A semana passada foi dominada pela decisão do Copom de reduzir a taxa SELIC em 0,25 pontos de porcentagem, desrespeitando o forward guidance da reunião anterior, que indicava uma redução de 0,5 p.p., mas referendando declarações do Presidente do Banco Central de que, devido ao aumento da incerteza entre as reuniões, uma redução de 0,25 p.p. poderia ser mais adequado.
Entretanto, o que gerou apreensão entre os investidores foi o placar dividido, 5 a 4 a favor de 0,25 p.p., com o voto de desempate dado pelo Presidente, Roberto Campos Neto, sendo os quatro votos a favor de uma redução de 0,5 p.p. dados por membros indicados pelo atual governo, o que foi interpretado como uma antecipação de uma política monetária mais expansionista a partir do final de 2024, quando a composição do Comitê terá maioria de membros indicados pela atual administração.
O comunicado foi, a nosso ver, bastante duro, indicando que o ambiente externo permanece adverso, as incertezas aumentaram e que, no cenário interno, a atividade econômica e o mercado de trabalho estão se mostrando mais resilientes que o esperado, as expectativas para a inflação passaram de “parcialmente ancoradas” para “desancoradas” e, apesar de não mencionarem explicitamente as mudanças das metas fiscais anunciadas pelo governo, o comunicado reforçou a importância das metas fiscais para a ancoragem das expectativas e, portanto, para a trajetória da política monetária.
Apesar da divisão dos votos, o comunicado foi aprovado de forma unânime pelos diretores, deixando para a Ata o trabalho de explicitar a origem da dissidência. O comportamento das expectativas para a inflação deverá ser o ponto de atenção dos investidores a partir de agora. A pesquisa Focus de hoje já deverá dar algum sinal nesta direção.