A ampla vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais na Argentina surpreendeu parcialmente os investidores. A expectativa era de uma eleição apertada, com ligeiro favoritismo para Milei. O novo presidente irá herdar uma forte crise econômica e social, inflação, na margem, acima de 250% ao ano e em aceleração, situação fiscal totalmente fora de controle e em trajetória de deterioração e elevados níveis de pobreza. Como enfrentar esta profunda crise?
Dado a profundidade da crise, Milei já declarou que uma estratégia gradualista não é aplicável, sugerindo que deverá adotar uma “estratégia de choque”, o que indica que o cenário deverá piorar antes de melhorar.
Em especial, unificar e liberalizar a taxa de câmbio, aumentar as taxas de juros, eliminar os impostos e os controles quantitativos sobre as exportações, com o objetivo de gerar superávits consistentes da balança comercial do país e, desta forma, aumentar a oferta de Dólares na economia.
O primeiro efeito seria desvalorização do câmbio oficial mas, provavelmente, valorização do câmbio no mercado paralelo, o Dólar blue, com efeito sobre a taxa de inflação e aumento do desemprego. Entretanto, a experiência de outros países, inclusive do Brasil, é que, após uma forte desvalorização e o fim dos impostos sobre exportações, a reação das exportações é rápida, com geração de substanciais superávits comerciais, aumento das reservas cambiais e valorização da moeda frente ao Dólar, com efeitos positivos sobre a inflação e o desemprego. De qualquer forma, a expectativa é que a situação piore antes de melhorar. A pergunta é se o novo governo vai ter apoio político e popular para sustentar estas políticas por tempo suficiente.