Com a melhora recente dos dados de atividade, mercado de trabalho e inflação, o mercado passou a prever quedas de juros já em meados desse ano (março/24), uma precificação que segundo até mesmo alguns dirigentes do Banco Central norte-americano (Fed) parece exagerada.
A Ata referente a reunião de dezembro trouxe, conforme esperávamos, um viés mais “hawkish” justamente para frear o otimismo exacerbado do mercado, que havia contribuído para afrouxar as condições financeiras à revelia da vontade do Fed. Essa mensagem mais dura é evidenciada no trecho em que os membros do Fed, apesar de reconhecerem que a inflação permanece elevada e que a atividade deve desacelerar em 2024, defendem a manutenção dos juros no atual patamar (5,25-5,50% a.a.) por um período de tempo maior, numa postura que reforça o compromisso da autoridade monetária com a meta de inflação de 2,0%.
Durante boa parte do ano passado, as condições financeiras mais restritivas, muito por conta do movimento de escalada no rendimento das Treasuries, haviam contribuído para fazer parte do trabalho do Fed de combater a inflação sem que para isso a autoridade monetária tivesse que promover altas adicionais na taxa básica de juros (Fed Funds Rate).
Com uma comunicação mais conservadora na Ata de hoje, recomendando maior cautela na condução da política monetária e um período de estabilidade na taxa de juros mais longo do que vinha sendo precificado pelo mercado, o Fed busca recuperar o controle das expectativas do mercado através da comunicação, ação essa que só é possível pelo fato do Fed deter grande credibilidade perante os agentes econômicos, ainda que tenha cometido erros no período da pandemia de covid-19. Caso esse movimento do Fed tenha sucesso, a curva de juros voltaria a abrir, ocasionando perdas nos títulos norte-americanos marcados à mercado.