O comportamento dos ativos financeiros no Brasil e no mundo continuam refletindo a decisão do Federal Reserve (Fed) de manter a taxa básica de juros da economia americana constante entre 5,25% e 5,50% ao ano e, ao mesmo tempo, pelas estimativas de 12 diretores do Fed de que a taxa básica de juros deverá ter pelo menos mais um aumento de 0,25 pontos de porcentagem até o final de 2023, deverá permanecer em nível elevado por um período de tempo mais longo que o esperado pelos investidores e pelas declarações do presidente da distrital do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, de que existe um risco de que os juros no Estados Unidos tenham de subir mais 0,25 pontos de porcentagem ou até um pouco mais. Em especial, o Dólar mostrou forte valorização tanto em relação a seus pares quanto em relação a moedas de países emergentes e as taxas de juros dos títulos mais longos do governo americano mantiveram tendência de elevação.
O efeito sobre o Real foi particularmente forte. De um lado, a expectativa de mais aumento da taxa de juros e permanência da taxa em níveis mais elevados por um período mais longo, reduz a capacidade do Banco Central do Brasil de reduzir a taxa SELIC, na medida em que diminui o diferencial de juros esperado entre os dois países e, portanto, a atratividade dos ativos financeiros brasileiros para os investidores internacionais. Por outro lado, além do fato de existir um consenso entre os investidores de que o arcabouço fiscal não será capaz de estabilizar a relação dívida pública/PIB em um horizonte razoável, começa a surgir dentro do próprio governo resistências em relação ao cumprimento da meta de equilíbrio fiscal em 2024. Vários ministros já se manifestaram privadamente sobre a impossibilidade de se atingir este objetivo, sem um sério contingenciamento de despesas, o que é considerado negativo em um ano eleitoral. Este movimento começa a gerar dúvidas entre os investidores quanto à manutenção das metas fiscais nos próximos anos. A nosso ver, foi exatamente este movimento dentro do governo que levou o Copom a destacar um parágrafo para explicitar que a manutenção da trajetória de queda da SELIC exige que o governo continue perseguindo o equilíbrio fiscal.
A combinação de um cenário externo desafiador e dúvidas quanto a se o governo vai manter as metas fiscais para os próximos quatro anos, fez com que o Real voltasse a furar o nível de R$ 5,00 por US$ 1,00, fechando o dia acima deste nível que não era alcançado desde o início de junho de 2023.