Economia

Publicado em 23 de Setembro às 15:54:47

Ata reafirma tom cauteloso do BC, ainda que com sinais dovish

Na ata da 273ª reunião, o Copom reforçou o tom de cautela ao destacar um ambiente internacional adverso, com incertezas ligadas à condução da política monetária nos EUA, riscos fiscais em economias avançadas e avanço do protecionismo global. Esses fatores elevam a volatilidade dos mercados e exigem prudência por parte de economias emergentes, como o Brasil.

O Copom avaliou que a economia brasileira vem mostrando sinais de moderação no crescimento após a forte expansão do primeiro semestre. A política monetária contracionista já se reflete com mais intensidade nos setores cíclicos e no crédito, enquanto a agropecuária devolve parte dos ganhos expressivos observados em 2024 e início de 2025. Apesar disso, o Comitê reforçou que a desaceleração ocorre em linha com suas expectativas, sem revisão no diagnóstico de hiato do produto.

Ainda assim, a ata ressalta que a resiliência do mercado de trabalho e a política fiscal expansionista continuam sustentando a demanda doméstica. Esse suporte mantém a atividade em patamar elevado, mas dentro de um processo gradual de arrefecimento, que deve seguir ao longo dos próximos trimestres. Na visão do BC, esse equilíbrio entre a moderação cíclica e os estímulos remanescentes é compatível com o cenário de convergência da inflação à meta, ainda que o ritmo exato dessa desaceleração siga como ponto de monitoramento.

Apesar da ata reconhecer que a apreciação cambial recente ter contribuído para um quadro de inflação corrente mais benigno, o Copom destacou que tanto o índice cheio quanto as medidas subjacentes continuam acima da meta, com expectativas de 4,8% em 2025 e 4,3% em 2026. O diagnóstico reforça a necessidade de manter a Selic em 15,0% a.a. por um período prolongado para garantir a convergência da inflação. Cabe destacar

Em nossa avaliação, porém, a ata trouxe um net dovish em relação ao comunicado. Dois pontos merecem destaque: i) a menção explícita ao câmbio como canal de transmissão para a inflação; e ii) maior confiança no cenário base de atividade. No primeiro caso, a ata deu “mérito” à apreciação cambial na dinâmica mais benigna da inflação corrente e mencionou o monitoramento do repasse cambial aos preços, algo ausente nos comunicados anteriores. Essa mudança sugere abertura para ajustes na leitura do BC nas próximas reuniões.

No segundo ponto, o Comitê parece mais confiante de que a trajetória de desaceleração da atividade está em linha com suas expectativas, sem revisão no hiato do produto. Ainda assim, persiste a dúvida sobre se o ritmo atual de arrefecimento é suficiente para trazer a inflação de volta à meta, sobretudo diante do risco de novos impulsos fiscais em um ano eleitoral — fator pouco contemplado nas simulações oficiais.

A ata, portanto, mantém um tom duro, enfatizando a inflação acima da meta e a resiliência do mercado de trabalho, mas com nuances mais dovish do que o comunicado anterior. Reiteramos nossa projeção de manutenção da Selic em 15,0% até o fim de 2025, com início de flexibilização apenas no final do primeiro trimestre de 2026.

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