A divulgação da Ata do Fed (banco central norte-americano) voltou a trazer a possibilidade de alta de juros caso o processo desinflacionário não transcorra como o esperado e volte a sofrer interrupções. Após um período de maior otimismo com a inflação e com os dados de modo geral no final do ano passado, grande parte do mercado e o próprio Fed foram pegos de surpresa com o repique inflacionário que ocorreu no primeiro trimestre desse ano.
Com isso, não só a possibilidade de corte de juros, na época iminente, deixou de ser cogitada, como também o Fed voltou a cogitar novas altas da Fed Funds rate. A atividade econômica mais forte no período, além de contribuir para isso, contribuiu para uma revisão altista da taxa neutra de juros, o que também passou a sugerir que o aperto monetário empreendido pelo Fed não havia sido tão intenso quanto se pensava.
Em relação as expectativas de inflação, houve uma mudança relevante no posicionamento de um número considerável de dirigentes, com vários deles citando, pela primeira vez, o risco de desancoragem.
Antes, os diretores do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), ao afirmarem que as expectativas de inflação estavam ancoradas, faziam essa declaração olhando apenas para as expectativas de mercado (Survey of Professional Forecasters do Fed da Filadélfia), uma vez que as expectativas de inflação do consumidor (medidas pela Universidade de Michigan) estão desancoradas desde o período da eclosão da pandemia de covid-19.
Agora, a maior demora esperada para levar a inflação de volta para a meta de 2,0%, aliada com o fato de que a métrica de expectativa dos consumidores engloba uma percepção mais abrangente sobre a inflação futura, uma vez que leva em conta uma parcela mais ampla da sociedade norte-americana que não apenas os agentes do mercado financeiro, pode ter feito os membros do FOMC verem maior risco de desancoragem das expectativas.