O próximo Copom (junho) será a decisão de juros mais importante tomada por essa nova diretoria até agora, e irá configurar uma sinalização importante acerca do viés (mais “dovish” ou mais “hawkish”) de seus integrantes.
Isso se dá pelo fato de a reunião de junho ser a primeira que irá transcorrer de forma totalmente independente ao arcabouço (“forward guidance” de 300 pontos base de alta de juros em dezembro) utilizado pela administração anterior para implementar parte do atual ciclo de aperto monetário.
Em vista da incerteza recorde no cenário internacional e as dúvidas quanto ao processo de desaceleração da atividade doméstica, o Copom optou na sua reunião de maio por deixar em aberto o próximo passo da política monetária, adotando uma postura dependente dos dados. Apesar disso, os sinais contidos na Comunicado e reforçados na Ata indicam que a barra para o Copom promover uma última alta de 25 bps na taxa de juros (Selic) está bem elevada, com o cenário mais provável sendo o de que o Banco Central já atingiu o patamar de Selic terminal (14,75% ao ano).
Embora a decisão de finalizar o ciclo de alta de juros em 14,75% a.a. ao invés de 15,00% a.a. possa vir a ser a mais acertada, os argumentos sobre os quais o Copom está se apoiando até agora para comunicar isso ao mercado podem contribuir para passar uma mensagem mais “dovish” e têm, em última instância, o potencial de transmitir uma imagem de possível leniência do Banco Central caso o próximo ciclo de afrouxamento monetário também se inicie mais cedo do que o esperado.
A mudança no balanço de riscos para a inflação de assimétrico para simétrico se deu com base na inclusão de uma premissa (“uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários”) que pode se tornar obsoleta rapidamente após o anúncio da desescalada das tensões comerciais entre os Estados Unidos e China no último final de semana.
Caso o preço das commodities interrompa a queda ou até mesmo volte a subir, a revisão de 0,8 pontos de porcentagem promovida pelo Copom na inflação de administrados (3,5%, ante 4,3%) para 2025 deixaria de fazer sentido. Outra decisão questionável foi o tratamento dado pela Ata a desaceleração da economia norte americana, que na visão do Comitê foi mais acentuada do que o esperado. Embora o número cheio do PIB dos EUA do 1º trimestre tenha vindo abaixo do esperado (-0,3% t/t vs. -0,2% t/t na métrica anualizada), a composição aponta para uma atividade ainda forte e uma demanda resiliente, ressalva essa que foi encampada também pelo FED (banco central norte americano).
Por conta dos fatores citados acima (peso excessivo dado a queda do preço das commodities e interpretação diferente da do FED em relação ao PIB dos EUA), seria melhor o Copom ter utilizado argumentos relacionados ao cenário interno, em detrimento ao externo, que vem sofrendo mudanças constantes, para embasar o encerramento do ciclo de alta de juros mais cedo em 14,75% a.a. que a Ata aparenta querer sinalizar. Isso contribuiria para passar uma mensagem mais “hawkish” num momento que a inflação corrente se encontra em aceleração na métrica em doze meses e as expectativas ainda impõem grandes desafios para a convergência da inflação à meta, além de reforçar a credibilidade da condução da política monetária por parte da nova diretoria.