Economia

Publicado em 22 de Abril às 08:45:36

Banco Central Europeu (BCE) não interrompe o ciclo de corte de juros em cenário de incerteza elevada

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu, na sua reunião de abril, por dar prosseguimento ao ciclo de afrouxamento monetário iniciado em junho do ano passado, chegando a 7 cortes desde então. As suas três taxas de juros de referência (depósitos, refinanciamento e empréstimos) foram reduzidas em 25 pontos base. A primeira saiu de 2,50% para 2,25%, a segunda de 2,65% para 2,40%, e a terceira de 2,90% para 2,65%.

Apesar do corte de 25 pontos base ter vindo de acordo com o esperado pelos analistas e ter se dado de forma unânime, a presidente do BCE, Christine Lagarde, revelou que os diretores chegaram a debater a possibilidade de um corte de maior magnitude (50 bps), o que surpreendeu alguns agentes dado que até bem recentemente os dirigentes de alguns bancos centrais do bloco cogitaram uma pausa temporária do ciclo de corte de juros nessa reunião de abril por conta do cenário global de incerteza recorde.

Apesar de a União Europeia (UE) ter oferecido zerar as suas tarifas de importação sobre os bens industriais provenientes dos EUA, mesmo assim o governo Trump sinalizou que as tarifas americanas sobre automóveis e metais não devem ser eliminadas completamente caso um acordo comercial seja alcançado. Um agravante adicional é que os países membros da UE estão expostos de maneiras e em intensidades diferentes aos EUA, o que pesa sobre os esforços do bloco europeu de responder de forma coordenada.

Esse impasse nas negociações com os EUA deixa aberto um amplo leque de opções de impactos possíveis sobre a economia da Zona do Euro. Se por um lado a redução do mercado para as exportações europeias pode pesar sobre o crescimento econômico, por outro a maior oferta doméstica dessas mercadorias pode contribuir para o processo de desinflação.

A cotação do euro também tem sido um ponto de destaque, após a moeda europeia acumular valorização de mais de 10% em relação ao dólar norte americano nesse ano. Com o status de “safe heaven” do dólar tendo sido ameaçado após a adoção de políticas comerciais mais radicais por parte do atual governo e com os ânimos dos investidores acerca da economia europeia melhorando após o anúncio recente do pacote fiscal alemão e da maior disposição a aumento dos gastos militares por vários países, a Zona do Euro acabou por atrair um grande volume de recursos, com a moeda apresentando valorização não só frente ao dólar como também em relação a libra esterlina e ao yuan chinês. Esse acabou por ser mais um motivo pelo qual o BCE optou por dar continuidade ao ciclo de corte de juros, justamente para não incitar um fortalecimento adicional do euro. Essa apreciação da moeda, somada a inflação bem-comportada nos últimos meses, permitiu com que o BCE mudasse o foco principal da política monetária para os receios crescentes com o crescimento econômico.

Já no tocante aos próximos passos da política monetária, foi reforçada a abordagem “data dependent”, com as decisões sendo tomadas reunião a reunião em face das incertezas econômicas que impõe riscos multifacetados para o cenário como um todo. Para a próxima reunião de junho não descartarmos uma nova redução de 25 pontos base, embora essa possa ser uma decisão arriscada pelo fato de a taxa real de juros já se encontrar em patamar negativo, além da probabilidade não desprezível de um repique inflacionário no médio prazo.

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