Após os ataques do Hamas contra Israel, os mercados financeiros globais reagiram com a cotação do barril de petróleo apresentando forte alta.
Há alguns meses atrás esperava-se que questões geopolíticas seriam as principais determinantes para a trajetória do preço do petróleo à frente. Havia a expectativa de que o Irã voltasse a ofertar mais barris de petróleo no mercado internacional após restabelecer as relações diplomáticas com a Arábia Saudita num acordo costurado pela China, o que ajudaria a compensar, ainda que parcialmente, o corte na produção por parte da Rússia e da própria Arábia Saudita, aliviando os preços do barril. Agora, com a possibilidade de que o Irã volte a sofrer sanções ocidentais, devendo retirar ainda mais barris do mercado internacional, os preços do petróleo devem se ver ainda mais pressionados pelo lado da oferta.
Esse choque no preço do petróleo num momento em que muitas das principais economias ainda estão lutando contra a inflação elevada pode reacender os riscos inflacionários, forçando a manutenção de políticas monetárias restritivas por ainda mais tempo. A economia norte-americana pode sofrer diretamente os impactos negativos desses desdobramentos. Por lá, choques nos preços dos combustíveis são rapidamente sentidos pelos consumidores em vista do repasse rápido e significativo. Além disso, a aprovação de um pacote de ajuda militar à Israel por parte dos Estados Unidos, em molde parecido ao que está sendo conferido à Ucrânia, pode contribuir para agravar ainda mais o déficit orçamentário do governo federal. Isso, por sua vez, pode foçar o Tesouro a emitir mais títulos para financiar os gastos do governo, pressionando ainda mais para cima os rendimentos das “Treasuries”.
Para o caso brasileiro, os impactos do conflito no Oriente Médio se restringem mais aos efeitos que a alta do petróleo terá sobre a inflação doméstica e sobre as receitas extraordinárias do governo. Sobre ambas as variáveis a Petrobras desempenha um papel central. Após a política de paridade de preços de importação (PPI) ter sido abolida em meados deste ano, não se sabe quando nem em que magnitude eventuais repasses da alta do preço do petróleo para a gasolina e o diesel ocorreriam. Adicionalmente, a partir do ano de 2021 os dividendos distribuídos pela Petrobras passaram a responder por uma parcela considerável da arrecadação do governo, de modo que, caso a petrolífera opte por distribuir mais dividendos por conta da elevação da cotação do petróleo, isso impactará positivamente o resultado das contas públicas.