Uma semana cheia de dados e com algumas surpresas que fizeram preço nos mercados financeiros. Os dados do mercado de trabalho (PNADC e CAGED) continuaram positivos, com queda da taxa de desemprego para 7,9% da força de trabalho e geração de 142,702 mil vagas formais de trabalho (expectativas de 137,689 mil).
Ao mesmo tempo, o IBGE divulgou a taxa de crescimento do PIB no segundo trimestre de 2023, que surpreendeu positivamente, com crescimento de 0,9% em relação ao primeiro trimestre, contra expectativas de crescimento de 0,3% por parte dos analistas e estimativa de 0,2% pelo Monitor do PI|B da FGV. Em relação ao segundo trimestre de 2022 o PIB cresceu 3,4%.
As principais surpresas foram o consumo das famílias (0,9%), o desempenho acima do esperado da agropecuária (- 0,9%) apesar da base elevada de comparação devido ao forte crescimento do primeiro trimestre e o consumo do governo. Do lado negativo, a Formação Bruta de Capital Fixo ficou praticamente estável (0,1), o mesmo ocorrendo com a taxa de investimento (17,2% do PIB), após três trimestres seguidos de queda, sinalizando fraco crescimento no longo prazo.
Por outro lado, o déficit primário do setor público veio acima do esperado, – R$ 35,809 bilhões (expectativas de – R$ 30,850 bilhões). Com isto, a relação dívida líquida/PIB passou de 51,1% para 59,6% e a dívida bruta atingiu 74,1% do PIB no mês de julho (73,3% em junho). Este dado gerou sérias dúvidas quanto à capacidade do governo de atingir a meta de déficit zero em 2024 e desencadeou um movimento dentro do governo, capitaneado pelo Ministro da Casa Civil, Rui Costa, e secundado pela Ministra do Planejamento, Simone Tebet, pela Ministra da Gestão, Esther Dweck e pela Presidente do PT, Gleisi Hoffman, no sentido de mudar a meta para um déficit de entre – 0,5 e – 0,75% do PIB no próximo ano, para evitar contingenciamento em ano eleitoral. O Ministro Fernando Haddad se posicionou contra e, pelo menos desta vez, saiu vencedor.
De qualquer forma, o movimento gerou forte desconfiança entre os investidores quanto à efetiva disposição do governo de atingir equilíbrio fiscal em 2024, e resultou em forte desvalorização do Real frente ao Dólar (no mês de agosto o Real desvalorizou 4,69%), queda dos preços das ações (- 5,09% em agosto) e aumento das taxas de juros longas. Em outras palavras, o cenário fiscal deverá voltar a ser o protagonista para os investidores nos próximos meses.