Apesar de ter fechado o ano em 4,62%, dentro do limite superior do intervalo de metas (4,75%) e muito abaixo das expectativas que vigoravam no início de 2023 que apontavam para um IPCA mais parecido com o de 2022 (5,79%), o momento da inflação nessa virada de ano agora não é dos melhores, com a inflação de alimentos e de algumas aberturas de serviços voltando a subir e ameaçando interromper o processo de desinflação.
O preço dos serviços voltando a ficar pressionado antes que o processo de desinflação se concretize evidencia um risco que nós esperávamos que se materializasse apenas em 2024, mas que já pôde ser observado no final de 2023. Com o vigor elevado do consumo das famílias e com a queda forte tanto da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) como da taxa de investimento, criou-se as condições para que pressões de demanda não encontrem respaldo na capacidade da economia brasileira expandir a sua oferta agregada, o que, em última instância, deve resultar em uma pressão altista sobre a taxa de inflação.
Em termos da inflação de alimentos, desde a divulgação do Índice Geral de Preços (IGP-M) de novembro que já pôde ser observada uma tendência de reversão da trajetória mais positiva dos preços, que agora em dezembro já alcançou o IPCA, com o grupo de alimentação e bebidas respondendo por 0,23 p.p. da alta do índice cheio de 0,56% m/m.
Nos Estados Unidos, o vetor deflacionário advindo dos preços de energia, sobretudo da gasolina, no mês de novembro não se repetiu em dezembro, não agindo para contrabalancear a alta dos aluguéis. Esse fato ajuda a evidenciar o risco altista sobre a inflação que a volatilidade do preço das commodities energéticas ainda representa. Para 2024 esperamos uma reversão do quadro benéfico dos itens voláteis (energia e alimentos). Em 2023, ambos os grupos apresentaram comportamento muito favorável, com o petróleo fechando o ano com queda próxima a 10%.
Por fim, em termos do impacto sobre a política monetária, os dados de inflação de dezembro colaboram para tornar muito mais difícil a aceleração do ritmo de corte de juros de 50 para 75 pontos-base no Brasil e, no caso dos Estados Unidos, devem levar o mercado a rever o início do processo de afrouxamento monetário do final do primeiro trimestre (mar/24) para algo mais próximo da metade do ano (jun/24).