Ao longo do dia de ontem, os bancos centrais americano e brasileiro anunciaram as suas decisões de taxa de juros. Apesar que a manutenção das taxas de juros em ambos os países fosse amplamente esperada pelos mercados, alguns pontos devem ser ressaltados.
Em primeiro lugar, o Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC) decidiu, unanimemente, manter a Fed Funds rate estável no intervalo entre 5,25% e 5,50% a.a., sinalizando que a manutenção da taxa de juros nesse patamar é condizente com o duplo mandato perseguido de estabilidade de preços e pleno emprego perseguido pela autarquia. Este resultado ficou em linha com o consenso do mercado.
Entretanto, avaliamos que alguns pontos do comunicado e da coletiva de imprensa que sucedeu a divulgação da decisão merecem destaque. Em primeiro lugar, o Comitê alterou a sua avaliação em relação ao mercado de trabalho e ao progresso do processo de desinflação, reconhecendo uma geração mais moderada de empregos e algum progresso adicional da inflação em direção à meta.
Além disso, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que o balanço de riscos em relação ao atingimento do duplo mandato do Fed está mais equilibrado, uma vez que as leituras de inflação mais benignas do segundo trimestre aumentaram a confiança de que a inflação convergirá para a meta sem provocar um movimento mais abrupto de alta na taxa de desemprego.
Nesse contexto, em se confirmando a continuidade de boas leituras de inflação, o presidente o Fed afirmou que estará sobre a mesa o início do ciclo de afrouxamento monetário já na próxima reunião em setembro.
Já em relação a decisão da taxa básica de juros no Brasil, o comunicado veio num teor muito mais “dovish” do que o esperado, visto que o mercado aguardava um posicionamento bem mais duro por parte da autoridade monetária em decorrência da deterioração recente do cenário, principalmente por conta da forte desvalorização cambial.
No tocante ao comunicado em si, as mudanças foram poucas em comparação ao documento de junho. Com isso, o Copom parece estar buscando ganhar tempo até setembro, momento em que o Fed deve começar a cortar juros, além de apostar numa melhora do cenário doméstico no período entre as reuniões. Independentemente disso, a principal mensagem que fica é que a Selic deve permanecer em 10,50% a.a. por um período de tempo prolongado, mas parece não haver clareza suficiente no cenário para o banco central sinalizar mais claramente os próximos passos.