Na manhã de ontem, foi divulgado o IPCA-15, dados de inflação que consistem na variação média dos preços entre os últimos 15 dias de abril e os primeiros 15 dias de maio. Houve variação de 0,44% m/m do índice cheio, ficando em linha com a nossa projeção, entretanto, melhor do que o consenso de mercado (0,47% m/m, Broadcast+). Dessa forma, no acumulado em 12 meses, a taxa registrou variação de 3,70% a/a.
Em nossa visão, a composição do indicador se mostrou benigna, refletindo a continuidade do arrefecimento da métrica de serviços subjacentes, índice acompanhado de perto pelo BC no que diz respeito à condução da política monetária. Além disso, a inflação de alimentos também surpreendeu positivamente, com uma taxa de variação de 0,22% m/m, vindo abaixo do esperado pelo mercado (0,51% m/m). Por sua vez, a inflação de industriais seguiu em tendência baixista, refletindo o cenário doméstico marcado por condições de crédito ainda adversas e um cenário externo marcado pela exportação de deflação da China.
Isso significa mais um passo em direção ao fim da dinâmica inflacionária? Não necessariamente. A média dos núcleos, medida de inflação também que deveria ser menos influenciada por fatores externos, acelera pela quarta leitura consecutiva. Os itens industriais menos sensíveis ao ciclo de crédito (semi e não duráveis) seguem em ritmo de aceleração também pela quarta leitura seguida. Por sua vez, apesar da trajetória de arrefecimento da inflação de serviços, esta vem se estabilizando em um patamar incondizente com o cumprimento da meta de inflação.
Em um contexto marcado por um mercado de trabalho apertado, com ganhos salariais expressivos em termos reais, uma possibilidade é que os consumidores, ao se depararem com preços de serviços elevados, acabam por realocar suas decisões de consumo para bens menos afetados pela alta dos salários e condições de crédito. No agregado, isso freia a aceleração nos serviços, em um movimento de reequilíbrio de preços relativos da economia, e aumenta os preços de bens não duráveis, especialmente àqueles não essenciais e sensíveis a aumento de renda, como roupas e perfumes.
Apesar do número dessa leitura ter sido positiva, não deve mudar a forma como o Banco Central vê o cenário econômico atual. Vemos uma demanda ainda aquecida, tornando difícil diferenciar o que é efeito de política monetária e diferentes decisões de consumo frente a diferentes preços relativos. Além disso, a dinâmica corrente mais benigna da inflação se encontra ofuscada pela desancoragem das expectativas de inflação, que demanda maior cautela na condução da política monetária. O Banco Central ainda parece ter muito trabalho pela frente.