O Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre, divulgado ontem, reforçou a percepção de que o Banco Central seguirá adotando uma postura cautelosa na condução da política monetária. Apesar dos sinais de arrefecimento da atividade econômica — evidenciados por diversos indicadores antecedentes e setoriais — e de alguma moderação na inflação corrente nos últimos meses, o mercado de trabalho ainda aquecido e a desancoragem das expectativas de inflação impedem, por ora, o início de um ciclo de flexibilização monetária.
O documento destaca a nova mínima histórica da taxa de desemprego, que recuou para 5,7% no trimestre encerrado em julho. Indicadores como o saldo de empregos formais e os rendimentos reais seguem sugerindo um mercado de trabalho robusto, embora algumas métricas comecem a sinalizar uma leve perda de fôlego. O Banco Central reconhece que essa resiliência no emprego mantém o núcleo de serviços pressionado, tornando o processo de desinflação mais lento e exigindo prudência na condução da política monetária.
Chama atenção, ainda, o foco dos boxes temáticos do RPM na dinâmica do mercado de trabalho. Entre os estudos apresentados, destaca-se a análise sobre trocas de emprego e o prêmio salarial associado, cujos indicadores complementares corroboram o diagnóstico de aquecimento. Os dados apontam para uma mobilidade elevada da força de trabalho, tempo médio de busca por ocupação em patamar historicamente baixo e prêmios salariais elevados para quem muda de emprego — elementos típicos de um mercado de trabalho aquecido.
Quanto ao hiato do produto, as novas estimativas indicam que ele permanece positivo — em 0,7% no segundo trimestre e 0,5% no terceiro trimestre de 2025 —, nível ainda compatível com pressões inflacionárias. O Copom projeta uma trajetória de fechamento gradual ao longo dos próximos trimestres, com o hiato entrando em terreno negativo a partir de 2026, à medida que os efeitos defasados da política monetária restritiva se materializam. No entanto, como as projeções não incorporam os efeitos das recentes medidas fiscais, avaliamos que há viés altista para essas estimativas, dado o potencial de novos estímulos à demanda sustentarem a atividade e dificultarem a convergência da inflação.
Por fim, o Banco Central revisou suas projeções de inflação e alertou que, apesar da recente desaceleração dos preços ao consumidor, as expectativas seguem acima da meta de 3,0% no horizonte relevante. Segundo a pesquisa Focus, as medianas caíram para 4,83% em 2025, 4,30% em 2026 e 3,90% em 2027, refletindo algum progresso, mas ainda insuficiente para garantir a convergência plena da inflação. A autoridade monetária reforçou que a manutenção da Selic em 15,0% a.a. por um período prolongado é necessária para combater a inércia inflacionária e a persistência das pressões de demanda.