A trajetória de aumento dos juros dos títulos longos do governo americano e valorização do Dólar tanto frente a moedas fortes quanto frente a moedas de países emergentes e exportadores de commodities, começa a preocupar os investidores e os gestores da política monetária nestes países. No caso do Brasil, como dissemos no comentário de ontem, as taxas de juros dos títulos com vencimento em 2029 voltaram para níveis superiores a 11,00% ao ano, ao mesmo tempo em que a taxa de câmbio voltou a se aproximar do nível de R$ 5,15 por US$ 1,00 ontem, o que significa uma desvalorização de aproximadamente 10% desde o início de agosto de 2023. E o mais importante é que este movimento parece longe de ter terminado. Isto porque este comportamento deverá prevalecer pelo menos até que o Federal Reserve, o banco central americano, sinalize com clareza que o processo de aperto da política monetária no país, ou seja, de aumento das taxas de juros, tenha chegado ao fim.
Este comportamento dos juros futuros e do câmbio, diminui o espaço para a continuidade deste processo de queda dos juros, na medida em que o diferencial da taxa de juros entre Brasil e Estados Unidos está se reduzindo mais rapidamente que o esperado anteriormente, o que pode gerar fuga de recursos do Brasil e desvalorização cambial ainda mais rápida. O resultado é um aumento do limite inferior da queda da SELIC no atual ciclo. O segundo ponto importante é o efeito direto da desvalorização cambial sobre a taxa de inflação no Brasil, seja via aumento dos preços de produtos exportados (alimentos, petróleo, por exemplo), seja devido ao aumento dos preços de bens importados. O cenário fica ainda mais difícil devido ao aumento do preço do petróleo, em dólares, decorrente da redução de oferta da Rússia e da Arábia Saudita. Diante deste cenário, os analistas começam a projetar que o final do atual ciclo deverá ser interrompido antes de a SELIC atingir um dígito.