sido interrompido contribui para sedimentar o atual ritmo de corte de 50 pontos-base na taxa Selic pelas próximas reuniões do Copom do ano, impedindo uma aceleração para 75 pontos-base.
Já a divulgação da primeira prévia do PIB dos EUA do terceiro trimestre deixa sinais mistos para o Banco Central norte-americano (FED). Se por um lado a atividade mais forte, puxada principalmente por uma expansão acima das estimativas do consumo pessoal, aponta para a necessidade de uma alta de juros adicional nesse quarto trimestre, a desaceleração do núcleo de inflação de um ritmo anualizado de 3,7% t/t para 2,4% t/t, aliado a um aumento considerável dos estoques, pode indicar o possível fim do ciclo de aperto monetário nos EUA. Olhando mais à frente, o consumo das famílias, principal componente do PIB pelo lado da demanda, deve perder força devido a redução da renda disponível por conta da volta dos pagamentos dos financiamentos estudantis. Isso deve fazer com que o crescimento do PIB no quarto trimestre seja bem menor do que o avanço anualizado de 4,9% t/t observado agora. Por outro lado, a revisão altista do excesso de poupança das famílias em volume considerável deve limitar a desaceleração da atividade econômica nesse final de ano.
Por fim, no tocante a decisão de juros na Zona do Euro, o BCE optou por manter as suas principais taxas de referência (refinanciamento, depósitos e empréstimos) inalteradas depois de 10 altas consecutivas. A autoridade monetária do bloco optou por deixar as taxas de juros estáveis mesmo reconhecendo que a inflação deve permanecer alta por um longo período. Paralelamente a isso, o BCE também não sinalizou que chegou ao fim desse ciclo de alta de juros, deixando a porta aberta para mais altas no futuro caso julgue necessário. Vale destacar que o BCE pausou o aperto monetário com o juro real ainda em patamar negativo, visto que os juros nominais se encontram em 4,0% ao ano e a inflação em 4,3% a/a, o que ainda não deixa a política monetária em patamar suficientemente restritivo. Essa política de juros adotada pelo BCE parece estar sendo levada a cabo por conta das preocupações com a atividade econômica mais fraca e com os riscos inerentes a uma abertura dos “spreads” entre os títulos soberanos dos países europeus.